Serralves vê com "grande perplexidade” a polémica em torno do Museu do Chiado

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Adriano Miranda

Três horas após o início da visita do secretário de Estado da Cultura que esta quarta-feira inaugurou a nova ala do Museu do Chiado, em Lisboa, a Fundação de Serralves fez chegar às redacções um comunicado em que se distancia dos “últimos acontecimentos” relacionados com a inauguração, declarando-os “motivo de grande perplexidade”.

Não é claro se o comunicado se refere à sequência de episódios que há uma semana levaram à demissão do até então director do museu lisboeta, David Santos, se à decorrente movimentação do sector das artes plásticas, que boicotou a inauguração na Rua Capelo, recusando-se a entrar, e organizou a uma manifestação no exterior do museu, durante a qual Jorge Barreto Xavier foi várias vezes vaiado.

Luís Braga da Cruz, o presidente da fundação portuense, esteve na inauguração. Mas a esta não compareceram nenhuns dos artistas, galeristas, críticos e curadores de arte habituais no Chiado nem mesmo os técnicos superiores do museu, que se organizaram em voto de protesto contra a tutela e de solidariedade com o director demissionário.

Em Serralves, “saber honrar compromissos é um atributo muito prezado”, lê-se no comunicado, que recorda todo o historial da chegada ao Porto da parte da Colecção SEC em depósito no Museu de Serralves por 30 anos – 550 obras de permanência no Porto protocolada pelo Estado pelo menos até 2027.

Em três longos pontos, Serralves detém-se na clarificação de um processo negocial de bastidores em que as direcções de Serralves e do Chiado acabaram por acordar por escrito os termos do empréstimo das 114 obras pedidas ao Porto para a inauguração de Lisboa. Por carta, David Santos acordou com Serralves que, quer na exposição quer no catálogo, todas as obras emprestadas seriam identificadas como “obras da Colecção da Secretaria de Estado da Cultura em depósito na Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea” e que finda a exposição, em Junho de 2016, seriam devolvidas ao Porto.

A direcção do Chiado acordou estes termos a 18 de Maio último, em resposta a um pedido de Serralves, também por carta, a 25 de Março. A 22 de Junho ambas direcções, do Porto e Lisboa, assinaram as fichas que formalizaram o empréstimo e seus termos.

“Por tudo isto, os últimos acontecimentos […] são, para o Conselho de Administração da Fundação de Serralves, motivo de grande perplexidade, uma vez que estavam perfeitamente claros e aceites os pressupostos para o empréstimo das obras”, lê-se no comunicado. Que conclui explicando: “A Fundação de Serralves assumiu desde o primeiro momento a importante missão que lhe foi confiada, de guardaria, conservação, restauro, estudo e divulgação da Colecção SEC em depósito […] Defender a Colecção de Serralves, que integra em depósito parte da Colecção do Estado, e zelar pelo cumprimento das imposições estatutárias e regulamentares que lhe estão associadas, é uma obrigação de todos os que estão transitoriamente em Serralves.”

O comunicado de Serralves chegou à secção de publicidade do PÚBLICO às 20h30 de quarta-feira para ocupar como esclarecimento toda uma página. Chegou uma hora depois à secção editorial.  

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