À volta do Tour: A inimiga de Bauke Mollema

Leia aqui algumas das histórias mais desconhecidas da mais importante corrida de ciclismo do mundo.

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Quem o vir, no seu jeito desajeitado, corpo franzino (1,81 metros para 64 quilos), nariz aquilino e olhar despistado, dificilmente acreditará que Bauke Mollema é um dos maiores talentos velocipédicos holandeses da sua geração. O PÚBLICO viu-o, deslumbrado, na penumbra dos Campos Elísios, a fotografar-se, com o Arco do Triunfo colorido ao fundo, para guardar para sempre, numa recordação palpável, a sua maior proeza. Naquele Tour, o do centenário, o ciclista, nascido em Groningen, a 26 de novembro de 1986, andou sempre perto do pódio – de facto, foi segundo até ao ‘crono’ da 17.ª etapa - e deu-se a conhecer ao mundo.

A imprensa holandesa fez odes ao seu novo herói (foi sexto na geral final). Seguiu-lhe os passos desde o começo tardio no ciclismo – o desporto corria-lhe nas veias, fosse como praticante de hóquei e patinagem no gelo ou de futebol, mas só aos 16 anos compreendeu que a bicicleta podia ser mais do que um meio de locomoção para a escola – até que se estreou numa competição, dois anos depois. Descobriu-lhe o rasto no Tríptico das Ardenas, na Bélgica, em 2005, acompanhando-o até ao primeiro contrato como a equipa satélite da Rabobank e à vitória na Volta a França do futuro, em 2007. Teceu-lhe rasgados elogios pelo quarto lugar e pela vitória na classificação da regularidade na Vuelta2011 – em nove anos, passou de um velocípede amador a uma promessa nas grandes Voltas. E chegou ao segredo mais bem guardado de Mollema.

"Desde pequeno sempre tive problemas nas mãos. Os invernos eram particularmente difíceis. Não sei se devido às luvas ou aos produtos que usava para limpar a bicicleta. Consultei inúmeros dermatologistas, fui internado para despistar alergias. Ter-me-ão feito mais de 30 testes até, finalmente, compreenderem que o problema era a borracha”. Um grande inconveniente num desporto como o ciclismo, em que a borracha está escondida em vários recantos da bicicleta.

Desde que conheceu o diagnóstico, em 2008, o holandês, que até à temporada passada representou a Belkin, sucessora da Rabobank, teve de tomar precauções especiais. A mais drástica de todas foi correr sem as manetes dos travões. “Em vez delas, usava fita adesiva”. Até este ano. Uma temporada de 2014 bem conseguida, com um décimo lugar no Tour, postos de honra nas clássicas das Ardenas, um segundo lugar na Clássica de San Sebastián e um terceiro na Volta à Suíça, cativou a Trek. Consumada a transição do conforto holandês para a mescla cultural que é a equipa norte-americana (tem 14 nacionalidades), o fanático das redes sociais viu, milagrosamente, o seu problema resolvido. A Shimano, fornecedora de equipamentos para as ‘máquinas’ da Trek, mudou o componente, permitindo-lhe, finalmente, pedalar com as mãos assentes no guiador.

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