Amam Portugal e “já trabalharam uma vida: têm sabedoria para governar”

O Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP) brindou ao facto de ter sido criado. Estão desiludidos e revoltados com os governantes, querem menos desigualdades sociais. Com a idade que têm, já não são os “tachos para a vida” que os movem.

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PURP foi criado por reformados mas quer chegar a toda a gente Rui Gaudêncio (arquivo)

Longe da sofisticação das máquinas partidárias de uns ou da frescura de outros, o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP) apresentou-se nesta quinta-feira em Lisboa. Com bandeiras de Portugal e do partido, com críticas a quem anda a “roubar” aos mais velhos e aos mais novos, com promessas de “fazer diferente”. Com discursos acalorados, de dedo no ar: “O PURP é uma vitória dos humildes sobre os espoliados.” Ou: “Eu amo Portugal, eu amo os portugueses, eu não posso permitir que isto aconteça.”

O “isto” é a situação do país, o desemprego, a pobreza, as desigualdades sociais. Tudo o que o PURP quer inverter, concorrendo às legislativas e elegendo o maior número de deputados possível. O recém-criado partido – que se dirige a todos, jovens, precários, desempregados, ex-combatentes – foi iniciativa de reformados e pensionistas.

“O PURP são pessoas que já trabalharam uma vida inteira, que têm sabedoria e experiência para governar o país”, diz um dos fundadores António Mateus Dias, que deverá ser eleito presidente do PURP e escolhido para cabeça-de-lista por Lisboa, num congresso que deverá acontecer dentro de duas semanas e no qual se aprovarão as listas aos 22 círculos e o programa completo.

Fernando Loureiro, que deverá ser o secretário-geral e cabeça-de-lista pelo Porto, reafirma: estão do lado dos que têm “de ser puxados para cima” e contra a “coutada de meia-dúzia” que governa o país. “Somos gente do povo e com sentimento humano.”

Numa sala com cerca de 15 apoiantes, os discursos repetiram-se nesta linha. Falaram os que estavam sentados na mesa e os que assistiam. “Eu não quero fazer nenhuma pergunta, quero falar”, diz um dos militantes. “Falem, aproveitem que está aqui a comunicação social”, ouve-se.

Amândio Gonçalves, que será vice-presidente, diz que o PURP é “um movimento de cidadãos espontâneo e genuíno” que quer tirar do poder os que “roubam e vivem acima das suas possibilidades”. E apresenta mais um argumento para apelar ao voto: muitos dos membros já estão numa idade em dispensam um “tacho para a vida”. Aliás, querem combater os privilégios: “Nunca entrei no Parlamento, mas, pelas imagens que vejo na televisão, imagino que quem lá entra se sinta esmagado por aquelas mordomias.”

Com calças e camisa brancas, o coordenador nacional das distritais José Duarte levanta-se duas vezes para falar. “As reformas terão de ser repostas na totalidade, doa a quem doer.” Ergue o indicador e avisa: não são “só um partido de lamúrias” e vão “dar lições a quem não soube ensinar nem tratar”.

Entre outras, as propostas do PURP – que não é apoiado pela Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados – passam por diminuir os vencimentos e o número de deputados, reduzir em cerca de 30% o orçamento da Presidência da República, acabar com as taxas moderadoras, permitir que os deputados sejam “revogáveis por referendo”.

Cabe a Maria do Céu Dias, do núcleo de Santarém, rematar as intervenções da mesa. De pé, diz que, no PURP e para o PURP, são todos iguais, é “um por todos e todos por um”. Ouvem-se palmas e, depois, chega um pequeno tabuleiro com copos. É altura de brindar ao PURP, o mais recente e o 23.º partido em Portugal.

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