A sonda File deverá recomeçar a “fazer ciência a sério” dentro de uma semana

O pequeno robô da ESA que se encontra pousado num cometa, a 300 milhões de quilómetros da Terra, vai ter primeiro de carregar as baterias.

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Visão artística da sonda File a pousar no núcleo do cometa ESA/ATG Medialab

Com cerca de três horas de exposição à luz do Sol por dia, as baterias solares do robô File, pousado à superfície do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, deverão conseguir armazenar energia suficiente para pôr a funcionar os instrumentos de bordo daqui a uma semana no máximo, anunciaram na segunda-feira responsáveis da Agência Espacial Europeia (ESA).

"Para podermos começar a fazer ciência a sério, vai ser preciso esperar uns dias, talvez uma semana", declarou Alvaro Giménez, director da exploração científica e robótica na ESA, durante uma conferência de imprensa que decorreu durante a Feira Internacional da Aeronáutica e do Espaço, em Le Bourget, perto de Paris.

Entretanto, após um primeiro contacto com a Terra na noite de sábado para domingo – através da sonda Roseta, que dá o seu nome a esta missão europeia e que está, quanto a ela, em órbita cerrada à volta do cometa 67P –, o robô File tornou a enviar dados uma segunda vez, durante quatro minutos, na noite de domingo para segunda, noticiou a agência AFP.

Recorde-se que a inédita aventura destas duas naves espaciais começou há mais de uma década, em 2004,quando a Roseta partiu da Terra levando a File “às costas”. O objectivo da missão é estudar de perto um cometa para desvendar os primórdios da evolução do nosso sistema solar.

A Roseta alcançou o cometa em Agosto de 2014. Só que, em meados de Novembro, quando a Roseta largou a File – que tem o tamanho de uma máquina de lavar e dez instrumentos científicos a bordo –, a aterragem não correu como previsto e a File acabou por ir parar a uma espécie de vale fundo, onde a luz do Sol que atingia os seus painéis solares não era suficiente para ela funcionar.

Daí que, quando a sua bateria primária ficou sem energia, a File entrou em hibernação, com os cientistas à espera de que, quando o cometa estivesse mais perto do Sol, ela tornaria a acordar. Desde Março deste ano que a Roseta estava à escuta de qualquer sinal vindo da pequena sonda – mas só no passado sábado às 21h28 (hora de Lisboa) é que a File tornou a manifestar-se, enviando várias centenas de pacotes de dados para o centro de controlo da missão.

No segundo contacto agora estabelecido, a File enviou “menos dados [do que no primeiro], mas enviou dados mais recentes”, declarou Philippe Gaudon, responsável da missão Roseta na agência espacial francesa (CNES), citado pela AFP.

Segundo a agência Reuters, ainda há mais de 8000 pacotes de dados armazenados na memória da File – dados que deverão fornecer aos cientistas informação sobre o que aconteceu à sonda nos últimos dias, uma vez que se pensa que a File terá acordado já a meio da semana passada, mas sem conseguir, numa primeira fase, transmitir os seus sinais à Roseta.

Agora, explicou ainda em Le Bourget Johann-Dietrich Woerner, da agência espacial alemã DLR (e futuro director-geral da ESA), vai ser preciso “alterar a órbita da Roseta para permitir uma ligação de melhor qualidade” entre as duas sondas.

Também durante a tarde de segunda-feira, a File emitiu através da sua conta no Twitter mais uma daquelas deliciosas mensagens a que a ESA nos tem habituado, que põem as duas sondas a falar com o mundo como se de pessoas se tratasse. "A vida é bela" à superfície do cometa, “disse” a File. “Tenho três horas de luz por dia e sinto que estou a recuperar forças.”

Como o cometa faz uma rotação sobre si próprio em 12 horas e 40 minutos, a File deverá em princípio conseguir comunicar duas vezes por dia terrestre, salienta a AFP.

Em Le Bourget, Alvaro Giménez disse ainda que “foi uma sorte” a File não ter pousado como previsto no cometa. “Isso permitiu que hibernasse e agora, no sítio onde se encontra, ficará protegida do excesso de calor [ao aproximar-se do Sol]".

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