Graça Castanho candidata-se contra a lógica partidária

Quer dar um novo peso ao papel do Presidente da República não só em Portugal mas na União Europeia.

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Graça Castanho DR

A professora universitária Graça Castanho afirmou ao PÚBLICO que se candidata a Presidente da República contra a lógica partidária e motivada pela “insatisfação com a forma como se faz política” em Portugal, considerando-a “dependente dos partidos e das máquinas partidárias”, e razão pela qual “as pessoas que têm um projecto para o país e trabalho feito não passam”.

Ex-directora regional das Comunidades nos Açores no Governo do PS chefiado por Carlos César, depois conselheira do Ensino do Português nos EUA por nomeação do ministro da Educação do PSD, David Justino, Graça Castanho quer “tentar a possibilidade de uma candidatura independente” que “represente todas as comunidades nacionais”, logo “também os emigrantes”.

Aos 54 anos, a candidata pretende também responder à “urgência de participação mais activa das mulheres”, pois considera que “não faz sentido que em 41 anos de democracia tenha havido só uma mulher candidata” a Presidente, referindo-se a Maria de Lourdes Pintasilgo, antiga primeira-ministra que se candidatou nas presidenciais em 1985.

Sim às coligações
Sobre o quadro político institucional que irá abrir o próximo mandato presidencial, Graça Castanho considera que o próximo “Presidente da República não deve nomear um governo minoritário”. Para a candidata, o Presidente deve “pedir aos partidos que façam coligações que respeitem a vontade do povo”. Defende ainda que os partidos devem ter “a preocupação de procurar os portugueses e as portuguesas mais académica e profissionalmente preparados para os cargos, independentemente da sua cor política”. Desta forma, afirma, poderá ser quebrado “o ciclo do servilismo e de corporativismo dentro das máquinas partidárias a que temos assistido ao longo de 40 anos de democracia”.

Com um discurso acentuadamente crítico dos partidos, Graça Castanho considera que, “em Portugal, os políticos dos maiores partidos precisam de aprender a governar em coligação, aproximando as suas práticas governativas ao que já acontece na Europa mais desenvolvida e próspera”. E advoga que “é este entendimento da democracia que deve imperar” em Portugal, para que se consiga a “construção de um país moderno, liberto de lógicas partidárias que não dignificam o povo português”. O risco, alerta, é o “eleitorado distanciar-se ainda mais da política e dos processos eleitorais”.

Apresentou a candidatura a 30 de Maio em Ponta Delgada, a sua cidade, onde já foi vereadora da Cultura e é professora da Área de Metodologia e Didáctica da Língua Portuguesa na Universidade dos Açores. Conta já com quatro mil das 7500 assinaturas que necessita para constar no boletim de voto nas eleições que se deverão realizar a 24 de Janeiro. Espera por entrar de férias em Agosto para terminar a recolha de assinaturas e arrancar com a sua campanha eleitoral.

Tendo como slogan de campanha a frase “De Portugal para o mundo”, Graça Castanho afirma-se “cidadã do mundo, da Europa e de Portugal, e alguém a quem a Constituição atribui o direito a este exercício de cidadania”. Confessa sentir-se “numa missão” e diz que, “como açoriana”, está “ofendida por sucessivos Presidentes que não olharam a todo o território nacional, não estiveram junto das pessoas carenciadas, não conviveram com elas”.

Moralizar a política”
Um dos seus objectivos para o mandato é, segundo a própria, “moralizar a política a começar pelo mais alto cargo”. Defendendo que a Constituição seja revista, propõe que “o Presidente tenha só um mandato de seis anos e que este mandato deve ser comum à União Europeia”. Graça Castanho sublinha que “as fragilidades da União Europeia são ultrapassadas pelo aprofundamento da união”, o qual se obtém com “menos diferenças e mais coordenação política e mais centralização na fiscalização dos dinheiros”. E sublinha que “os Presidentes também têm de ser chamados a dizer uma palavra sobre a situação da Europa” e que, “ainda que não sejam eles que governam, têm de ser ouvidos”.

Por fim, Graça Castanho propõe que os ex-Presidentes "devem prescindir de privilégios e de benesses, entre elas do ordenado”. E garante que “se não for possível mudar a lei”, no seu caso, dará contas públicas “do dinheiro gasto”, bem como que o seu vencimento “será devolvido à população através de objectivos sociais”.

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