Draghi admite que é impossível prever consequências de incumprimento da Grécia

Cavaco Silva espera acordo entre Atenas e os credores, “se possível esta semana”, mas diz que não pode haver excepções.

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Tsipras diz que irá "esperar pacientemente" por uma mudança de posição das instituições Louisa Gouliamaki/AFP

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, admitiu que é impossível prever as consequências a médio e longo prazo de um eventual incumprimento por parte da Grécia.

Segundo a Agência Lusa, numa discussão na comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, a eurodeputada portuguesa Elisa Ferreira perguntou a Draghi se, “tecnicamente”, tinha “a certeza absoluta de que há uma protecção relativamente a riscos de contágio”, caso os credores e a Grécia não alcancem um acordo com Atenas.

“Não quero especular, não penso que seja produtivo especular sobre eventuais desenlaces [das negociações], e uma boa razão para não especular é porque estaríamos a entrar em águas desconhecidas” caso o cenário de incumprimento da Grécia se consumasse, respondeu o presidente do BCE, segundo o relato da agência.  

Nas declarações que fez aos deputados europeus, Draghi afirmou também que “neste momento, a bola está do lado das autoridades gregas” e apelou à conclusão de um acordo “muito rapidamente”.

A urgência de um acordo foi também sublinhada pelo Presidente português, Cavaco Silva, que, numa visita à Bulgária, disse esperar que haja um acordo entre a Grécia e os seus credores, “se possível esta semana”.

A situação na Grécia preocupa todos os países na União Europeia”, disse Cavaco, citado pela agência Reuters. “Espero que no final do mês haja uma solução porque de outro modo ficaremos com um problema grave”. Mas o Presidente de Portugal – país que tem sido apontado como um bom exemplo na aplicação de medidas de austeridade – também disse que há regras e procedimentos que não podem ser ignorados e que não pode haver excepções.

Estas declarações foram feitas um dia depois de novas conversações entre a Grécia e credores após nova contraproposta grega à proposta da troika terem terminado num novo impasse após uma reunião de apenas 45 minutos. “Apesar de terem sido feitos alguns progressos, as conversações não tiveram sucesso e existe ainda um afastamento significativo”, disse uma mensagem da Comissão Europeia citada pela Bloomberg. “Assim, mais discussões terão de ser levadas a cabo no Eurogrupo”, que se reúne esta quinta-feira.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou estar disposto a “esperar pacientemente” até que as instituições credoras tenham uma posição “realista”.

Numa nota enviada ao jornal Efimerida Ton Syntakton (de esquerda), Tsipras acrescentou que só vê uma razão para a insistência dos credores nos cortes de pensões: um motivo político. Na edição de domingo do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, havia relatos de uma sugestão de acordo em que o Governo grego cortaria o equivalente em despesas de Defesa, mas esta troca foi recusada pelo FMI que insistiu na baixa das pensões (um relato confirmado por fontes da comissão europeia e desmentido por fontes do FMI).

Na véspera, Tsipras dissera estar preparado para assumir “compromissos difíceis” com os credores, mas pediu em troca um acordo “viável” com um perdão parcial da dívida, o que é rejeitado pela Alemanha (que detém a maior parte da dívida grega).

Na Alemanha, que tem mantido a sua posição de não ceder às propostas apresentadas pelo Governo de Tsipras, o vice-chanceler e ministro da Economia Sigmar Gabriel (social-democrata) disse que a Europa está a perder a paciência com a Grécia. Explicou que Berlim quer manter a Grécia na zona euro, mas disse que “o tempo está a esgotar-se, assim como a paciência da Europa”.

O perdão da dívida em que Atenas está a insistir é, por outro lado, defendido pelo FMI. O economista-chefe do Fundo Olivier Blanchard escreveu um artigo num fórum da instituição em defesa de uma redução da dívida grega para que um acordo seja possível. 

No Financial Times, o colunista Wolfgang Münchau aconselhou a Grécia a recusar a oferta em cima da mesa: se não pagar a dívida aos Estados europeus, França e Alemanha perderão 160 mil milhões de euros, notou. E usando uma analogia de Churchill sobre a falta de beleza e ressacas (a primeira é permanente, a segunda passageira), Münchau diz que o cenário do acordo irá deixar o país com uma má situação a longo prazo. O incumprimento será mais parecido com a ressaca: irá criar um cenário péssimo a curto prazo seguido de uma recuperação.

O comissário europeu Günther Oettinger declarou, pelo seu lado, que a União Europeia devia fazer planos para um “estado de emergência” na Grécia para a possibilidade de uma crise caso haja um incumprimento grego. O comissário para a Economia Digital, da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler, Angela Merkel, disse que era preciso assegurar “energia, pagamento aos polícias, stocks de produtos médicos e farmacêuticos e muito mais”.

Esta não é, no entanto, a primeira vez que Oettinger tem declarações polémicas e alarmistas sobre a Grécia – a primeira foi quando disse que os gregos se comportavam nas negociações como um “elefante numa loja de porcelana”, levando o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a distanciar-se das suas palavras. Também durante a Comissão anterior, chefiada por Durão Barroso, Oettinger causou desconforto ao sugerir que as instituições europeias pusessem a meia-haste as bandeiras dos países com défice excessivo.

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