Concorrentes à privatização da CP Carga dizem que bitola não é um problema

Atena, Cofihold e MSC consideram que o mercado da CP Carga é a Península Ibérica, pelo que mudar a bitola das linhas férreas não é uma prioridade.

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Venda da CP Carga será anunciada na quinta-feira Adriano Miranda

“A questão da bitola, embora muito debatida, não é neste momento o factor crítico de sucesso para a ferrovia”. Esta é a posição oficial da Cofihold, o consórcio que tem accionistas comuns à Cofina, Altri e F. Ramada e que pretende comprar a CP Carga.

Num documento enviado ao PÚBLICO em que aceita apenas comentar o problema da bitola (distância entre carris) para o seu modelo de negócio – escusando-se a apresentar o seu projecto –, este consórcio diz que “existindo a mesma bitola na Península Ibérica, constatamos que o transporte ferroviário não foi capaz de se impor neste espaço por várias razões, nomeadamente competitividade, flexibilidade e estabilidade”. Daí que considerem mais importante vencer outro tipo de bloqueios, que passam pela harmonização de sistemas de sinalização e alimentação eléctrica e pela possibilidade de se efectuar comboios de mercadorias de maior dimensão.

Da Cofihold, para além do grupo de comunicação social que detém publicações como o Correio da Manhã, faz parte a Altri que já é hoje uma importante cliente da CP Carga e da Takargo (empresa do grupo Mota Engil) no transporte de madeira e de pasta de papel. Já a F. Ramada é uma empresa industrial com necessidades de transporte de aço.

Um tipo de transporte diferente faz a MSC (Mediterranean Shipping Company) que em Portugal transporta contentores do porto de Sines e de Setúbal para Bobadela e Entroncamento, sendo um dos mais importantes clientes da CP Carga.

Carlos Vasconcelos, administrador, diz que “a bitola não é um problema porque concebemos um operador ferroviário para transportar na Península Ibérica” onde a bitola nas duas redes é igual. “Mas mesmo operando fora da Península, podemos fazer transbordo da carga que é uma coisa que estamos a habituados a fazer nos navios”, diz este responsável para quem a mudança de bitola – insistentemente defendida pelo governo nos últimos quatro anos – “é um falsa questão e não é um investimento prioritário”.

Se ficar com a CP Carga, a MSC pretende transformar essa empresa num operador de dimensão ibérica, assente no transporte de contentores entre os portos de Portugal e Espanha. Carlos Vasconcelos diz que o mercado pode crescer imenso na carga contentorizada e que esta será a alavanca do negócio, sem, contudo, descurar os outros transportes que a CP Carga hoje assegura.

Esta multinacional já tem quase concluído o processo para se tornar um operador ferroviário em Portugal. “Se não ganharmos a CP Carga e se esta for um problema para a MSC, nós transformamo-nos num operador”, diz o gestor.

Sem experiência no negócio está a Atena Equity Partner, um fundo de investimento detido pelos empresários João Santos, Miguel Lencastre e Vítor Guégués. Mas é precisamente na independência financeira e na sua autonomia que este concorrente vê os elementos diferenciadores da sua proposta.

“Somos uma sociedade de capital de risco regulada pela CMCV, temos capacidade de decisão completa, independente e autónoma, e não dependemos de quaisquer instituições financeiras nem do governo”, diz João Santos.

No seu plano estratégico, a Atena aposta igualmente na internacionalização, mas diz que também não descura as rotas históricas da CP Carga. “Não cortamos rotas e isso tem impacto no plano laboral”, diz João Santos, acenando aos sindicatos. E quanto à experiência do ramo, acena com o nome de José Benoliel, conselheiro do projecto e ex-presidente da CP e da CP Carga.

João Santos diz ainda que a Atena tem uma rede muito forte de contactos internacionais e que a sua capacidade de capitalização “é muito forte”, prometendo na CP Carga, para além da compra das acções, um investimento de médio e longo prazo que poderá ascender aos 40 milhões de euros.

Quanto à bitola, afina pela mesma dos seus concorrentes: a distância entre carris que existe em Portugal e Espanha não é um problema.

Sindicatos contra privatização
A MSC foi o único concorrente que reuniu com os sindicatos ferroviários. Abílio de Carvalho, da Federação dos Sindicatos Ferroviários, diz que está contra a privatização da CP Carga, mas que ficou “um bocadinho descansado” quando soube que esta empresa candidata à compra respeitaria o Acordo de Empresa e não previa fazer despedimentos.

“Como eles são dos mais importantes clientes da CP Carga, a nossa preocupação foi saber se eles descartavam outros clientes. Disseram-nos que não.” Daí que este sindicalista considere que “para os trabalhadores, este será o menos pior” dos potenciais compradores.

Miguel Medeiros, do Sindicato dos Maquinistas, que esteve na mesma reunião, disse que a MSC prometeu – caso ganhe o concurso – tornar a CP Carga solvente, garantir os postos de trabalho e ter “relações de trabalho mais modernas”. Mostrou-se também disponível para distribuir lucros pelos trabalhadores.

O sindicalista recorda, contudo, que o SMAQ é contra a privatização. “Mas não somos capazes de impedir o desmantelamento do caminho-de-ferro naquilo que era uma gestão integrada”.

O Governo diz que a decisão sobre quem ficará com a CP Carga será anunciada no próximo dia 23 de Julho.

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