INEM entrega 36 ambulâncias em cerimónia com direito a hino e a bispo

Dos novos veículos, 25 destinam-se a novos postos de emergência médica, sobretudo no interior do país. Reforço de meios do INEM em 2015 vai ultrapassar os 20 milhões de euros.

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Ministro da Saúde na cerimónia de entrega das novas ambulâncias Rui Gaudêncio

Os turistas que nesta terça-feira passeavam por Lisboa detiveram-se pouco tempo no imponente Padrão dos Descobrimentos e rapidamente desviaram as objectivas para a inédita atracção estacionada mesmo ao lado. Em linha, junto ao rio, uma verdadeira mancha amarela foi o centro das atenções. São as 36 novas ambulâncias que vieram reforçar o dispositivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e que foram entregues a corporações de bombeiros de todo o país numa cerimónia que decorreu à beira rio, com cadeiras ao ar livre e com direito até à presença do bispo auxiliar de Lisboa para uma bênção dos novos veículos. O investimento de 2015 em todo o dispositivo do INEM é de 22 milhões de euros, sendo 1,9 milhões para as ambulâncias agora entregues ao som do hino nacional.

Os discursos foram feitos debaixo de uma tenda, mas o sol encandeava quem estava a assistir e, por isso, uma grande parte dos presentes improvisavam com papéis ou com as próprias mãos umas palas que permitissem seguir o momento. Outros, fardados, aproveitavam a única vantagem dos fatos quentes: os chapéus. Só o vento aliviava o calor abrasador, que levou alguns a brincarem sobre uma eventual necessidade de pedir ajuda ao INEM. O presidente do instituto, o major médico Paulo Amado de Campos, descreveu o dia como “importante para o INEM, mas histórico para o nosso país”. 

No total, o INEM entregou aos parceiros 36 ambulâncias, 25 das quais designadas como Postos de Emergência Médica (PEM) e que se destinam maioritariamente ao interior do país. As outras 11 vão reforçar alguns PEM já existentes mas que precisavam de novo equipamento. Em causa estão zonas como Vila Nova de Cerveira (Viana do Castelo), St.ª Marta do Penaguião (Vila Real), Tarouca (Viseu), Vila de Rei (Castelo Branco), São Brás de Alportel (Faro) ou Sobral de Monte Agraço (Lisboa). Segundo Paulo Campos, de fora ficam apenas 21 municípios para que todos contem com este tipo de postos.

Os PEM são ambulâncias de socorro do INEM, mas que estão sediadas em corporações de bombeiros e estão equipadas para estabilizar e transportar os doentes, com a tripulação formada para aplicar medidas de suporte básico de vida ou mesmo desfibrilhação automática externa. As chaves dos veículos, com um porta-chaves com o boneco que é símbolo do INEM, foram entregues uma a uma às corporações pelo próprio ministro da Saúde, Paulo Macedo, sempre acompanhado de perto pelo bispo auxiliar Nuno Brás. O processo acabou por demorar, com as corporações a aproveitarem para tirar selfies ou fotos com a tutela.

O ministro da Saúde considerou que “este é um momento importante a vários títulos, desde logo porque passam a existir mais um conjunto de PEM em 25 concelhos que não os tinham até aqui”. Paulo Macedo sublinhou também que “em tempo de grandes restrições conseguimos fazer o maior investimento em emergência médica dos últimos dez anos”. “Ultrapassamos os 300 PEM no país e neste ano conseguimos ainda antecipar alguns investimentos que estavam para 2017 e rapidamente vamos conseguir cobrir todos os concelhos do país com pelo menos um PEM”, acrescentou o ministro, em referência aos 21 postos que ainda faltam.

No entanto, Macedo recordou que além dos 300 PEM, o país tem ainda “50 ambulâncias nos principais eixos do país” e ainda outros veículos como as ambulâncias SIV (Suporte Imediato de Vida) ou VMER (Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação), e ainda motociclos. Também Paulo Amado de Campos destacou que Portugal tinha 183 destes postos há dez anos e 226 há cinco anos.

Já o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, congratulou-se com o reforço e com o reconhecimento do papel dos bombeiros e, depois de vários elogios a Paulo Macedo e de um pedido de desculpas pelo que ia dizer, aproveitou a festa para apelar a que o Governo recue numa medida que está a colocar em causa o apoio às populações. Marta Soares referia-se ao facto de os Veículos Dedicados ao Transporte de Doentes, que fazem parte do novo regulamento de transporte de doentes, terem de pagar o imposto automóvel – o que cria dificuldades financeiras. Aos jornalistas, Paulo Macedo comprometeu-se em procurar soluções, mas não garantiu que o desfecho passe pela isenção do imposto.

Conclusões das inspecções dentro de duas semanas

De fora da cerimónia estiveram as polémicas em torno do presidente do INEM, por alegadas irregularidades na utilização dos meios, nomeadamente para favorecer o transporte da sua mulher, também enfermeira neste instituto. O assunto motivou a abertura de alguns processos por parte da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS). Já à margem do evento, questionado pelos jornalistas, Paulo Macedo começou por insistiu que o dia era dedicado à entrega de meios, mas acabou por adiantar que a IGAS já concluiu a sua parte e que agora “o Ministério da Saúde espera pronunciar-se nos prazos legais, dentro das próximas duas semanas”.

O ministro escusou-se a adiantar as conclusões, referindo apenas que “a IGAS faz propostas” e que falta agora a resposta da tutela. Em causa estão três processos, um dos quais de sindicância pedido pelo próprio major médico. O outro diz respeito ao suposto desvio de uma ambulância que tinha como destino um doente prioritário, mas que terá ido primeiro levar a mulher de Paulo Campos, que estava escalada no Hospital de Gaia. Por fim, a inspecção averiguou o caso de um transporte de helicóptero, em que o presidente do INEM terá tido intervenção directa para a mudança do doente do Hospital de Cascais para o Hospital de Abrantes – sem que as unidades o solicitassem.

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