Três Irmãs de Tchékov vai percorrer Coimbra para questionar “a grande narrativa”

Peça de quatro actos estreia a 1 de Julho e cada um vai ser representado em dias e espaços diferentes da cidade.

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O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha é um dos palcos da peça Dato Daraselia

Baseada num texto da autoria do escritor e dramaturgo russo Anton Tchekov, a peça Três Irmãs (Making of), encenada por Marco António Rodrigues para a companhia de teatro de Coimbra, O Teatrão, pretende ser “uma metáfora do país”.

Com estreia marcada para 1 de Julho e em cena durante um mês, os quatro actos da peça vão ser representados em espaços e dias diferentes. A peça estreia-se na Casa Municipal da Cultura, o segundo acto passa-se no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, o terceiro na Liga dos Combatentes e o último é representado na Oficina Municipal do Teatro, onde está sedeada a companhia.

A directora de O Teatrão, Isabel Craveiro, explicou, durante a apresentação da peça, nesta quarta-feira, que esta pretende constituir-se como uma “profunda discussão sobre a transformação daquilo que é o Estado, daquilo que é o país e o nosso papel enquanto cidadãos”.

Fazendo o paralelismo com a época em que Tchekov escreveu o texto, ainda antes da Revolução de 1917, quando o autor “antecipou uma transformação na ordem social e económica”, Isabel Craveiro entende que se tem vindo a operar nos últimos anos uma “mudança radical” na sociedade, realidade que se reflecte na peça. Assuntos do Portugal contemporâneo como a transformação do modelo do estado social e as privatizações são também objecto de análise.

Na viagem pela cidade, cada etapa tem um simbolismo. Isabel Craveiro refere a recuperação da “ideia de andarilho” para aproximar O Teatrão “da realidade e do quotidiano das pessoas”. Nesta lógica, o público tem uma função ao longo dos quatro actos.

No primeiro, os espectadores serão colocados como se estivessem “à espera de ser atendidos”, como acontece em vários serviços públicos; no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, o espaço será aproveitado para um “confronto entre modernidade” e o monumento, reflectindo-se sobre a transformação do país; na Liga dos Combatentes, é tratado o 25 de Abril e o “rebranding” de Portugal; por fim, na Oficina Municipal do Teatro, dá-se o “regresso a casa”.

No último acto é apresentado um documentário que vai sendo composto ao longo dos anteriores e cujas perguntas que levam à realização “afinam o diapasão de acordo com as grandes narrativas dos meios de massas”.

Cada acto terá a duração de uma hora e lotação limitada a 50 espectadores. Os bilhetes custam 10 euros pelo conjunto dos quatro dias e 3 euros por cada acto. O objectivo passa por “digerir esta experiência” para ser apresentada em sala em Setembro, explica Isabel Craveiro. A partir de 2016 o espectáculo vai percorrer várias cidades do país.

Depois de ter anunciado que ia ficar sem apoios por parte da DG Artes pela primeira vez em 15 anos, O Teatrão submeteu, na terça-feira, três candidaturas a apoios pontuais. A mais alta, no valor de 15 mil euros, para levar a peça Três Irmãs (Making Of) a São Paulo. Segundo a directora, a companhia mantém o diálogo com a secretaria de Estado e com o município, enquanto aguardam o resultado dos concursos.

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