Eurogrupo deixa decisões para líderes da zona euro

Continuação da reunião dos ministros das Finanças deverá servir apenas para adoptar recomendações para os chefes de Estado, que se reúnem à tarde. A cimeira continuará "até concluirmos as negociações sobre a Grécia", avisa Donald Tusk.

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Euclides Tsakalotos, ministro das Finanças grego JOHN MACDOUGALL/AFP

Os ministros das Finanças da zona euro continuam neste domingo de manhã a sua reunião sobre a Grécia, que começou no sábado às 15 horas de Bruxelas. Sem nenhuma expectativa de chegar a acordo, o objectivo é de pelo menos chegar a uma declaração comum que possa ser usada como base para os trabalhos da cimeira líderes, que se realiza neste domingo à tarde.

Questionado sobre o que esperava desta segunda parte da reunião do Eurogrupo, o ministro eslovaco, Peter Kazimir, foi categórico: "Nada". "Não é possível chegar a um acordo hoje. Podemos trabalhar sobre algumas recomendações para os chefes de Estado, mas isso é tudo", disse Kazimir.

Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeu responsável pelo euro, considerou antes de entrar para a reunião que é “improvável que a Comissão Europeia receba hoje um mandato para iniciar negociações formais relativamente ao terceiro programa” da Grécia.

Pouco depois, o ministro das Finanças finlandês, Alex Stubb, negou ter sido mandatado para bloquear um acordo, como foi amplamente noticiado na noite de sábado. Segundo a televisão pública finlandesa, YLE, o mandato que Stubb recebeu do Parlamento finlandês, que não é público, apenas contemplava a negociação para uma saída da Grécia da zona euro, por exigência do partido eurocéptico e nacionalista Os Finlandeses, que integra a coligação governamental.

"Estamos todos construtivamente a tentar encontrar uma solução", disse o ministro finlandês, mas "as condicionalidades que foram apresentadas pelos gregos simplesmente não são suficientes nesta fase", querendo o ministro finlandês ver mais esforços de Atenas nas pensões, IVA e reformas estruturais. Essas são justamente as áreas mais sensíveis para o Governo de Alexis Tsipras, que já atravessou algumas das suas linhas vermelhas na proposta que enviou ao Eurogrupo na quinta-feira.

"Se isto fosse uma negociação de 1 a 10, eu penso que ainda estamos em 3 ou 4. Ou seja, a fazer progressos, mas ainda não chegámos lá", concluiu Stubb.

A intransigência de muitos países não permite para já perspectivar qualquer acordo. Por esta altura, só a França e a Itália parecem estar realmente a favor de um entendimento com a Grécia já este fim-de-semana, com os outros países a insistirem em exigir mais do Governo grego, por exemplo, a adopção de medidas pelo Parlamento grego já na próxima semana.

E o encontro de sábado, que durou mais de nove horas, parece ter acabado por gerar tensões mesmo entre os próprios credores. Segundo a agência grega ANA, a reunião teve de ser brutalmente interrompida por volta da meia-noite pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, por causa de uma troca de palavras azeda entre o presidente do BCE, Mario Draghi e o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. "Não me tome por um imbecil”, terá dito Schäuble a Draghi.

O debate passa esta tarde para a reunião de líderes da zona euro. A ideia do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que também preside às cimeiras da zona euro, era começar a reunião a 19, e em seguida abrir uma cimeira da UE já com os 28 chefes de Estado e de Governo, a partir das 18 horas (17 horas em Lisboa).

Sendo já muito provável que as discussões entre os líderes da zona euro se prolonguem, já teve, no entanto, que cancelar essa cimeira da UE como um todo. "A cimeira da zona euro começa às 16 horas [15h de Lisboa], e durará até concluirmos as negociações sobre a Grécia", escreveu Tusk na sua conta no Twitter.

A grande interrogação prende-se agora com a atitude que tomará a chanceler alemã, Angela Merkel, na cimeira em que tanto o Presidente francês, François Hollande, como o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, deverão defender até ao fim um entendimento com a Grécia.

"Este é o dia mais importante para Angela Merkel desde que é a chanceler", escreve neste domingo Stefan Kuzmany, editor da influente revista alemã Der Spiegel. "Ela negoceia hoje não só o futuro da Grécia; não se trata de nada menos do que o futuro da União Europeia."

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