Uma volta pelos jornais diários

Mantenho um hábito que me dá gosto: ler todos os dias um jornal diário (quase sempre o PÚBLICO). Começo pela primeira página, que leio na totalidade; depois consulto a última, na qual dou muita atenção aos cronistas e ao Sobe e desce; em seguida leio, de forma rápida, todo o resto. 
Também vejo sempre as notícias na Internet, mas não dispenso esta leitura metódica de um exemplar em papel, hábito enraizado há muitos anos.  Como cronista semanal na imprensa desde 1994 (por certo um dos mais antigos a escrever com regularidade), preciso de recolher apontamentos, estórias curiosas, entrevistas e estudos aprofundados, que me forneçam matérias para as minhas pequenas redacções onde, melhor ou pior, continuo a deixar algumas mensagens úteis.
Sinto que há algo de muito próprio neste meu comportamento. No hospital, no serviço que dirijo, apenas conheço uma médica que lê o jornal todos os dias; os colegas mais novos não o fazem, e mesmo os mais velhos, da minha geração, limitam-se à leitura de um semanário, dizendo que chega muito bem. No entanto, sinto que não quero perder este hábito, que me situa num tempo rápido que quero continuar a acompanhar de perto, porque este é também o meu tempo.
Dizem-me jornalistas amigos que “o formato em papel” tem os dias contados, em breve tudo será online e sobreviverão apenas algumas revistas, de atraente aspecto gráfico e cheias de brindes para oferecer. Não sei se têm razão. Também vaticinaram o fim do livro clássico e, embora as vendas de obras de qualidade não sejam famosas, o livro “em papel” mantém-se e a Feira do Livro de Lisboa continua a surpreender, pela quantidade de visitantes de todas as idades e pelo entusiasmo de muitos leitores em contactarem os autores preferidos.
Aprecio o esforço dos jornalistas das publicações diárias, sobretudo aqueles que resistem à difusão de notícias sensacionalistas; ou os que continuam a informar resistindo às pressões e redigem sem medo, tomando posição quando é necessário. Eu, que vivi nos tempos da censura, costumo dizer que sem uma imprensa livre tudo em Portugal estaria muito pior, embora o significado do termo “imprensa livre” tenha de ser contextualizado, tal a presente influência de grandes grupos económicos em muitas publicações.
Na minha volta pelos jornais da semana, saliento hoje uma notícia (não quero escrever sobre a Grécia, “a notícia”, porque ninguém sabe o que irá acontecer depois da demonstração, em referendo, da força e autonomia de um povo): cerca de 10% dos alunos do secundário nunca leram um livro até ao fim; 14% das famílias dos alunos participantes no inquérito não têm livros em casa; e cerca de 25% dos estudantes não gostavam de ler em criança porque tinham dificuldade em compreender a leitura. O estudo demonstrou também que o professor como incentivador da leitura aparece em último lugar nas motivações dos alunos para lerem, o que faz repensar o papel da escola na promoção da leitura.
Para mim, é preciso mudar muita coisa: perceber que os jovens de hoje lêem pouco, mas sobretudo o fazem de modo diferente; compreender que a escola pode incentivar à leitura se, por exemplo, propuser a discussão de um livro ao longo do ano escolar; ajudar os pais a tomarem consciência de que eles são o grande ponto de partida para a leitura em casa.

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