O íman do campeonato turco atrai cada vez mais estrelas europeias

Quaresma chegou a Istambul, para assinar pelo Besiktas. Na cidade já vivem figuras como Van Persie, Nani ou Podolski. Mudança dos regulamentos e sistema fiscal ajudam a explicar fenómeno.

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Van Persie teve uma recepção apoteótica no Fenerbahçe Ozan Kose/AFP

Foi uma recepção apoteótica aquela a que Ricardo Quaresma teve direito nesta terça-feira, no aeroporto, à chegada a Istambul. Depois de cumprir os habituais exames médicos, o internacional português vai assinar contrato com o Besiktas, concretizando o regresso a um clube que representou entre 2010 e 2012. O extremo de 31 anos é mais uma grande figura do futebol a engrossar nesta época a Liga da Turquia, que tem mostrado cada vez mais capacidade de atracção junto dos campeonatos mais reputados da Europa.

A saída de Quaresma do FC Porto era já um dado adquirido e nesta terça-feira o jogador confirmou o cenário, através de uma mensagem de despedida nas redes sociais, em que agradece o apoio dos adeptos e do presidente dos “dragões”. “Durante este tempo em que estive no Porto, quando já alguns pensavam que eu estava acabado, tive a alegria de dar o meu melhor, trabalhar ao máximo e ajudar o clube o melhor que soube e pude, dentro e fora de campo”, vincou.

Agora, o extremo protagoniza mais um regresso a casa, tal como acontecera no Dragão. E a reputação de Quaresma continua intacta em Istambul, nomeadamente junto dos fervorosos adeptos do clube. “Olá Besiktas, eu estou aqui”, afirmou o novo reforço, em turco, através de um pequeno vídeo.

Se chegar a acordo com a direcção do clube para fechar os pormenores do contrato, Quaresma será a grande figura deste defeso para o Besiktas, até à data, mas a verdade é que a concorrência directa se tem apetrechado em força. No Fenerbahçe, Robin Van Persie e Nani são os dois “tubarões” que o segundo classificado do campeonato da Turquia conseguiu pescar no Manchester United, para além de ter assegurado o central dinamarquês Simon Kjaer. Já o campeão em título, o Galatasaray, contratou Lukas Podolski ao Arsenal.

Se juntarmos a estes primeiros reforços outros pesos-pesados que já faziam parte dos plantéis, como o holandês Wesley Sneijder e o uruguaio Fernando Muslera (Galatasaray), o brasileiro Diego e os portugueses Bruno Alves e Raul Meireles (Fenerbahçe), por exemplo, registamos uma tendência crescente para convencer jogadores já consagrados.

Para esta realidade contribuem essencialmente dois cenários. O primeiro de carácter regulamentar, na medida em que disparou o número de estrangeiros permitidos em cada clube. Em Janeiro, foi alterada a regra que estipulava um máximo de oito estrangeiros por plantel — agora são autorizados 14 num universo de 28 jogadores. A intenção era fomentar o recurso aos escalões de formação, mas o resultado foi uma bolha doméstica no mercado de transferências. A procura superava largamente a oferta e assistiu-se a futebolistas de nível médio a auferirem salários impensáveis para a qualidade que demonstravam.

O segundo ingrediente desta fórmula é o sistema fiscal que vigora na Turquia. Embora esteja em marcha já um plano para implementar a progressividade nas contribuições dos desportistas, a verdade é que o panorama actual é especialmente convidativo. De acordo com a lei em vigor, os futebolistas que actuam na Super Lig pagam somente 15% de impostos sobre o total dos rendimentos, enquanto nos escalões mais baixos este número cai para 10% — sobre os treinadores, como Vítor Pereira, recai uma taxa de 35%.

Este é, de resto, um dos campeonatos mais atractivos da Europa nesse particular, só superado pela Bulgária (10%), uma realidade que contrasta de forma flagrante com as Ligas mais competitivas, com taxas sempre acima dos 45%.
O negócio do futebol está longe, porém, de se aproximar do seu expoente máximo no país. As receitas televisivas subiram 16 vezes nas duas últimas décadas, tornando a Super Lig no sexto campeonato mais lucrativo do planeta e catapultando clubes como o Galatasaray e o Fenerbahçe para o interior ou para as imediações do top 20 dos clubes mais ricos, segundo o habitual estudo da consultora Deloitte.

Com uma maior aposta na qualificação dos diferentes agentes, a começar pelos treinadores contratados fora de portas, com a construção de novas infra-estruturas, o futebol turco tem tudo para crescer. Até porque os seus adeptos tratam de endeusar os ídolos de forma inimitável.

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