Netanyahu recusa iniciativa de paz francesa antes de a ouvir

Paris quer explorar a “abertura inédita” dos EUA, que admitem não poder continuar a defender Israel como até aqui. A ideia é envolver o mundo árabe, a UE e os membros com direito de veto no Conselho de Segurança num processo que pode terminar com o reconhecimento da Palestina.

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Netanyahu no final do conselho de ministros deste domingo Dan Balilty/AFP

A poucas horas de receber o ministro dos Negócios Estrangeiros francês e com Laurent Fabius já em Ramallah, a curta distância de Telavive, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez saber o que pensa da iniciativa de paz para o conflito israelo-palestiniano que França quer lançar. “A única forma de alcançar acordos é através de negociações entre os dois lados, rejeitamos firmemente tentativas para nos imporem um diktat internacional."

Mais tarde, Netanyahu disse aos jornalistas que o Egipto já informou o seu Governo que vai enviar um embaixador para Israel e repetiu que a paz “não se consegue com resoluções da ONU ou por imposição externa”. Fabius esteve sábado no Cairo, onde se reuniu com a direcção da Liga Árabe. Passou depois por Amã, antes de chegar à Cisjordânia.

“A palavra diktat não faz parte do vocabulário francês nem da proposta francesa”, respondeu Fabius, ainda em Ramallah, ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano, Riyad al-Maliki. Fabius defendeu que sem uma tentativa de negociar a paz o conflito “pode explodir” – a última tentativa, e enésima em 40 anos, promovida pelos Estados Unidos, fracassou em Abril do ano passado, depois de nove meses de mediação do secretário de Estado John Kerry. Seguiu-se uma nova guerra em Gaza.

O plano francês ainda não está fechado. Mas a ideia de partida passa por criar um comité que junte países da Liga Árabe, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e representantes da União Europeia para definir os critérios das negociações, acompanhar o seu desenvolvimento e estabelecer um prazo, em princípio de 18 meses, para as concluir. A grande novidade é que se o prazo chegar ao fim sem um acordo pode ser votada uma resolução na ONU a reconhecer um Estado palestiniano.

“Não serve de nada propor uma resolução à espera de um veto”, explicou Fabius à imprensa francesa, antes de partir para o seu périplo. Os Estados Unidos sempre vetaram resoluções críticas ou prejudiciais para os interesses israelitas, mas o Presidente Barack Obama afirmou no início de Junho que a ausência de um processo de paz e as condições impostas por Netanyahu para a criação de um Estado palestiniano estão a tornar cada vez mais difícil a defesa de Israel na ONU pelos norte-americanos. Esta posição, diz o chefe da diplomacia francesa, “é uma abertura inédita que é preciso explorar”.

Uma pedra chamada colonatos

No Cairo, primeira paragem dos dois dias de Fabius na região, o ministro começou por afirmar que “a segurança de Israel deve ser completamente assegurada, isso é fundamental”. Mas na mesma frase disse que, “ao mesmo tempo, é obrigatório que os direitos dos palestinianos sejam reconhecidos, porque se não houver justiça não haverá paz”. Tendo isto em conta, acrescentou, “cada vez que a colonização avança, a solução de dois Estados recua”.

Israel continua a sua política de construção de colonatos – aliás, nunca interrompeu a construção, considerada ilegal pela ONU –, erguendo novas urbanizações na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental. “Esta não é a única pedra no caminho, mas se quisermos uma solução de dois Estados, a única exequível como as duas partes reconhecem, essa é uma solução que a colonização acabará por impedir fisicamente”, disse Fabius, antes de deixar o Cairo. Há muito que os colonatos ameaçam a possibilidade de um Estado palestiniano com continuidade geográfica.

“Estão a tentar empurrar-nos para fronteiras indefensáveis, ignorando o que vai acontecer do outro lado”, acusou Netanyahu. De acordo com este argumento, habitualmente usado por Israel, combatentes armados ocupariam de imediato as áreas deixadas livres por Israel. “Isto vai resultar naquilo que já assistimos e experimentámos com o preço da nossa pele, de Gaza ao Líbano”, disse o primeiro-ministro, referindo-se à retirada unilateral israelita de Gaza, em 2005, à qual se seguiu a vitória do movimento Hamas e a sua eleição para o governo da Faixa, e aos ataques do Hezbollah libanês, com o qual o Estado de Israel já se envolveu em várias guerras, incluindo o mortífero conflito do Verão de 2006.

“O nosso objectivo é apresentar várias ideias e ainda não o fizemos”, reagiu o ministro francês, pedindo para não ser “julgado antes” de ter sequer a oportunidade de se explicar.

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