Os maestros da Europa

Possivelmente, o futuro da Grécia já está mais claro no preciso momento — agora — em que está a olhar para este abraço. É o preço de escolher a “imagem da semana” antes de a semana acabar. A qualquer minuto espera-se uma decisão: a Grécia sai ou fica, há ou não acordo?

Este abraço — um abraço estranho (alguém dá abraços assim?) — foi encenado na segunda-feira ao fim da tarde. Foi a forma de Angela Merkel e François Hollande dizerem que são eles os maestros da orquestra, que controlam o tempo, que decidem quando querem levantar a batuta e quando a música vai começar.

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Presidente francês François Hollande recebe a chanceler alemã Angela Merkel no Eliseu esta segunda-feira, o dia a seguir ao estrondoso “não” grego ao plano da troika Bertrand Guay/AFP

Já sabemos que é assim. Mas o timing do eixo franco-alemão não deixa de impressionar. Mal se tornou claro que da Grécia vinha um “não” à austeridade que Merkel defende há cinco anos, Berlim emitiu um comunicado de um único parágrafo a informar o mundo que, no dia seguinte — ao fim da tarde —, Merkel iria apanhar um avião para jantar com Hollande em Paris e fazer uma “avaliação comum” da Grécia.

As instruções eram claras. Os maestros não queriam música já, tínhamos todos de ficar sentados — e esperar.
Com razoável sobranceria, Merkel e Hollande decidiram que nada iria acontecer até terça-feira. Fazendo de conta que não tinham percebido, Yanis Varoufakis e Alex Tsipras insistiram que na segunda-feira iam a Bruxelas retomar as negociações e que um acordo “poderia ser fechado em 24h”. Não houve surpresa. Até terça-feira, nada aconteceu. E na terça, quando os maestros levantaram a batuta, definiram o tempo, uma vez mais: tinha de ser encontrada uma solução “rapidamente”. “Não estamos a falar de semanas, mas de poucos dias”, precisou a maestrina. O deadline escolhido foi este domingo.

Como ninguém, Merkel e Hollande congelam e descongelam o tempo europeu. Afinal, por estes dias, quando Obama “liga para a Europa” fala com três pessoas: Merkel, Hollande e Tsipras.

Continua a não ser claro o que pensam os maestros. Vão ceder? Até onde? Vai haver acordo? Merkel é ao mesmo tempo pressionada para ser uma “Chanceler de Ferro” e para não ficar na história como a chanceler que expulsou a Grécia da Europa. Foi cautelosa durante toda a semana: começou por fechar a porta às negociações para uma redução da dívida grega, a seguir disse que “a situação é muito perigosa” (e dizer isso é muito e é o oposto do que diz o seu ministro das Finanças) e no fim disse que não estava “exageradamente optimista” (uma curiosa escolha de palavras).

O abraço encenado com Hollande é um ritual de afirmação do poder. Não sabemos ainda o que esconde.

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