A economia da arte e a arte sem preço

Há mercado de arte além do dinheiro ou negócio.

Todos os anos, em Junho, uma multidão dirige-se a Basileia para a ArtBasel, o evento mais importante do mundo da arte, a nível comercial. Cerca de 92 mil pessoas visitam a feira, desde prestigiados colecionadores até simples amantes de arte, passando por estrelas de Hollywood como Leonardo Di Caprio.

Os dois primeiros dias foram reservados aos VIP’s, que, nos apertados corredores da feira, esbarravam uns contra os outros em busca das melhores peças.

Mas, já estavam avisados daquilo que iriam encontrar. Além dos usuais emails que os coleccionadores e advisors recebem na semana anterior à feira informando-os do que será exposto, uma das galerias mais respeitadas do mundo, elevou a fasquia e enviou por correio, cintilantes catálogos aos coleccionadores mais leais. A verdade é que, mesmo antes das portas abrirem, várias obras em exposição já estavam vendidas. É assim que o mercado da arte funciona. As decisões têm que ser tomadas com rapidez e não há espaço para indecisões. E, como afirmou Larry Gagosian, famosíssimo galerista: "You snooze, you loose".

Mas, como é que o mundo da arte ficou na moda? Bem, isso deve-se, em grande parte ao volume de dinheiro injetado no mercado, sobretudo por um novo grupo de multimilionários de mercados emergentes que continuam a surgir, e por compradores que agem como investidores em busca de bens "reais" numa época de baixas taxas de juro.

Nos dias que correm, a arte é considerada por muitos como um tipo de bem alternativo aos investimentos financeiros usuais, dada como garantia para empréstimos ou até mesmo usada para evasão fiscal. Os freeports (armazéns gigantescos nas zonas de tax-free) nunca estiveram tão cheios e, se fosse possível visitá-los, seriam considerados como sendo dos melhores museus do mundo.

As feiras de arte começaram a aparecer em todos os cantos do mundo, tentando convencer os coleccionadores de que o seu programa é melhor do que o da concorrência. Temporada após temporada, o mundo testemunha um novo recorde mundial e esta tendência não parece abrandar. Para os coleccionadores mais conservadores, que se podem sentir postos de parte, o mundo da arte transformou-se num mundo de fantasia.

Apesar dos receios, não acredito que este mercado irá implodir, mas a resposta à pergunta "Quanto mais irá crescer?" é desconhecida. Numa altura em que o mercado se manifesta de forma tão eufórica, nunca foi tão importante olhar para a história da arte e entendermos que oportunidades se apresentam aos nossos olhos. Ser conversador nas escolhas seria o meu conselho neste momento.

Mas há mercado de arte além do dinheiro ou negócio. Há, ainda, cavaleiros andantes que defendem a arte. À margem dos caprichos do mundo da arte, organizam-se diversas iniciativas privadas.

A abertura da Fundação Prada, em Milão, foi motivo de conversa no meio da arte, no passado mês de Maio. Guiada pela vontade de tornar a arte atractiva para o público mais jovem, Miuccia Prada abriu um espaço impressionante no coração de Milão no qual os visitantes, por apenas 10 euros, podem passar o dia na galeria, livraria e cinema. "A cultura deve ser percepcionada não como algo acessório ou decorativo mas como algo profundamente útil. Útil na medida em que pode responder a questões políticas e até existenciais" afirma Miuccia.

O mesmo interesse, mas com um ângulo diferente, despertou o artista e colecionador Bernar Venet, ao abrir uma Fundação no sul de França, com a sua colecção em exibição. Rodeada por natureza e não muito longe de Saint Tropez, os visitantes podem contemplar trabalhos de alguns dos mais importantes artistas minimalistas e conceptuais dos anos 60 e 70.

Até Atenas, mesmo num país mergulhado numa profunda recessão, viu a sua cena artística elevada pelo magnata George Economou. A desenvolver uma colecção desde os anos 90, exibe agora, três vezes por ano, parte das obras que detém. Numa cidade repleta de museus dedicados à Antiguidade mas que dá pouca atenção à arte europeia mais recente, este é um grande serviço prestado ao país.

Mais do que exibicionismo, estes são actos de partilha, permitindo ao público em geral ter a experiência de ver ao vivo importantes peças de arte que de outra forma estariam fechadas por décadas. Estes indivíduos estão a oferecer à comunidade um número de experiências que os Estados não são capazes de proporcionar.

A Europa debate-se com grandes problemas a nível social, económico e político. A cultura não é uma prioridade. Mas a arte pode ser um escape. Através da arte podemos compreender o mundo no qual vivemos e até tornarmo-nos mais tolerantes através da multiculturalidade que experienciamos diariamente. E a arte pode ser uma porta para os nossos pensamentos e sonhos mais surreais.

Art Advisor

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