O erro de Tsipras

Tsipras oferece ao adversário o sacrifício da peça mais importante do seu tabuleiro governativo

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Alkis Konstantinidis/Reuters

Poucas horas depois da divulgação dos resultados definitivos do referendo na Grécia, ocorreu a demissão do ministro das finanças, Yanis Varoufakis.

O mesmo apontou como razões para tal o facto de os membros do Eurogrupo terem manifestado a sua preferência pela sua ausência das reuniões e Tsipras o ter admoestado para o efeito, indicando que tal poderia ser benéfico para o desenrolar das negociações. Algo que é um erro crasso da parte do atual primeiro-ministro grego.

Por um lado, oferece ao adversário o sacrifício da peça mais importante do seu tabuleiro governativo - aquele que era o ministro dos assuntos mais prementes na conjuntura política grega (finanças), o qual se incumbia deles de uma forma combativa e, se nos dermos ao trabalho de consultar o currículo de Varoufakis, altamente competente. Na verdade, bem mais competente do que a de qualquer outro ministro das finanças do Eurogrupo.

Por outro lado, e embora tenha demonstrado uma preocupação abstrusa com uma determinada imagem que pretendia vender aos credores ao ceder perante esta sua queixa, digna de quem se sente diminuído por alguém bem mais conhecedor do assunto em causa e com quem não conseguem trocar argumentos, oferece de bandeja toda uma cartilha populista a pessoas que andavam já desde há meses a construir, através dos meios de comunicação social, uma imagem de incompetência do governo grego e, particularmente nos últimos tempos, com foco em Varoufakis devido a questões meramente superficiais (indumentária, postura nas reuniões) e que em nada colocavam em causa a sua competência.

Perante isto, apenas me apraz considerar que, acaso fosse grego, neste momento a minha confiança no governo teria caído a pique. Não em Varoufakis, mas sim em Tsipras, que para mais é a figura de proa. Porque, e embora se conheça bem o circo que a política – e principalmente o sistema política partidário – promove, quem pode confiar num indivíduo que cede a lamúrias de gente sofista e prefere, num momento chave, dar primazia à imagem do governo perante as pessoas com quem pretende estabelecer negociações do que à solidez da estrutura do próprio governo? Falando eu, claro, de competência e de capacidade de cumprir com aquilo a que se comprometeu perante o povo grego.

Varoufakis, que, como já pudemos perceber, não está para dar importância a tretas superficiais do mundo político, dispôs-se a continuar a apoiar o partido, nomeadamente o primeiro-ministro e o novo ministro das finanças. No entanto, quando se faz política também é preciso aprender a dançar o bailarico da imagem mediática, uma vez que a posição depende do apoio do povo – daí que haja muito poucas pessoas verdadeiramente íntegras que o aceitem fazer, e Varoufakis tenha tido muito pouca paciência para isso – mas fica definitivamente mal na fotografia o líder de um governo que quer ensinar aos europeus como combater os megalómanos capitalistas e acaba a errar tão facilmente em questões diplomáticas comezinhas.

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