Quem corta o nó górdio?

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A crise grega esvaziou as palavras. Suspense, jogo à beira do abismo, contagem decrescente já nada querem dizer. Há apenas espera — espera e repetição. Na quinta-feira (dia em que escrevo), decorria mais uma “decisiva” reunião do Eurogrupo sobre a crise grega: a sétima desde Janeiro. O Le Monde titulava: “Grécia, dez dias para evitar o pior.” Repetia um título da AFP em 2011.

Quais as datas fatídicas? O Financial Times seriava na quarta-feira: 18, 19, 21, 22, 25 e 30 de Junho — derradeira data para pagar ao FMI. No dia 1 de Julho, entra-se em “território desconhecido”. E ainda 20 de Julho: a “definitiva” deadline, a do reembolso de dois empréstimos do Banco Central Europeu. O historiador grego Stathis Kalyvas avisa que o desenlace pode demorar até Setembro.

O economista italiano Francesco Giavazzi desespera: “De há cinco anos para cá, a Grécia é o problema que preocupa a Europa: não o trabalho, não a imigração, não a Rússia de Putin mas um país que representa 2% do PIB dos países da união monetária. Seria interessante calcular quantas horas dedicou a Atenas a senhora Merkel nestes cinco anos. Que pensaríamos se descobríssemos que Obama dedicou o mesmo tempo aos problemas do Tennessee, um estado que conta, na federação americana, um pouco mais do que a Grécia na Eurozona? Nestes cinco anos, o mundo mudou, sobretudo no Oriente.”

Que quer Tsipras, interroga-se Kalyvas. Ganhar tempo para obter o melhor acordo? Negociar, mas está amarrado pelo seu partido? É mais um populista no estilo do velho Andreas Papandreou? “Nunca iremos saber o que realmente quer Tsipras”, conclui. O britânico Gideon Rachman sublinha o “comportamento errático” de Tsipras e pergunta: quer Atenas deixar o euro? Calcularão os radicais do Syriza que a opinião pública os seguirá à medida que a crise se intensifique?

O Syriza não tem mandato para uma ruptura com o euro. É muito complicado: “Os gregos votaram ao mesmo tempo para acabar com a austeridade e para permanecer no euro.” As sondagens indicam que a maioria dos gregos quer ficar no euro, mesmo com um “mau acordo”.

E do lado do Eurogrupo? A redução da dívida grega é inevitável. Mas antes ou depois das reformas gregas? Surge entretanto a notícia de que Merkel e Schäuble teriam entrado em colisão sobre a Grécia. Merkel seria sensível ao risco geopolítico (que muito preocupa a América) duma “queda da Grécia” que abra portas ao expansionismo russo nos Balcãs e no Sueste europeu. O pior que pode acontecer é os jogadores enganarem-se sobre os cálculos uns dos outros, o que conduz ao choque e a desfechos “acidentais” que nenhum deseja. À medida que o tempo passa, o risco aumenta. Quem corta o nó górdio?

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Yanis Varoufakis, ministro das Finanças, no Parlamento de Atenas, escutando Tsipras, na terça-feira Louisa Gouliamaki/AFP

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