Analisar, transformar e ganhar

Portugal tem a responsabilidade de garantir a classificação final num dos três primeiros lugares na repescagem olímpica de Lisboa

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Alexandra Couto

A prestação competitiva do VII de Portugal no 2015 Grand Prix Series - um misto de Europeu e de prova de apuramento para os Jogos Olímpicos do Rio 2016 - não foi brilhante. E disso resultou um 6.º lugar no Europeu, um 5.º no apuramento olímpico e um 3.º para a repescagem olímpica de Lisboa. Repescagem europeia - única região a fazê-lo - organizada para permitir uma hipótese de classificação da Irlanda - que vem da terceira divisão - para a repescagem mundial - que outra justificação pode haver? - e que obriga, em total falta de sentido desportivo, a que três das cinco primeiras qualificadas - Rússia, Alemanha e Portugal - tenham mais uma prova para acederem à última hipótese de repescagem.

 

Não tendo começado da melhor maneira na primeira etapa de Moscovo – 5.º lugar com vitória na Plate - para uma equipa com pretensões de qualificação olímpica, a prestação competitiva portuguesa foi piorando - limitada a uma presença na meia-final da Plate (7.º lugar) e uma vitória na Bowl (9.º) - nas restantes duas etapas.

 

Por razões que se prendem com a última oportunidade de manter aberta a hipótese de acesso ao apuramento olímpico, é tempo de analisar o porquê dos fracos resultados e encontrar os meios e métodos de transformação das capacidades e eficácia da equipa para garantir as vitórias necessárias a, no mínimo, uma qualificação num dos três primeiros lugares da classificação geral e final do Torneio de Repescagem Olímpica Europeia de Lisboa.

 

É claro que houve problemas, que houve lesões - algumas até demasiado prolongadas - que impossibilitaram a utilização continuada dos mesmos jogadores, que houve factores externos - como clubes estrangeiros - que impuseram os seus interesses junto dos seus jogadores profissionais ou, ainda, factores inerentes a um país com um sistema desportivo desconjuntado e com errada interpretação do conceito de "Desporto para Todos" - como se fosse o mesmo correr no paredão de Oeiras ou no Centro de Alto Rendimento do Jamor - de que resulta um sub-sistema de Alto Rendimento desfasado e de que são consequência a impossibilidade de participação por exames ou por trabalho ou por qualquer outras razão sempre mais valorizadas do que as oportunidades únicas que o Desporto permite. Mas, dir-se-á, fazendo parte de uma actividade pouco dignificada - excepto para o ajuntamento das fotografias finais - de um país que trata o Desporto como uma mera estatística, deve ser um dado a ter em conta desde a partida. E, porque de nada vale chover no molhado, são sempre exigíveis esforços suplementares que permitam transformar o que for necessário para garantir a eficácia dos resultados. Esforços que serão a principal responsabilidade dos jogadores que vestem a camisola portuguesa.

 

Neste campeonato europeu as dificuldades da equipa passaram pelas fraquezas defensivas dos jogadores, pelas dificuldades, individuais e colectivas, de ultrapassagem da linha de vantagem e inconsequente convergência para chegar ao ensaio - 28 ensaios na 1.ª etapa, 12 na 2.ª e 16 na 3.ª -, pelos momentos de indisciplina táctica individual ou colectiva, pelas dificuldades de adaptação às capacidades dos companheiros portadores da bola e até mesmo pelos injustificados individualismos num jogo que se pretende eminentemente colectivo - também aqui, no Sevens, a bola não pode ser passada para a frente... Se destes erros colectivos e individuais resultou pouca eficácia terá sido, pelo menos visto de fora, a atitude pouco consentânea com os objectivos pretendidos de chegar ao Rio 2016 e com o nível da competição em causa, a maior responsável pelo, desde logo, afastamento da luta pela classificação automática.

 

Desfocagem, atitude competitiva nem sempre no limite desejável, sentido colectivo pouco eficaz em momentos decisivos, decisões pouco assertivas e inadequação aos níveis e capacidades dos companheiros - tempo e distância de passe, tendências atacantes, linguagem corporal dos companheiros de equipa ou solidariedade de uns pelos outros (é para isso que se treina conjuntamente) - são aspectos que os jogadores terão de transformar para continuarem, após Lisboa, no caminho dos Jogos.

 

O sonho comanda a vida, escreveu o poeta Gedeão. E se assim é, o sonho - único e para alguns irrepetível - de poder competir nos Jogos Olímpicos deve comandar cada entrada em campo e cada momento de cada jogo. E como sonho mostrar a rota do caminho real, visto e revisto, vezes sem conta na eficácia pretendida.

 

Portugal, das equipas presentes em Lisboa, é a única com hábitos permanentes da prova maior de Sevens - a Sevens World Series - uma vez que apenas e por uma só etapa, a Bélgica e a Rússia lá estiveram. Ora esta experiência tem que traduzir uma superioridade natural nos resultados de cada encontro e nos resultados finais. Para o que bastará que a "cabeça" dos jogadores se formate para fazer apelo às condições técnicas e físicas de cada um e que compõem o ramalhete necessário para que o colectivo - a equipa de Portugal de Sevens - obtenha os resultados esperados. Como já o fizeram por algumas vezes e em momentos altos de superação. A oportunidade é única, exigente e motivadora. Estejam, jogadores do VII de Portugal, ao vosso melhor nível e sejam exigentes, responsáveis, lutadores e ganhadores!

 

Uma equipa capaz de empatar com a Nova Zelândia ou ganhar à Austrália como conseguiu esta época, que joga em casa e com apoio da comunidade rugbística portuguesa, não pode deixar-se levar por receios, por falta de confiança ou por qualquer tipo de desculpas. Uma equipa como a portuguesa, nas condições em que vai competir, tem a responsabilidade de garantir um único resultado: a classificação final num dos três primeiros lugares. Esta é, portanto, a hora de assumir as responsabilidades de jogadores internacionais. E a hora de mostrar o que querem e o que valem. Sem margem para dúvidas.

 

Que sejam suficientemente audazes para garantir a sorte dos vencedores.

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