Ontem, hoje, e que amanhã?

Um documento, válido e interessante, sobre o que está a acontecer com Lisboa, agora, em meados desta segunda década do século XXI.

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“Isto é um loop: estão a destruir isto tudo para construir hotéis para albergar os turistas que vêm ver o que está a ser destruído para construir hotéis para albergar turistas que vêm ver o que está a ser destruído”.

E continua ainda mais por umas voltas, plenamente consciente do loop, o “popular” registado pela câmara de Rui Simões que assim sucintamente descreve o fenómeno que está a mudar a face dos bairros históricos de Lisboa.
Alto Bairro

concentra-se num deles, o “bairro mais alto”, que já foi de má fama, durante décadas, já foi da “moda” (nos anos 80 e 90) e agora é parte central do

theme park

lisboeta, adaptado a aglomerações de turistas. Rui Simões concentra-se primordialmente no Bairro Alto que a “gentrificação” tornou invisível: os moradores, os pequenos comércios, os clubes e associações de bairro. São muito deponentes, novos e velhos, uns mais conhecidos (o cineasta José Fonseca e Costa, que ali habita) do que outros, e o tema é sempre o mesmo: como era o bairro, como é agora, e o que lhe irá acontecer. Evocam-se os tempos da “má vida” (a prostituição, a boémia), as tradições locais (o fado ou as marchas, por exemplo), a questão da segurança ou da insegurança, o início da

movida

(imagens do Frágil de outras décadas), a invasão de bares, a substituição do comércio tradicional por lojas e lojinhas de gosto e estilo mais “moderno”, a chegada dos condomínios fechados e exclusivos, que se escondem e protegem do próprio bairro em que se instalaram.

Não é, formalmente, o filme mais elaborado da obra de Rui Simões, mas revela, mais uma vez, o seu interesse pelo “outro lado” da Lisboa moderna (como em Ruas da Amargura), que com ela dialoga de modo nem sempre harmonioso. E acaba por ser um documento, válido e interessante, não apenas sobre o Bairro Alto, mas sobre o que está a acontecer com Lisboa, agora, em meados desta segunda década do século XXI.

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