Cartas à Directora

Dia D e Turquia

Tenho muita dificuldade em escrever assinaturas laudatórias ou em ter gurus  e, das primeiras, as únicas de que me recordo foram as que deixei ficar em dois países diferentes. Uma em França, num cemitério americano junto de uma praia na Normandia onde se realizou o desembarque das tropas aliadas no dia D e onde morreram centenas de jovens... para nos salvarem das garras de tenebroso e louco "senhor do bigode tipo mosca". A outra, há menos anos, junto do túmulo de Attaturk, em Ankara, capital da Turquia.

Das duas vezes o fiz emocionado porque prestava singela homenagem a bravos homens. Dos primeiros já falei, do segundo, o presidente turco que iniciou a criação dum estado secular e democrático que se foi impondo ao mundo pela sua caminhada social e beleza deslumbrante, a história aí está para o demonstrar.

Espero bem que as duas permaneçam nos livros por muitos anos e quero crer que sim. Pelo menos é o que prenunciam a desavença entre o pai e a filha Le Pen, em França, e a "derrota" do actual presidente turco Erdogan naquilo que queria quanto ao exercício dum perigoso poder absoluto e religiosamente confessional.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

 

O pai da minha filha em vez do meu Ex

Uma expressão por demasiado ouvida é “o pai da minha filha”, ou “ a mãe do meu filho”, em vez de o “meu ex-marido” ou, a “minha ex-mulher.

Parece haver um certo pudor em dizer publicamente que, para terem feito “aquela criança”, tiveram uma “relação”, que até pode não ter sido sexual – proveta? –, até nem de amor, mas da qual resultou um filho, uma filha. Mesmo que tenha acabado, hoje, tão fácil, hoje tão usual, não se imagina que foi tudo feito por inseminação artificial, entre desconhecidos.

Mais são as mulheres que insistem em não dizer “Ex”! Até por, na prática e na teoria, serem quem continua privilegiadamente a ficar com a guarda das crianças num divórcio, numa separação. Está provado! (…)

Talvez o relacionamento via filhos, de baixo para cima, seja o único que “hoje existe”, sendo que, presume-se que esse relacionamento possa, até hoje, ser mais facilitado com o assumir que a relação – antes – existiu e acabou. Mas houve. E houve “ex’s”. E tanto existiu que está ali, aqui, a filha, o filho dessa relação e foi feito/concebido supostamente dentro da relação. E, não fora.

Parece haver uma imperiosa necessidade, em demasiadas situações de “filtrar”, de apagar pedaços da vida, da memória, não os assumindo abertamente como tendo existido. Tendo acabado, parece que só conta o “resultado”, que foi a criança. (…)

Houve, acabou, pode haver – agora – outro. Mas num tempo houve aquele e ficou aquela criança. E esta criança é resultado de dois “ex-s” que hoje já não existe, por antes terem sido! Estes conceitos – preconceitos? – estão tão instalados e tão verbalizados, que também ajudam, e de que maneira,  as crianças a serem  joguetes entre ambos os progenitores (…)

A. Küttner de Magalhães, Porto

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