A “melhoria” do país

Paradoxalmente, o índice de confiança dos portugueses está a aumentar e esse aumento tem-se repetido ao longo dos últimos meses. Porque será?

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Luís Octávio Costa

Agora que a troika “saiu” de Portugal e que o nosso caro vice primeiro-ministro declama que Portugal tem uma média de crescimento superior à europeia, penso que arribamos a um bom momento para fazer um “ponto de situação” e analisar os parâmetros económicos e sociais do país — principalmente estes últimos, porque por mais que os fiéis seguidores da “mão invisível dos mercados” de Adam Smith praguejem o oposto, eu considero ignominioso que a economia seja regulada por números e lucros crescentes e não por fatores humanos, animais e ambientais.

O salário médio é de 581 euros. O valor médio do trabalho é hoje mais baixo do que em 2007, o que quer dizer que hoje um trabalhador ganha menos do que em 2007. Uma em cada três crianças encontra-se em risco de pobreza e esse valor tem vindo a aumentar, substancialmente, desde 2011. O desemprego continua a subir (apesar da resistência do Governo em assumir esta realidade e da maior taxa de emigração de que há memória e registo em Portugal). A taxa de mortalidade também tem vindo a aumentar desde 2011 (o mesmo acontece à taxa de mortalidade infantil).

Os cortes na saúde constituíram o dobro daqueles que foram negociados com a troika e, muito provavelmente, resultaram no aumento da taxa referenciada no ponto acima. Os cortes nas pensões (considerados, persistentemente, inconstitucionais) fazem com que os nossos idosos — à partida dos mais pobres da Europa — fiquem ainda mais expostos à exclusão social e à miséria. O fosso entre os ricos e os pobres tem vindo a aumentar nos últimos 5 anos e, consequentemente, a classe média tem vindo a ficar numa posição cada vez mais fragilizada. A OCDE sustenta que Portugal foi o país que registou um maior aumento de impostos em 2013. Numa notícia recente, recebemos ainda a informação de que as pensões pagas a partir de 2015 valerão menos de metade do salário (45%) e menos de um terço em 2060 (30%) o que, fazendo o cálculo a partir do valor do salário médio atual (que provavelmente decrescerá até lá) perfaz pensões médias de 261 euros e 174€ euros, respetivamente.

Podia continuar. Mas penso que estes são indicadores suficientes. Estas são evidências à margem de crenças sebastianistas ou de fés inabaláveis, de esperanças baseadas em falácias ou em "marketing político". Paradoxalmente, o índice de confiança dos portugueses está a aumentar e esse aumento tem-se repetido ao longo dos últimos meses.

Porque será? Será por causa dos comentários do costume dos comentadores de turno? Será por causa dos salmos e das loas em nome de uma suposta melhoria das condições de vida dos portugueses e da economia que preenchem os discursos em horário nobre? Será por via da “competitividade” deste Governo — que é sinónimo de baixos salários — e da venda ao desbarato da mão-de-obra portuguesa lá fora? Será pela apologia ao “empreendedorismo” que, normalmente se traduz no aumento dos trabalhos precários e na diminuição dos direitos sociais?

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