“O idioma português é o mais rico e o mais elástico do planeta”

Este sábado, 4 de Julho, no Grande Auditório do CCB, Ana Laíns e vários convidados celebrarão em conjunto os 8 Séculos da Língua Portuguesa. Às 21h.

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Ana Laíns e Ivan Lins, seu convidado: o português a várias vozes Rui Gaudêncio

Ana Laíns, portuguesa, Ivan Lins, brasileiro, ambos cantores, ambos fascinados pela língua portuguesa nas suas variantes, estarão no mesmo palco este sábado, 4 de Julho, no Grande Auditório do CCB, em Lisboa, precisamente a celebrar a língua portuguesa e os seus (oficiais, porque já conta mais do que isso) oito séculos de existência.

Com eles estarão outros músicos, actores, cantores ou declamadores que Ana Laíns, embaixadora nomeada pela Associação 8 Séculos da Língua Portuguesa, decidiu convidar. Além de Ivan Lins, estarão no CCB Aline Frazão, Celina Pereira, Karyna Gomes, Luiz Avellar, Marta Dias, Paulo de Carvalho, Júlio Soares, Joaquim de Almeida, Elsa de Noronha, Olinda Beja, Jorge Arrimar, Valéria Carvalho e os grupos Adufeiras de Idanha e A Moda Mãe, além dos músicos Paulo Loureiro (piano e direcção musical), Carlos Lopes (acordeão), João Coelho (percussão), Miguel Veras (viola), Hugo Edgar Silva (guitarra portuguesa), Rolando Semedo (baixo) e Iuri Oliveira (percussão).

A ideia nasceu num recital onde Ana Laíns cantou António Ramos Rosa. A presidente e fundadora da Associação 8 Séculos da Língua Portuguesa, Maria José Maya, ouviu-a cantar e lançou-lhe o desafio de ser embaixadora, enquanto cantora, do projecto. Ela aceitou e fez um primeiro concerto na abertura das comemorações, em Outubro de 2014, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Agora, a pretexto do encerramento das comemorações, propuseram-lhe um novo concerto, mas num palco maior. E ela teve a ideia de um “concerto maior”. “Achei que fazia sentido um concerto reunindo todos os povos que falam português. E já que vamos pensar nisto, vamos pensar em grande.”

O CCB embarcou na aventura e ela foi fazendo os convites. E, embora seja um concerto de Ana Laíns e convidados, a ideia é pôr os músicos a dialogar em palco uns com os outros. “De outra forma não faria sentido. Se este concerto visa representar a partilha, a união, a escrita de um futuro diferente entre estes povos, então essa partilha tem que estar representada em palco. Todos vamos ter momentos comuns, em dueto ou não.” No concerto ouvir-se-ão, além de vários temas dos cancioneiros de cada país, três inéditos com as assinaturas de José Eduardo Agualusa, João Gil, Nuno Júdice e Luiz Caracol.

Ivan Lins, por sua vez, diz sentir-se “muito confortável” neste formato de várias vozes. “Estou acostumado a ser chamado para concertos lusófonos. Acabei de fazer um em São Paulo, produzido e dirigido pelo guitarrista norte-americano Lee Ritenour. Ele costuma gravar compositores brasileiros e percebeu que todos nós temos um pé na África, quer dizer, a nossa música é muito contaminada pela cultura negra, que veio através dos escravos e das colónias portuguesas em África. E ele ficou muito curioso em relação a essas colónias e resolveu fazer isso através do idioma. Porque há um encontro muito poderoso através da palavra. E vieram músicos dos vários países: Guiné, Angola, etc.”

Ivan acha muito importante este tipo de encontros. “Para mostrar culturalmente as nossas semelhanças e as nossas diferenças. As nossas culturas são muito amarradas, porque o idioma português, o nosso idioma, é muito especial, eu acho que ele é o mais rico e o mais elástico do planeta. Temos uma capacidade de fazer um trabalho artesanal com o nosso idioma que eu acho que não existe em outro lugar do mundo.”

Isto prende-se, de algum modo, com a grafia das palavras? O acordo ortográfico vem de algum modo facilitar esta aproximação? “Eu sou totalmente contra”, diz Ivan Lins. “Radicalmente contra. É a mesma coisa que matar a árvore: cortando a raiz dela, a árvore não existe mais. Porque o idioma-mãe, que é o idioma daqui, é muito rico e conta a história dos nossos idiomas, de onde veio tudo. Eu acho tão lindo! Por exemplo: eu prefiro ler muitos dos livros, não todos, no português de Portugal. Transmite-me uma sensação… É como gostar da cidade. Dos prédios antigos. Eu gosto de coisas antigas, gosto de História.”

Ana Laíns, que partilha da mesma opinião quanto à ortografia, diz: “Tenho aprendido muito nesta minha ligação às comemorações dos 8 séculos e aceito a minha qualidade de pessoa que não sabe tudo, nem de perto. Eu nunca tinha pensado na questão do acordo ortográfico até estar envolvida nisto. E chego a esta conclusão: nós temos uma língua em comum, não há dúvida, mas ela não deixa de se desenvolver organicamente de acordo com aquilo que são as raízes e a essência de cada povo. E é essa diferença que está presente neste concerto. Eu quero, com ele, passar a ideia do respeito que nós temos que ter por esta diversidade, que é óptima. Não temos que ser clones uns dos outros, a diversidade só acrescenta. E devemos partilhá-la.”

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