Correr, com excepção ao que biologicamente temos programado, como reacção ancestral de sobrevivência a um qualquer perigo ou ameaça, é uma actividade em que os limites individuais são continuamente desafiados, independentemente da motivação ser competir com outros ou exclusivamente consigo próprio.

Estes limites são ultrapassados com perseverança e dedicação no treino longo e sistemático, em que tempos e velocidade são desafiados conduzindo a fenómenos de auto-superação. 

O corpo humano é um sistema com um grau de “perfeição” que estamos ainda longe de compreender em toda a sua complexidade e beleza, apesar de todas a evoluções tecnológicas da era em que vivemos.

Este tem processos de regulação altamente evoluídos e consegue adaptar-se a alterações do meio (externo e interno) de formas surpreendentes, ultrapassando as respostas puramente automáticas, com o complemento de estratégias desenvolvidas por engenho da nossa racionalidade.

Dores e outras percepções negativas passam a fazer parte integrante do dia-a-dia e o nosso cérebro, activa processos de adaptação. 

Pela permanência, estas sensações passam a ser consideradas dentro da normalidade, o limiar de dor pode alterar e nem sempre estas alterações são positivas, pois estímulos que anteriormente iriam despertar reacções de protecção e defesa da integridade das estruturas, passam a ser ignorados pelo cérebro, o que pode levar a mais lesões.

Como fisioterapeuta, reconheço cada vez mais a necessidade de encarar o indivíduo como um todo e que ao intervir em processo activo de lesão já estamos a actuar tardiamente, condicionados a tentar controlar e menorizar algo que já correu mal.

Então, cada vez mais a multidisciplinaridade se torna uma necessidade na melhoria da performance global, em que as várias áreas de intervenção interagem de forma concertada e que os vários pilares de desempenho do ser humano (estrutural, fisiológico e psico-emocional) estejam em equilíbrio.

Neste enquadramento, o contributo ideal da fisioterapia (ou, pelo menos, da minha perspectiva da mesma), será um acompanhamento regular onde, através de um trabalho aprofundado de consciência corporal (onde podem participar outras disciplinas como nutrição, psicologia e preparação física), se potenciem capacidades, se identifiquem necessidades e em se atalhem precocemente alterações ainda abaixo do limiar consciente, no sentido de alcançar níveis óptimos de actuação e honrar assim todo o potencial de origem.  

Em suma, uma intervenção fora de uma situação de lesão activa, com o objectivo de melhorar a performance, surge então como uma excelente ferramenta de prevenção bem como uma descoberta de novas fronteiras de performance individuais.

Eva Albuquerque
Wellness & Lifestyle Physiotherapy

Programa UP Running - Coordenação Cientifica Dra. Ana Bispo Ramires
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