Dinheiro volta a rolar nas mesas de jogo dos casinos

Em queda há seis anos, as receitas dos casinos aumentaram 5% até Abril. Contudo, as empresas desvalorizam e lembram que a subida se segue a fracos resultados.

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Casino Lisboa deu lucro no ano passado Miguel Madeira
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Ainda não será um jackpot, mas nos primeiros quatro meses do ano as receitas brutas dos casinos aumentaram 4,4 milhões de euros (5,2%) em comparação com o mesmo período de 2014. No seu conjunto, as quatro empresas que exploram as concessões do jogo em Portugal têm visto as receitas derrapar há seis anos consecutivos mas, pelo menos, 2015 começou com melhor sorte.

Entre Janeiro e Abril, a facturação alcançou os 89,8 milhões de euros, 28% dos quais obtidos nas mesas de jogo e máquinas do Casino Lisboa, da Estoril-Sol. O casino da capital facturou quase tanto como as receitas conjuntas das cinco salas da Solverde, o segundo maior operador do sector. Na lista dos que mais facturaram, seguem-se o Casino Estoril e o Casino de Espinho, com 12,7 milhões de receitas (bingo excluído).Apesar da evolução positiva, as empresas desvalorizam os resultados e lembram que estão há anos a perder clientes. Se em 2011 tinham mais de 6,4 milhões de visitantes, em 2013 receberam 5,5 milhões, argumentam. Entre 2008 e 2014 as receitas brutas diminuíram mais de 103 milhões de euros, fruto da crise e da quebra de rendimentos dos portugueses. Recorde-se que as receitas do jogo financiam em 62% o orçamento para promoção do Turismo de Portugal.


Artur Mateus, director de jogo adjunto do Casino Estoril, diz que o aumento de mais de 5% entre Janeiro e Abril “não é motivo para traçar qualquer perspectiva optimista”. “Em primeiro lugar, porque são apenas quatro meses e, portanto, é muito cedo para identificar uma tendência. Em segundo lugar, porque esta evolução é a primeira excepção de crescimento, que se segue a um período de contínuo decréscimo das receitas dos Casinos”. Há ainda que contar com as consequências da entrada em vigor da lei que autoriza o jogo online. Artur Mateus acredita que, com o arranque da concessão de licenças de exploração no segundo semestre, haverá “um impacto negativo nas receitas dos Casinos físicos”.

O director de jogo adjunto do Casino Estoril, onde circulam em média dois mil clientes nos dias de semana, diz que ainda é cedo para identificar os verdadeiros motivos para o aumento das receitas verificado até Abril, mas esta “pequena luz ao fundo do túnel” deve-se, em parte, ao investimento feito em animação e entretenimento, área em que os casinos apostaram fortemente. “Não há uma comparação linear entre os espectáculos e os resultados do jogo, mas a animação é necessária para trazer pessoas ao casino”, sustenta. No relatório e contas da Estoril- Sol de 2014 regista-se, aliás, um aumento de receitas operacionais relacionadas com a restauração e animação que, aliada a cortes nos custos, permitiu limitar as perdas provocadas pela queda de receita de jogo (26 milhões de euros de resultados operacionais). Ainda assim, as áreas de lazer não conseguiram conter os prejuízos de 1,7 milhões o ano passado.

A Solverde, que explora a concessão dos casinos de Chaves, Espinho, Vilamoura, Monte Gordo e Praia da Rocha, também aumentou a “política cultural e de lazer”. A empresa não se mostrou disponível para responder às questões do PÚBLICO mas no seu relatório de gestão do ano passado sublinha a diversificação na oferta, “a actualidade dos espectáculos e a originalidade da animação” como parte da estratégia. Liderada por Manuel Violas, a Solverde antevê um cenário “um pouco mais optimista” para 2015 mas “com um razoável nível de prudência que a incerteza de conjuntura económica recomenda”. Depois de prejuízos de 8,3 milhões o ano passado, estima agora um resultado negativo de seis milhões, “admitindo que não se consigam concluir os processos de negociação dos contratos de concessão em vigor”.

Na Madeira, o casino explorado pelo Grupo Pestana foi o único a diminuir as receitas em mais de 3% para 2,7 milhões de euros entre Janeiro e Abril. Luigi Valle, administrador da empresa hoteleira, também desvaloriza os números globais do sector, defendendo que é preciso “ter em consideração que o ano anterior foi fraco”. “Também se fala em Portugal que estamos numa fase fantástica em termos de turismo mas é preciso comparar com anos anteriores em que as próprias ocupações eram diferentes”, sustenta.

Contactada, a Amorim Turismo (Casino da Figueira e de Tróia, este em vias de ser vendido à capital de risco Oxy Capital), preferiu não responder às questões enviadas.

O domínio das máquinas
Numa segunda-feira ao final do dia, as slot machines do Casino Estoril estão dominadas por clientes de cabelo grisalho. Um grupo de jovens bem vestidos quer entrar para tentar a sorte mas é barrado à entrada pelo segurança, que lhes pede a identificação. “Sempre que me pedem para mostrar o cartão de cidadão tenho azar”, diz, a rir, uma das raparigas.

Nas mesas, onde se joga roleta ou blackjack há homens e mulheres atentos, quase todos portugueses. “Não houve mudanças no perfil de cliente, mas sim na frequência. Vêm menos e jogam menos tempo”, conta Artur Mateus.

A 30 quilómetros de distância, no casino que mais receitas faz em todo o país e o único da Estoril Sol que dá lucro (8,9 milhões de euros em 2014), o número de máquinas disponíveis não tem parado de aumentar. Em 2006, o Casino Lisboa instalado no Parque das Nações, tinha 800, este ano já vai nas 1100. As mesas de jogo, 28, aumentaram apenas “ligeiramente”, diz José Afonso, da direcção de jogo. “Para o bom desempenho do Casino Lisboa contribuiu o seu modelo de negócio. A localização é importante e devido à crise económica e financeira dos últimos anos foram feitas reduções de despesa, incluindo a diminuição dos espectáculos de artes circenses e do número de actuações de bandas durante a semana”, explica. Do total da receita, 82% é proveniente das máquinas e 18% do jogo bancado.

Também aqui não houve mudanças no perfil de jogadores. Com o aumento do turismo em Lisboa, o casino recebe mais estrangeiros, sobretudo, ingleses e espanhóis, mas a grande fatia de clientes continua a ser nacional e, maioritariamente, do sexo masculino. Os chineses são jogadores habituais e isso nota-se à volta das mesas de Ponto e Banca, um jogo de cartas em que o jogador pode apostar na banca, no ponto ou no empate.

“Quem prefere jogos bancados procura a emoção da roleta e interacção social. As máquinas são mais solitárias e não há o factor social”, diz José Afonso. É também nas mesas que se fazem as maiores apostas e foi neste tipo de jogo que o aumento homólogo das receitas foi maior: 7,8% entre Janeiro e Abril, face a 2014, no total do mercado.

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