Cavaco fala em "erro estratégico de negociação" do Governo grego

Presidente ouve partidos na próxima semana antes de marcar data das eleições legislativas.

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Tiago Petinga/ Reuters (arquivo)

O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou esta terça-feira que a situação da Grécia "é um bom exemplo de como erros cometidos por um Governo numa negociação externa podem conduzir a sacrifícios muito grandes para as populações".

Na Póvoa de Varzim, no final de uma jornada dedicada à Fileira da Pesca, Cavaco Silva foi questionado sobre o acordo alcançado entre a Grécia e as instituições internacionais, garantindo que sempre esteve "convencido que na 25.ª hora seria encontrada uma solução" já que tem "uma certa tendência para olhar com muito menos excitação para estas crises da União Europeia do que os analistas".

"Este é um bom exemplo de como erros cometidos por um Governo numa negociação externa podem conduzir a sacrifícios muito grandes para as populações", disse, antecipando que "fará parte no futuro dos exemplos dos livros da economia política das crises como um erro estratégico de negociação".

O Presidente da República destacou que o acordo é "muito mais duro do que aquilo que estava sobre a mesa antes do referendo", receando que em alguns pontos "a execução seja difícil".

"Mas esperemos que as autoridades gregas acabem por aprovar as medidas que foram impostas, para serem aprovadas num período demasiado curto. Seria algo impossível em Portugal aprovar medidas tão complicadas, tão difíceis, tão exigentes num espaço de 48 horas", enfatizou.

Cavaco Silva insistiu na ideia de que sempre esteve convencido que "na 25.ª hora seria encontrada uma solução que garantisse a defesa da União Europeia, do projeto da moeda única e que garantisse a sua estabilidade", recordando que participou em 29 Conselhos Europeus.

"Assisti a grandes crises, a grandes dramas, em que se escreveu múltiplas vezes que a União Europeia ia acabar, que o sistema monetário europeu ia acabar, que a moeda única não veria a luz do dia e nada disso aconteceu", relembrou.

Interrogado sobre se este acordo não seria uma humilhação para a Grécia, o chefe de Estado disse não querer utilizar essa palavra, mas sim "a palavra que todos referiram que foi desconfiança".

"A realização do referendo levou a que todos os outros Estados-membros passassem a desconfiar dos líderes políticos gregos pelo facto de não terem sido informados previamente e pelo facto de terem abandonado uma negociação que estava ainda a decorrer", destacou.

Na opinião de Cavaco Silva, "esta solução para a Grécia é fruto, por um lado, da desconfiança, como foi dito frequentemente nos últimos dias, de todos os Estados-membros em relação ao Governo da Grécia" e foi, por outro lado, "determinado pela falta de dinheiro nos bancos gregos e pelo erro de negociação cometido pelas autoridades gregas".

"Temos ainda um processo algo delicado que é a aprovação pelos Parlamentos nacionais em seis países mas eu acredito que, mesmo em relação àqueles países que têm colocado maior exigência, no final será dado um sim desde que a Grécia consiga reconquistar a confiança", antecipou.

O Presidente da República recordou ainda que "sempre disse que quer para Portugal quer para a União Europeia, era melhor encontrar uma solução em que a Grécia ficasse na zona do Euro".

"Quando os problemas são muito difíceis, eu recordo-me no meu tempo, que era fechar os primeiros-ministros e chefes de Governo numa sala e não deixá-los sair e às vezes não dando sequer sandes para eles comerem, até conseguirem chegar a um acordo", relembrou ainda.

Data das eleições em breve
No plano nacional, Cavaco Silva anunciou que vai reunir com os líderes dos partidos representados na Assembleia da República no início da próxima semana sobre a data das eleições legislativas.

"Ainda esta semana vou convocar os líderes dos partidos representados na Assembleia para ouvi-los nos termos da lei e irei reunir com eles no início da próxima semana. Não posso deixar de respeitar a lei que diz: as eleições têm lugar entre 14 de Setembro e 14 de Outubro e o Presidente da República convoca as eleições com 60 dias de antecedência", disse.

A 3 de Maio, durante uma viagem de avisão para a Noruega, o chefe de Estado recordou que a única ocasião em que as eleições legislativas se realizaram em Setembro foi em 2009, para evitar a coincidência de datas com a realização das autárquicas.

Sem revelar a data para que se 'inclina', o Chefe de Estado adiantou então que em Belém já foram "estudadas todas as datas possíveis" e disse que há que pensar em que data é que os partidos terão de entregar as listas de candidatos, consoante o fim de semana escolhido para as eleições, pois "a certo momento" o prazo limite "fica nas férias".

"E há ainda a campanha eleitoral, pois se não têm cuidado ocorre nas praias", gracejou.

Interrogado durante esse voo para a Noruga se não poderá ser prejudicial escolher o dia 4 de Outubro, já que é a véspera do dia da Implantação da República, o Presidente da República encolheu os ombros, declarando apenas: "Já não é feriado".

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