Cinema mexicano anti-cinema mexicano

É vivo, divertido e inteligente, e é o absoluto negativo da imagem de “exportação” que o cinema mexicano adquiriu recentemente

Foto
Clivagens na paisagem física e na paisagem social: Güeros

Embora Gael Garcia Bernal (que produz o filme de Ruiz Palácios) não seja nada estranho ao sucesso internacional do cinema mexicano nas últimas décadas, há qualquer coisa em Güeros, quanto mais não seja pela ironia (que até menciona o próprio “cinema mexicano”) e pela maneira como se fecha dentro da Cidade do México, que parece uma reacção, não especialmente bem intencionada (isto é: maliciosa), aos filmes dos Iñarritus, Reygadas, Cuaróns e outros que tais. A bem dizer, este é mesmo outro cinema mexicano, sem espalhafato exibicionista nem construções “conceptuais” para encher o olho – antes um cinema próximo da vida e das ruas, como os primeiros Truffauts e os primeiros Godards, que se diriam citados em Güeros por algo mais do que apenas o preto e branco da fotografia.

Nada disto impede uma ambiguidade essencial no olhar sobre o jovem grupo de protagonistas (os güeros, termo pejorativo para os mexicanos “brancos” de classe média alta), e na relações dele com uma Cidade do México, dada quase em road movie, cheia de clivagens na paisagem física e na paisagem social. É vivo, divertido e inteligente, e de facto é o absoluto negativo da imagem de “exportação” que o cinema mexicano adquiriu recentemente, antes um parente do Fernando Eimbcke de Temporada de Patos, que por cá estreou mais ou menos discretamente há uma dezena de anos.

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