Reindustrialização

A Molde é um exemplo das dificuldades que a indústria portuguesa atravessa. Em 1993, enfrentou a primeira crise, derivada dos EUA. Em 2008, começam a diminuir as encomendas, as prateleiras ficam vazias e várias pessoas foram dispensadas. Já a região polaca da Baixa Silésia é uma pequena potência industrial.

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Número total de Sociedades dissolvidas

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Número médio total anual de desempregadosInscritos no centro de emprego e de formação profissional

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Taxa total de intensidade exportadora

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Reportagem

Após o colapso das minas, a indústria floresceu na Baixa Silésia

A casa que o engenheiro Krzysztof Skura construiu na margem esquerda do rio Oder, nos subúrbios de Wroclaw, é bem mais do que o testemunho do seu sucesso profissional. O conforto da habitação que partilha com a sua mulher, uma advogada, e a sua filha de 18 anos (um filho com 22 anos, estuda numa cidade da zona do Báltico), a sua localização, a metros do canal onde o rio segue envolto por uma floresta fresca e densa, a sua decoração, o jardim das traseiras ou o automóvel italiano de topo de gama debaixo de uma cobertura são antes de mais a consequência da dolorosa, lenta, profunda mas bem-sucedida revolução da indústria na região polaca da Baixa Silésia. Há 20 anos, quando Krzysztof acabou o seu curso na Universidade Tecnológica de Wroclaw, viver da venda de serviços à indústria era uma quimera a indústria desse tempo era apenas um monte de sucata legado por 45 anos de economia planificada do regime comunista, que dispensava a ciência e a tecnologia. A cidade e a região, no entanto, sobreviveram ao desafio de a modernizar no tempo de uma geração. Centenas de novas indústrias, na sua maioria de capitais estrangeiros, instalaram-se, o uso da tecnologia tornou-se regra, a economia cresceu à média impressionante de 7,5% ao ano, o desemprego reduziu-se drasticamente e o engenheiro tem hoje um vasto mercado a quem vender soluções de controlo de qualidade baseados na automação e na informática.

Como a maior parte dos homens e mulheres da sua geração, Krzysztof Skura viveu uma juventude ao mesmo tempo terrível e fascinante. Quando o regime comunista caiu, em 1990, foi preciso pôr tudo em causa e aprender as regras da economia de mercado. “Foi como que começar do zero”, recorda. Depois de fazer o seu doutoramento, começou a trabalhar na multinacional alemã de engenharia electrónica Phoenix Contact. No final dos anos de 1990, teve um convite para ir para o Canadá, mas por essa altura tinha já percebido que na sua região havia um admirável mundo novo de oportunidades. “O clima no final dos anos 90 já era muito bom. Tudo era novidade para nós. Podíamos fazer o que quiséssemos”, recorda. Decidiu arriscar. Tinha de ser inventivo. Wroclaw era a cidade certa para tentar. “Havia muita gente qualificada e muitas empresas a chegar cá”, sublinha. A sua empresa, ICS Industrial Control Systems, nasceria em 2002. Hoje, produz soluções de controlo de qualidade e de armazenamento de dados de produção para gigantes como a Volvo, a Faurecia ou a 3M. Este ano vai aumentar o número de trabalhadores e uma das suas prioridades é contratar o especialista em informática e professor da Universidade Técnica de Wroclaw Jaroslaw Chrobot, que, sentado na sala de sua casa com vista para o jardim, parece disposto a aproveitar a maré de prosperidade da indústria.

Numa altura em que Portugal e a União Europeia resgatam a importância da indústria, quando a Comissão Europeia se desdobra em iniciativas para lançar o “renascimento da indústria” ou quando o Governo de Lisboa insiste na necessidade da “reindustrialização”, Wroclaw e a Baixa Silésia podem ser boas fontes de inspiração. Depois da crise de 2008, a União Europeia perdeu 3,5 milhões de empregos na indústria e o peso do sector no valor acrescentado bruto da economia desceu para 15% do total. Na Silésia, pelo contrário, a indústria floresceu nestes anos difíceis e vale 35% da economia e do emprego. Enquanto a indústria recuou 9% na União (em Portugal a queda chegou aos 13%), na Polónia o valor acrescentado da manufactura aumentou 17%. Em resultado deste surto industrial, a Polónia exporta bens e serviços que valem 46% da riqueza produzida num ano (PIB) Portugal ronda os 40% após seis anos de crescimento sucessivo.

A sua tradição manufactureira, que remonta à primeira vaga da revolução industrial, ajuda a perceber esta dinâmica: o custo da mão-de-obra continua a ser um poderoso íman para os investidores; a existência de uma rede de universidades com 141 mil alunos só em Wroclaw garante a disponibilidade de trabalhadores qualificados; a execução de políticas fiscais que penalizaram o consumo e a subida dos salários reais mantiveram a Polónia na rota do capital estrangeiro; a autonomia da política monetária (a Polónia não aderiu nem pensa aderir ao euro) permitiu ao Governo gerir o seu balanço externo, sempre que foi preciso actuar para tornar as exportações mais competitivas. Mas estas são apenas algumas das razões para explicar o sucesso da região. Sem uma estratégia política própria e sem meios pouco convencionais para atrair empresas e investimento, dificilmente a realidade seria o que é hoje. “Não quero exagerar, mas 50% do sucesso que tivemos deve-se às políticas pensadas e aplicadas na região nos últimos 20 ou 25 anos”, explica Andrej Kosiór, vice-presidente do governo regional eleito pela Plataforma Cívica, um dos principais partidos da Polónia.   

Os novos dias de Walbrzych

Não há melhor lugar na Baixa Silésia para se perceber o impacto dessas políticas do que em Walbrzych, a 70 quilómetros de Wroclaw. Chega-se lá após quase uma hora e meia de viagem, que começa numa auto-estrada e continua por estradas secundárias na planície verde que se estende até aos montes Sudetas, já na fronteira com a República Checa. Walbrzych, uma cidade inventada pelas minas, avista-se ao longe pela silhueta de duas enormes torres de listas vermelhas. Mais perto, impõem-se os blocos de apartamentos da era comunista, que a Polónia europeia tentou suavizar pintando-os com cores mais vivas e desenhos mais animados. Quando o regime colapsou, as quatro minas de carvão onde trabalhavam 26 mil pessoas foram encerradas e a cidade e a região tiveram de inventar um destino diferente após um século e meio de vida a escavar túneis e a extrair carvão a 400 metros de profundidade.

Slawomir Hunek lembra-se bem desses “dias difíceis”. Baixo e enérgico, vestido com um fato cinza reluzente, Hunek trabalhou durante 11 anos nas minas, o que lhe permitiu perceber melhor o desespero de milhares de mineiros que passaram de heróis da velha economia a párias da nova. “As pessoas tinham uma vida dramática e desumana, mas o culto do trabalho duro debaixo da terra gerava uma espécie de ética que os mineiros cultivavam. Por isso resistiram quando as minas fecharam”, recorda. Num ápice, o desemprego subiu para uns vertiginosos 37% da população activa. Alguns mineiros foram convidados a ir trabalhar para minas rentáveis em outras regiões da Polónia. Outros, como Bogodan Klimek, que hoje é guia turístico na mina Júlia (nos anos de 1950 chamava-se Maurice Thorez, em homenagem ao líder comunista francês), emigraram para países distantes para trabalharem na construção civil. Os mais idosos receberam reformas antecipadas. E muitos outros tiveram de se dedicar a pequenos negócios, seguindo o conselho de Lech Walesa, o líder histórico da transição, que pedia aos polacos para “controlarem tudo o que puderem na vossa vida”. Como consequência, “houve uma altura nesta cidade em que havia mais taxistas do que clientes”, lembra Slawomir Hunek.

As autoridades nacionais não sabiam como reagir perante a catástrofe económica na Baixa Silésia - e nas outras regiões industriais do país. Juntamente com as minas, a liberalização tinha arrasado um importante sector têxtil e destruído as gigantescas empresas estatais que fabricavam televisões ou frigoríficos para o Comecon, o espaço económico gerido a partir de Moscovo. “O Governo deixou para nós a decisão sobre o que fazer para diversificar a economia da região”, recorda o vice-governador, que na altura era presidente da câmara de Mieroszow, um pequeno município na orla da bacia mineira. De imediato, em 1991, cria-se uma agência de desenvolvimento regional que parte em missões para o estrangeiro à procura de apoio técnico e de investimento. O primeiro objectivo foi fácil de conseguir — missões de especialistas belgas e franceses ajudaram a definir as primeiras prioridades; o segundo, que procurava atrair capital externo, exigiu mais tempo e mais esforço.

“A nossa primeira tentativa foi com a IBM e correu mal. Eles foram para Cracóvia”, recorda Slawomir Hunek, que hoje preside à agência regional de desenvolvimento, uma instituição que reúne o governo regional, os municípios e empresas privadas. É então que surge a ideia de criar zonas económicas especiais com facilidades financeiras e fiscais para atrair o capital estrangeiro. “Fomos os primeiros a propor a criação dessas zonas, que depois foram aprovadas pelo Parlamento em Varsóvia”, congratula-se Andrej Kiosór. Para lá de oferecer terrenos e infra-estruturas, as empresas podiam beneficiar de reduções de impostos e taxas até 70% abaixo das condições gerais do país. Depois, já com a situação política normalizada, a Polónia assina os primeiros acordos de associação com a Comunidade Europeia em 1994 (só será membro da União em 2004), os fundos pré-adesão começam a chegar e a Baixa Silésia dá conta de que a era da devastação estava a acabar. “Tudo mudou quando a Toyota criou aqui uma fábrica, em 1998”, nota Hunek. Desde então, criaram-se 23 mil novos postos de trabalho apenas nas quatro zonas económicas especiais da Baixa Silésia. Depois da Toyota vieram a Volvo, a Fiat, a LG, a Bosch, a Siemens e uma vaga de investidores que no espaço de uma década fizeram de Wroclaw o epicentro de uma das regiões onde a indústria é a mola principal do quotidiano.

Ensino ao lado da indústria

Na capital da região, afinam-se estratégias para surfar na vaga do investimento estrangeiro. A Universidade Tecnológica de Wroclaw aumenta o seu número de alunos para 30 mil, cria um laboratório científico onde alunos, professores e quadros das empresas experimentam novas soluções. Um pouco por toda a cidade cresce uma rede de parques tecnológicos abertos a jovens que querem arriscar nos seus negócios ou a multinacionais sempre desejosas de descobrir ideias e talentos. No Parque de Tecnologia de Wroclaw nascem e florescem empresas que desenvolvem novas tecnologias com raios X ou criam-se redes com dezenas de empresas para, em conjunto com as universidades e centros de investigação, desenvolverem uma solução dietética chamada Nutrobiomed. O Programa Mozart, do município de Wroclaw, concede bolsas de cerca de 1200 euros (5000 zlotys) a investigadores que desenvolvam projectos nas empresas. E alunos de doutoramento podem candidatar-se a subsídios de 12 mil euros do Governo para construírem as suas teses no ambiente das empresas. Ao contrário de Portugal, onde persiste um muro entre a economia e o sistema científico, em Wroclaw os estudantes começam cedo a perceber que o saber prático, na indústria, é parte integrante dos seus planos de estudos.

Nas ruas do campus ou nos corredores da universidade nota-se um pouco desse ânimo. Para os jovens polacos, o futuro não é um problema principalmente quando, na cidade, o desemprego está abaixo dos 5%. Wroclaw é nestes últimos anos um lugar que se considera no centro do mundo. A sua praça principal, que conserva a feição medieval germânica, tornou-se o símbolo da sua confiança. Olhando para o mapa da Europa, percebe-se que o seu dinamismo resulta do crescimento da mancha industrial da Alemanha para uma região que, historicamente, sempre esteve sob a sua área de influência Wroclaw é a Breslau que os alemães tiveram de ceder à Polónia na ressaca da Segunda Guerra Mundial. “A nossa posição geográfica sempre nos levou a acreditar que seriamos capazes de nos desenvolver mais rapidamente do que as outras regiões”, explica o vice-governador da Baixa Silésia. Berlim fica a 350 quilómetros de distância e a densa região industrial da Boémia, na República Checa, a pouco mais de 200. Mas, para lá desta localização, Wroclaw tem uma atmosfera cultural que ajudou a expandir o investimento directo estrangeiro. “Nesta cidade sente-se uma atmosfera diferente, muito criativa. Ninguém diz que é daqui. Todos temos raízes em diferentes partes da Polónia. Isso criou uma cultura própria, visível até no sotaque das pessoas”, explica Zbignew Sebastian, um professor universitário que preside à Câmara de Comércio da Baixa Silésia.

Essa cultura especial resulta do fluxo de migrantes que em 1945 vieram principalmente dos territórios do Leste da Polónia, cedidos à União Soviética, para ocupar as zonas alemãs entre as margens dos rios Oder e Neise que foram entregues aos polacos. Nesses novos territórios, explica Zbignew Sebastian, a iniciativa privada nunca morreu por completo durante o período do comunismo. Quando a normalização política se consolidou e a chegada das grandes companhias mundiais acelerou, Wroclaw “dispunha de uma mentalidade única que ajuda a explicar a explosão económica que se seguiu”, acrescenta Zbignew. “Somos rápidos a tomar decisões e temos fome de sucesso. Herdámos isso. Sempre tivemos dificuldades em ser independentes. A nossa História é muito difícil. Aprendemos a viver lutando. Não somos gatos gordos”, nota Rafal Gliniki, dono da SA Traders, uma empresa de investimentos financeiros que actua no mercado de futuros de Chicago.

Krzysztof Skura, o engenheiro que na sua empresa desenvolveu uma tecnologia capaz de colher e analisar milhares de imagens de produtos que seguem numa linha de produção, é um produto dessa cultura de mobilidade e de dinamismo. Nasceu no Leste da Polónia, em Bitgoraj, a 60km da fronteira com a Ucrânia. O pai trabalhava na indústria de mobiliário, a mãe numa têxtil. Veio para Wroclaw estudar engenharia (foi aí que conheceu Jaroslaw, o companheiro que agora quer desviar da universidade para a sua empresa) e foi apanhado pelo torvelinho da nova revolução na indústria da Silésia. Como ele, muitos empreendedores ocupam os inúmeros parques de tecnologia de Wroclaw. Se as grandes fábricas são estrangeiras, a rede de pequenas empresas que gravitam na sua órbita são na sua maioria polacas. Umas dedicam-se às tecnologias de informação (um terço do software da Polónia já é produzido na região, embora Cracóvia, a uns 230km a sudeste, esteja à frente nesta indústria de futuro e seja já um dos principais hubs europeus); outras prestam serviços tecnológicos às grandes indústrias. Mais do que a manufactura de bens, o valor gerado pela indústria contemporânea está cada vez mais nesta incorporação de ciência e tecnologia nos produtos finais.

O capital estrangeiro é ainda assim a mola impulsionadora de toda esta dinâmica - um pouco com aconteceu com a rápida industrialização em Portugal após a adesão à EFTA, em 1960, num processo que o economista José Félix Ribeiro designa como “fase alemã” da economia portuguesa. Depender do capital estrangeiro “para nós não é nenhum problema”, diz Zbignew Sebastian, mas a prazo poderá ser. Depois de um longo período de rápido crescimento, a Polónia corre o risco de cair no que os estudiosos da economia chamam de “armadilha do rendimento médio”. “A grande vantagem da Silésia e da Polónia ainda é o custo da mão-de-obra”, nota o presidente da Câmara do Comércio, e todos sabem que o crescimento da economia está a fazer aumentar o valor dos salários, retirando à região um foco crucial da sua competitividade. Em 1995 o rendimento por pessoa na Polónia era cerca de metade do rendimento dos portugueses; hoje, em paridade de poder de compra, é quase igual (22.772 euros para os portugueses contra 18.000 para os polacos). Como consequência, o custo do trabalho está já hoje mais alto do que em outros países do espaço europeu, como a Roménia ou a Bulgária.

Na Polónia, o valor pago a um trabalhador por hora ronda os 8,4 euros contra 13,1 em Portugal. Apesar de todos os esforços do Governo para evitar fortes crescimentos salariais, a remuneração dos trabalhadores da indústria é hoje quase o dobro do valor de há dez anos em Portugal subiu apenas de 11,3 euros para 13,1. Continua muito longe do que se paga na Alemanha (24,6 euros) e permanece abaixo do grande rival industrial, a vizinha República Chega (9,4 euros por hora), mas a tendência é para continuar a aumentar. Para agravar os receios, muitos temem que o actual ciclo de fundos estruturais, que canalizará nos próximos sete anos 72.900 milhões de euros para a modernização do país (24 mil milhões para Portugal), seja o último. “Depois de 2020 temos de pescar sozinhos”, diz Zbignew Sebastian. E a probabilidade de sucesso nessa tarefa depende mais da capacidade de criar produtos com mais valor do que simplesmente manufacturá-los. “A inovação é a palavra-chave para o futuro”, diz o presidente da Câmara de Comércio.

O futuro, um novo desafio

Os planos para esse futuro próximo foram amplamente discutidos em sede do Governo regional, debatidos com empresários, agentes da sociedade e da cultura e com as universidades durante um ano e meio. Depois foram aprovados pelo parlamento regional, formado por 36 deputados, e negociado directamente com Bruxelas. Ao contrário do que se passa em Portugal, onde a programação e execução dos programas de fundos estruturais são fortemente centralizados, na Polónia acredita-se que, como diz Zbignew Sebastian, na “região sabemos melhor como gastar o dinheiro”. Para o futuro, “as prioridades são a educação, o empreendedorismo, a ciência e o que se designa agora por ‘especialização inteligente’”, diz o vice-governador. Os sectores como a electromecânica, a engenharia electrónica e as tecnologias de informação são os principais focos de atracção. “Nós mandamos sinais sobre as áreas para as quais consideramos importante diversificar, mas no final a decisão é dos investidores. Muitas vezes a nossa abertura à cooperação acaba por os influenciar”, diz Andrej Kosiór.

Capaz de competir com os checos, com os portugueses ou com os eslovacos, a nova geração de empresários polacos sabe agora que luta contra o tempo para criar uma indústria avançada e capaz de os aproximar do modelo alemão, onde a engenharia e os serviços valem mais do que a manufactura. “Temos muitas empresas abertas e inovadoras”, diz Sebastian, que não precisa de citar o sucesso mundial da CD Projekt, o videojogo The Witcher 3- Wild Hunt, que antes de chegar ao mercado tinha um milhão de cópias vendidas, para ilustrar o nascimento de uma nova vaga na indústria mais voltada para o futuro. Em vez de centrarem na Baixa Silésia apenas as suas fábricas, “muitas empresas mundiais começaram a instalar aqui os seus próprios centros de investigação e desenvolvimento”, sublinha Kristzof. As exportações com alta densidade tecnológica da Polónia representam 7,8% do total (4% em Portugal), segundo o Banco Mundial, mesmo que os seus gastos em investigação e desenvolvimento sejam muito menores do que os nacionais (0,9% do PIB contra 1,5%)

É por isso que, mais do que medo, a antecipação do que pode acontecer a seguir na indústria silesiana é um jogo de expectativas. A Polónia continua a atrair investimento estrangeiro (entre 2008 e 2012 recebeu quase 60 mil milhões de euros, contra 24.700 milhões em Portugal, já contando com os ingressos das privatizações). No ano passado, 31% dos empresários de vários países que responderam a um inquérito da consultora Ernst & Young consideraram que a Polónia é o melhor país da Europa do Leste para se investir. 

Para quem vive em cidades industriais como Walbrzych, o tempo é ainda de folgar da terrível depressão dos anos 90 e acreditar que o futuro ainda vai ser melhor. A construção de uma auto-estrada em direcção à Boémia aproximará ainda mais a cidade do coração industrial da Europa e permitirá, acreditam os seus habitantes, recuperar outra vez a aura que teve no esplendor das minas Walbrzych jamais recuperou a sua população da época (tinha 143 mil habitantes em 1990 e encolheu para os 118 mil de hoje), o rendimento por pessoa é ainda um terço do que se regista em Wroclaw e o desemprego ainda permanece acima dos 10%. Mas, “em 25 anos tudo mudou": "Vivemos numa cidade nova. A mentalidade é diferente. Vive-se muito melhor”, nota Slawomir Hunek. Com medidas fiscais agressivas, com uma política regional ousada e um ensino superior de classe mundial, a cidade e a Baixa Silésia deram a volta e cumpriram o papel que a União Europeia pede a todos os países por estes dias: que apostem na indústria.

O engenheiro Krzystof Skura e a mulher
Walbrzych, uma cidade inventada pelas minas, que agora são um museu
A Polónia é o melhor país da Europa do Leste para se investir, disseram quase um terço dos empresários ouvidos num inquérito