A uberização não vai andar para trás

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Enquanto isto acontecia — ou seja, enquanto a polícia tentava repor a ordem e os acessos aos aeroportos de Paris, transformados num caos por 2000 taxistas enlouquecidos contra a Uber —, Courtney Love, famosa, entre outras coisas, por ter sido casada com Kurt Cobain, escreveu isto no Twitter: “Eles cercaram o nosso carro e fizeram o nosso motorista refém. Estão a bater em carros com barras metálicas. Isto é a França? Estou mais segura em Bagdad.”

Love estava a sair do aeroporto Charles de Gaulle a caminho de Paris e contou a história passo a passo, incluindo a fotografia de um vidro do seu carro esmagado e uma mensagem dirigida ao Presidente François Hollande: “É legal o teu povo atacar os visitantes?” (como quem sublinha que o Governo francês se apressou a declarar a Uber ilegal, mas não teve pressa em prender os taxistas violentos).

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Polícia francesa antimotim reposiciona um carro virado por taxistas em protesto contra a Uber, esta quinta-feira, em Paris CHARLES PLATIAU/REUTERS

Os protestos desta quinta-feira em Paris fazem lembrar as velhas técnicas dos estivadores. O mundo, sabemos, vai continuar a mudar. O negócio dos taxistas não é excepção. A indústria da música teve de se reinventar, e a do cinema, e a dos jornais, e a das televisões. Até a Kodak conseguiu. Os serviços “a la Uber” nascem como cogumelos, para tudo e mais alguma coisa. De “passeadores de cães” a troca de casas, incluindo empregadas de limpeza e viagens de avião. Agora, chamam-lhe a “uberização” da sociedade. É um sinónimo de “economia da partilha” ou “on-demand economy”. E nada mais é do que recuperar, numa plataforma tecnológica, o mundo dos pequenos serviços de proximidade.

Como esperado, a guerra faz mortos e feridos todos os dias. Dos dois lados. Os taxistas não querem perder clientes, mas são incapazes de melhorar o serviço. Acusam a Uber de ser desleal e injusta: não tem de pagar seguros comerciais nem seguros para passageiros que são clientes; pode usar qualquer tipo de carro; os carros não têm inspecções particulares; os motoristas não são escrutinados nem têm de enviar impressões digitais para as autoridades; discrimina, pois excluiu quem não tem smartphones nem cartões de crédito. Além disso, não é obrigada a garantir que 10% dos seus carros sejam acessíveis a deficientes. Muitos destes argumentos estão a ser discutidos em tribunal. A Uber também é acusada de coisas que não precisam de ir a tribunal para se dizer que são erradas, como boicotar com falsas chamadas os rivais Gett e Lyft. Mas tudo parecem detalhes técnicos e problemas temporários. O CEO da empresa, que está milionário e sabe que faz milhares de pessoas felizes todos os dias, já está a pensar em carros que não precisam de condutores. No Centro de Tecnologia Avançada da Uber em Pittsburgh não se fala de outra coisa.

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