Revelado o primeiro caso de longa remissão numa criança com VIH

Jovem francesa vive há 12 anos sem sinais de infecção.

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Vírus da sida a sair de um linfócito Instituto Pasteur/AFP

Uma jovem francesa – que nasceu com o vírus da sida e recebeu tratamentos até aos seis anos – continua livre da infecção 12 anos depois de ter parado as terapias. Pensa-se que este é o primeiro caso de longa remissão numa criança infectada pelo VIH desde o nascimento e que foi tratada precocemente, anunciou esta segunda-feira um investigador do Instituto Pasteur de Paris, numa conferência sobre a patogénese do vírus em Vancouver (Canadá), organizada pela Sociedade Internacional da Sida.

A rapariga faz parte de um pequeno grupo de pessoas que conseguiram a remissão do vírus, pelo menos durante algum tempo, depois de terem sido tratadas precocemente com terapias antirretrovirais, para impedir o vírus da sida de criar reservatórios, que mais tarde podiam reacender a infecção.

Pensa-se que o caso da francesa é o mais longo até agora observado numa criança. Descoberto recentemente por médicos em França, este caso segue-se ao relato em 2013 de um bebé do Mississípi (Estados Unidos), que, depois de um tratamento precoce e agressivo contra o VIH, controlou a infecção durante 27 meses sem terapias, até que a infecção voltou.

Também foram observadas remissões de longa duração em 14 franceses – conhecidos por "coorte de Visconti" –, que começaram o tratamento com medicamentos antirretrovirais até dez semanas depois de terem sido infectados e mantiveram-se a fazer a terapia durante três anos, em média. Depois de terem parado o tratamento, a maioria tinha níveis do vírus tão baixos que a sua presença ficou indetectável durante mais de sete anos. Neste contexto, coorte é um grupo de pessoas que têm em comum um conjunto de características observadas durante um período de tempo; e a designação Visconti resulta do nome desse estudo (Virological and Immunological Studies in CONtrollers after Treatment Interruption).

No caso da rapariga francesa, ela foi infectada pelo VIH ou durante a gravidez da mãe ou no parto. Inicialmente, foi tratada com um medicamento destinado a impedir a infecção. Mas quando esse tratamento parou ao fim de seis semanas, detectaram-se níveis elevados do vírus na criança. Por isso, ela começou a receber um cocktail de quatro poderosos fármacos contra o VIH, e manteve-se assim durante seis anos.

Asier Sáez-Cirión, investigador do Instituto Pasteur que apresentou o estudo, disse que a jovem francesa não tinha os factores tipicamente associados aos indivíduos conhecidos por “controladores de elite”, que de forma natural são capazes de controlar a infecção pelo VIH. O investigador atribuiu a remissão da criança ao facto de a criança ter recebido uma combinação de medicamentos antirretrovirais pouco depois da infecção e afirma que este estudo demonstra os benefícios do tratamento pouco tempo após a infecção tanto em crianças como em adultos.

Steven Deeks, especialista em VIH na Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, considera que este caso levanta novas questões sobre os factores que permitem a certos indivíduos controlar o vírus e beneficiar dos tratamentos precoces.

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