Há um outsider na corrida à liderança do Labour que pode decidir o futuro do partido

Há quatro candidatos para a liderança do Partido Trabalhista britânico. Andy Burnham, o favorito dos sindicatos, parte na frente. Mas Jeremy Corbyn pode ser decisivo.

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O Partido Trabalhista parece estar a ultrapassar uma crise de identidade depois da pesada derrota eleitoral de Maio Paul Ellis/AFP

Estão escolhidos os quatro candidatos para o lugar de líder do Partido Trabalhista. Nesta segunda-feira, os deputados trabalhistas em Westminster anunciaram as suas nomeações, confirmando assim os nomes de Andy Burnham, Yvette Cooper e Liz Kendall, que já eram dados como certos na corrida, mas também o de Jeremy Corbyn, cuja nomeação esteve sempre em dúvida.

As regras do Partido Trabalhista ditam que cada candidato à liderança precisa de ter o apoio de pelo menos 35 deputados trabalhistas em Westminster. Andy Burnham, que conta com o precioso apoio dos sindicatos, confirmou nesta segunda-feira o seu favoritismo ao reunir 68 votos, mais do que os 59 de Yvette Cooper, centrista, e os 41 de Liz Kendall, que representa a ala do New Labour, mais à direita. Mas é Corbyn, o outsider, que está a ser visto como o elemento decisivo destas primárias, cujo resultado será conhecido em Setembro.

É improvável que Corbyn seja eleito. O candidato de tendência socialista e pronunciado opositor das políticas de austeridade conseguiu por pouco a margem mínima de 35 deputados trabalhistas para entrar na corrida – os últimos votos, aliás, surgiram a poucos minutos do meio-dia, o prazo final. Mesmo assim, alguns dos 36 deputados que acabaram por votar em Corbyn anunciaram que apoiariam outro candidato durante a campanha das primárias.

O pano de fundo destas eleições primárias é ainda a pesada e inesperada derrota das eleições de 7 de Maio. Ed Miliband demitiu-se do cargo de líder do partido no dia seguinte, mal se começou a tornar evidente que o empate antecipado pela maioria das sondagens não iria acontecer. O Partido Conservador conseguiu uma confortável maioria absoluta e deixou o maior partido de oposição em crise de identidade. Esta crise, argumentam vários observadores, é ainda evidente.   

Como escreveu no seu editorial de sábado o diário britânico The Guardian, que apoiou publicamente os trabalhistas nestas últimas eleições, o partido não foi capaz de evitar o cenário da “carroça à frente dos bois”. Os trabalhistas, argumenta o jornal, querem encontrar “uma nova cara” quando não sabem ainda de que maneira recuperar os votos perdidos para os conservadores, Partido Nacionalista Escocês (SNP) e Partido da Independência do Reino Unido (UKIP). Três partidos com três bases eleitorais diferentes. “Abatido pela derrota, o partido [trabalhista] não sabe como responder”, escreve o jornal.

É neste cenário de indefinição que Corbyn poderá ser determinante para a imagem do partido junto do eleitorado britânico. Para o melhor ou pior do Partido Trabalhista, dependendo a quem se pergunta.

Por um lado, a entrada de Corbyn na corrida está a ser bem vista por quem diz que o partido perdeu as eleições porque não se soube distanciar dos conservadores. Nesse caso, e posicionando-se Corbyn à esquerda dos restantes candidatos, a sua presença poderá alargar o debate e contribuir para uma imagem de diversidade no interior do partido, como escrevem Owen Jones e Martin Kettle, jornalistas do Guardian.

Mas existe uma segunda opinião. Ed Miliband foi criticado por uma ala importante do seu partido por não ter apresentado políticas pró-empresariais e por se ter afastado da herança centrista do New Labour, de Tony Blair. De acordo com este campo, a presença de Corbyn repete o erro de Miliband.

John Mann, deputado trabalhista, disse nesta segunda-feira no Twitter que Corbyn era um sinal de que o partido nunca mais queria “voltar a ganhar”. Já Dan Hodges, colunista no jornal diário Telegraph, disse que a nomeação de Corbyn era um sinal de que a “ala lunática dos trabalhistas ainda está no comando”.

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