Orquestra Duchamp, um frenesim musical na Culturgest
Oportunidade única para assistir, em Lisboa, ao transe caleidoscópico da Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp. Este sábado na Culturgest, às 21h30.
O nome Duchamp é apenas uma referência espirituosa. Mas serve para identificar o estilo que a orquestra suíça que se apresenta na Culturgest, este sábado, cultiva.
Nascida em Genebra, num lugar dedicado à música experimental, a Cave 12, teve por mentor um contrabaixista francês radicado na Suíça chamado Vincent Bertholet. A Cave 12 deu-lhe carta-branca para um projecto e ele decidiu criar um grupo heterogéneo, quer nas origens dos músicos que viriam a integrá-lo quer nas áreas musicais a que cada um deles surgia ligado. Isto sucedeu em Novembro de 2006 e ao grupo afluíram um baterista vindo de um grupo anarco-punk de escoceses radicados em Amesterdão (Wilf Plum), uma violinista e vocalista que era animadora de ateliers musicais (Liz Moscarola), uma percussionista clássica (Aida Dop), um trombonista também vindo do universo punk (Florian Saini) e um guitarrista ligado à cena do rock independente (Maël Salètes).
Formado o grupo, veio o nome: Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp. “Tout Puissant”, explica Bertholet nas notas divulgadas à imprensa, “remete para as big bands do ocidente africano, que têm todas este qualificativo. Quanto a Marcel Duchamp, ele foi, na nossa opinião, o primeiro artista punk. Associaram-no muitas vezes ao movimento dada, mas ele próprio recusava todas as categorias. Navegava à sua vontade entre os estilos. Tal como nós.” Pretensioso, tal nome? Pode parecê-lo, reconhece Bertholet, mas “na verdade, no entanto, é pura ironia.”
E essa ironia reflecte-se na música. Vincent Bertholet (contrabaixo) Liz Moscarola (violino e voz), Wilf Plum (bateria), Maël Salètes (guitarra), Aida Dop (marimba) e Florian Saini (trombone) vão, este sábado, mostrar de que forma isso é verdade. Será no palco do Grande Auditório da Culturgest, às 21h30. Chame-se-lhe, como alguns fazem, “mosaico pop instintivo”, “afro-transe-urbanpunk”, “música caleidoscópica duma perfeita coesão”, a verdade é que a música desta original orquestra é pop, mas inclassificável. Como, aliás, o próprio Duchamp.
A revista francesa Les InRockuptibles, na crítica ao disco Rotorotor (de 2014), escreveu que, um século depois de John Cage ter escrito Music for Marcel Duchamp, a Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp “continua a propagar esse espírito livre e iconoclasta, mas desta vez – a ideia é excelente – canalizada pelo rigor excêntrico de John Parish, familiarizado com as distorções de linguagem através de PJ Harvey ou Eels. Solos hilariantes de brinquedos, cavalgadas de guitarras, exuberância e vocalizos em espiral, num regime estritamente sensual. É no frenesim, na excitação, na mundialização jubilosa que a Orchestre apresenta canções magnificamente inacabadas, que o palco se encarregará forçosamente de levar mais longe no seu transe.”
Quem quiser conferir, antes do concerto, o que significa tudo isto, tem várias composições è disposição no Youtube, como It looked shorter on the map, Elephants ou Tralala.