Passos garante que Estado já não protege empresas "amigas"

Líder do PSD ensaia discurso de campanha eleitoral no encerramento das jornadas da maioria.

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Pedro Passos Coelho diz que as empresas exportadoras parecem aguardar que resto da economia saia da crise Daniel Rocha

Foi um discurso de balanço e com um cheirinho a campanha eleitoral. Passos Coelho aproveitou a plateia de deputados da maioria para prestar contas e deixar um aviso sobre o risco de dar força ao PS e pôr em causa não só as “pensões” do futuro como os rendimentos de “hoje”.

No encerramento das jornadas parlamentares da maioria, em Alcochete, o líder do PSD e primeiro-ministro começou por reclamar para o actual Governo os louros de ter concretizado uma reforma estrutural na economia, que se tornou “mais competitiva”. E, sem falar da Grécia, lembrou que Portugal em 2011, quando pediu ajuda externa, tinha “dificuldades mais adversas” que outros países. Mas chegou ao fim do programa dispensando a última tranche, com um défice que atingirá os 3% e com uma “trajectória descendente do desemprego”.

Uma das alterações que Passos Coelho defende ter feito na economia foi a de travar a protecção das empresas porque “não há nenhuma empresa que apresente resultados negativos continuamente, tenha maus negócios, e que consiga manter-se no mercado - a não ser que seja protegida”. Passos Coelho afirma que “havia a ideia de que o Estado protegia certas empresas” e que agora “quem vem para o mercado sabe que não vai haver intervenção do secretário de Estado, nem de qualquer ministro”.

Num momento em que já foram concluídas as privatizações previstas, o primeiro-ministro assume que as operações não aconteceram apenas “pelo importante encaixe financeiro”, mas sim porque “na economia não devemos ter um Estado gestor de empresas”. O Estado – prosseguiu – “tem outras funções para desempenhar”, designadamente “assegurar verdadeira competição e lealdade na economia e não ter empresas que são mais amigas e outras menos amigas”.

Na actual legislatura, das alienações previstas, só a RTP ficou por privatizar depois de o CDS se ter oposto à operação.

Sem nunca se referir ao PS ou a António Costa na sua intervenção, Passos Coelho não deixou passar em claro as propostas socialistas. “Se quisermos voltar atrás, muito daquilo que se conseguiu é destruído”, disse, dirigindo-se aos eleitores. “Depressa perceberão que não são só as suas pensões futuras que estão em causa, mas os rendimentos de hoje e de amanhã”, advertiu. A lição, sustentou, “deveria levar outros partidos a repensar a sua estratégia económica”. Mas não quis pronunciar-se sobre essa estratégia e preferiu sublinhar a da maioria: “Nós não queremos voltar para trás. Porque essa mudança estrutural veio para ficar; as contas certas vieram para ficar.”

Apontando para o futuro – como disse Luís Montenegro, líder da bancada do PSD, o que falta fazer é ainda mais importante – Passos Coelho assumiu uma prioridade de campanha: “Declarar guerra sem quartel às desigualdades sociais em matéria económica e social.” E lembrou que as desigualdades se podem manter mesmo com crescimento económico. “Não é isso que queremos. Pelo menos as desigualdades à partida, porque cada um escolhe o que quer fazer. O que não podemos é deixar as pessoas sem escolha”, disse.

Numas jornadas parlamentares sem membros do Governo – à excepção do ministro e da secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares – o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, também louvou os resultados económicos e referiu-se ao “nervosismo” dos “últimos dias” no PS. Nuno Magalhães vê nos socialistas “o tique da arrogância, da irritação, da zanga”. E, tal como já ontem o tinha feito Paulo Portas, o líder da bancada centrista falou em "serenidade" da maioria e advertiu para a “não resposta a provocações”.

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