“Faltou-me uma experiência no Hemisfério Sul”

Gonçalo Malheiro “pendurou as chuteiras” aos 37 anos, mas garante que estar ligado ao râguebi continua a estar nos seus planos

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João Peleteiro

Fez grande parte da sua carreira no Porto, onde nasceu, com a camisola do CDUP, mas foi em Lisboa e no Direito, para onde se transferiu na época 2009-10 que concluiu a carreira e somou as maiores conquistas. Com 43 jogos internacionalizações, três convites para os Barbarians e uma participação no Mundial 2007, Gonçalo Malheiro conta com um currículo vasto e digno de referência. Numa altura de balanços, o antigo abertura admite que gostava de ter jogado no Hemisfério Sul. Quanto ao futuro, apesar dos “compromissos profissionais acrescidos”, Malheiro garante que “estar ligado ao râguebi está sempre” nos seus “planos”.

 

O que é que lhe faltou fazer na carreira?

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Pergunta difícil… Depois de jogar um Mundial, de ter ganho o Campeonato da Europa, de ter jogado pelo Barbarians, de ter vencido todos os títulos nacionais, de ter experimentado o profissionalismo, poderia dizer que pouco faltou para ter uma carreira bastante completa. Mas como jogador ambicioso, nunca estamos contentes com o conquistado e queremos sempre mais. Talvez me tenha faltado uma experiência no Hemisfério Sul. Quem sabe não aconteça noutras funções.

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Como foi a experiência em Espanha?

Joguei em Madrid um ano, como profissional. Foi uma experiência muita positiva, apesar de a equipa ser apenas semiprofissional, com apenas alguns jogadores 100% profissionais. Tive algumas oportunidades de experimentar outro tipo de comprometimento profissional em França, mas foi em alturas da minha vida em que a opção foi ficar em Portugal.

 

Qual foi o jogo que mais o marcou?

Vários. A conquista do Campeonato da Europa de 2004 contra a Rússia, em Taveiro, o jogo contra o All Blacks no Mundial 2007, a conquista da Taça de Portugal pelo CDUP onde era treinador/jogador, a Taça Ibérica ganha contra o VRAC pelo Direito e o último jogo da carreira com a conquista do quarto campeonato nacional, também pelo Direito.

 

A decisão de deixar a selecção não foi demasiado precoce?

Penso que não. Após 10 anos de selecção “A”, de muitos sacrifícios e centenas de viagens Porto-Lisboa-Porto, a decisão foi acertada. Tive que dar prioridade à minha vida profissional e iniciar uma carreira que seguramente durará mais anos do que a carreira de jogador. Não nego que houve alturas em que tive vontade de voltar e, quando fui viver para Lisboa, poderia ter acontecido, mas, por razões profissionais, o meu nível de comprometimento não era possível ao exigido pela selecção.

 

Que atributos são necessários para fazer bem a posição “10”?

Um bom abertura têm de ser obrigatoriamente um bom líder, dentro e fora do campo, e um excelente comunicador. Não pode ter medo de falhar e passar confiança a 100% à equipa. Tecnicamente há vários tipos de aberturas que poderão ter características muito diferentes e ser excelentes jogadores. Para mim, tem que ter um bom jogo posicional em campo, que permita organizar a equipa no ataque, e um jogo ao pé inteligente. Essas são características fundamentais, que, aliadas à "magia" na altura certa, podem fazer o abertura ideal.

 

A que se devem os maus resultados recentes das selecções nacionais?

Esse é uma pergunta que poderia dar uma resposta com várias teorias. Prefiro olhar para o passado recente, pensando no futuro a médio prazo. Sendo um ex-internacional, parece-me demasiado deselegante a crítica fácil sem qualquer contributo para melhorias. Acho que Portugal deve pensar no que correu menos bem nos últimos oito anos, onde vivemos uma crise de resultados, e programar o futuro, não repetindo os erros do passado, tendo uma plano perfeitamente definido a vários anos, com um objectivos comuns. Infelizmente todas as equipas vivem de resultados e Portugal não foge à regra. Compete aos dirigentes programar o melhor possível, apostando na competência dos líderes, para tirar o máximo partido da qualidade dos jogadores, colectiva e individualmente. Se tudo estiver em sintonia, com um objectivo comum, não tenho dúvidas que os resultados irão aparecer.

 

O que é que é preciso fazer para recuperar o espírito que havia na selecção de 2007?

Planear. O espírito não se cria de um minuto para o outro: conquista-se. Conforme já referi, têm de haver uma organização a médio prazo, que comprometa todos os envolvidos, não perdendo o nosso espírito lusitano e a nossa maneira de ser. Uma das melhores coisas que tiramos do Mundial foi a sua preparação: foram cerca de quatro/cinco anos de um objectivo comum e de um compromisso de uns com os outros. Aí foi criado o espirito.

 

Voltar a ser treinador está nos seus planos?

Estar ligado ao râguebi está sempre nos meus planos. Gostava muito de voltar a dar treinos, pois é uma actividade que me dá imenso gozo. Num futuro próximo o meu nível de comprometimento não pode ser a 100%, devido a compromissos profissionais acrescidos de um MBA que começo em Setembro, mas estarei sempre disponível para ajudar.

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