Obama defende "mais espaço para os jornalistas e a oposição" na Etiópia

Ambiente bem menos efusivo na chegada do Presidente norte-americano a Addis Abeba, depois da visita ao Quénia. Segurança e direitos humanos estão na agenda de Obama.

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Obama na conferência de imprensa com o primeiro-ministro, Hailemariam Desalegn Jonathan Ernst/Reuters

Barack Obama tornou-se no primeiro Presidente dos Estados Unidos em funções a visitar a Etiópia. Depois de dois dias de euforia no Quénia, chegou a Addis Abeba para uma série de encontros com o primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn, num clima bem mais comedido. Isto porque, para além da natureza de alguns dos temas em debate – segurança, combate ao terrorismo e direitos humanos – são várias as acusações e críticas contra actuações “pouco democrática” por parte Governo da Etiópia.

São muitos os desafios que Barack Obama terá pela frente nestes dois dias em solo etíope. Tal como na visita ao vizinho Quénia, o principal desígnio da presença do Presidente norte-americano na Etiópia é o reforço da cooperação económica entre os dois países. Um pilar diplomático importante, tendo em conta que, em 2009, a China ultrapassou os EUA e é, actualmente, o maior parceiro económico de África.

Tal como deixou claro em Nairobi, Obama está a valer-se deste roteiro pela África de Leste para enfatizar o seu posicionamento contra a corrupção e os vários tipos de descriminação que existem na região. Nesse espírito, a visita da sua comitiva à Etiópia traz consigo outras motivações, que não as estritamente económicas, carregadas de maior simbolismo, principalmente o reforço da cooperação no combate ao terrorismo e ao grupo islamista somali Shabab, e a busca de uma resolução para o conflito no Sudão do Sul, uma das primeiras bandeiras da política externa da Administração Obama para África.

Para além de ser o primeiro chefe de Estado norte-americano em funções a visitar a Etiópia, Barack Obama fará história por outros motivos. Na terça-feira, irá discursar perante os membros da União Africana, a organização continental onde estão representados 54 países do continente, liderada por Robert Mugabe. Diz o jornal britânico The Guardian que o também Presidente do Zimbabwe não marcará presença no evento.

Durante uma conferência de imprensa, esta segunda-feira, em Addis Abeba, capital da Etiópia, Obama apareceu lado a lado com Hailemariam Desalegn, o primeiro-ministro etíope, e falou sobre os temas que farão parte do debate, desde a economia ao terrorismo. Depois, congratulou o “desenvolvimento recorde” conseguido pelo país, que retirou “milhões de pessoas da pobreza nos últimos 15 anos”. Enalteceu ainda o trabalho recente do actual Governo, nomeadamente o papel activo no crescimento económico – o Banco Mundial diz que a Etiópia registou um crescimento anual de 10%, nos últimos cinco anos.

Face às perguntas dos jornalistas sobre as restrições do Governo à liberdade de expressão no país, Obama foi diplomático e, após dizer que iria debater esse e outros assuntos com Desalegn, confessou ter confiança no Governo eleito, cujo partido (Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope - EPRDF) está no poder há cerca de 25 anos.

“O partido do Governo tem uma abrangência e popularidade significativas (…) [para] abrir espaço adicional para os jornalistas, os media ou as vozes da oposição reforçarem, em vez de inibirem, a agenda que o primeiro-ministro e o partido no poder apresentaram”, disse o Presidente norte-americano, citado pela agência Reuters.

Ora são precisamente as acusações, por parte de ONG de direito humanos, como a Amnistia Internacional ou a Human Rigths Watch, de práticas pouco democráticas do actual Governo, que activistas e não só, esperam ver levantadas e debatidas por Obama.

As eleições de Maio de 2015, que resultaram na atribuição da totalidade dos lugares do parlamento etíope ao EPRDF e à sua coligação, levantaram suspeitas destas organizações sobre uma possível fraude na contagem dos votos

“Não queremos que esta visita [de Obama] seja utilizada para sanear uma administração que é conhecida por violar direitos humanos”, disse Abdullahi Halakhe, da Amnistia, citado pela televisão britânica BBC, sugerindo que a presença do Presidente norte-americano na Etiópia poderá ser vista como uma espécie de legitimação das práticas do Governo de Desalegn. 
 Texto editado por Sofia Lorena

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