O que disse Merkel a Barack Obama?

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Angela Merkel demora tempo a decidir, não é novidade para ninguém. Há um ano, quando Obama apelou à união do Ocidente contra a Rússia como resposta à invasão da Crimeia, a chanceler resistiu. Merkel não queria expulsar a Rússia do G8 nem avançar com sanções.

Todos percebemos porquê. As exportações são o motor da Alemanha. Só para a Rússia exporta 35 mil milhões de euros por ano, o que equivale a 1% do seu PIB. Além disso, a Alemanha depende — e muito — da energia russa. Consome um milhão de barris de petróleo russo por dia — quase metade das suas necessidades. Sendo escalas incomparáveis, é curioso notar que no ano passado Portugal importou 250 mil barris por dia, dos quais apenas mil eram russos.

Neste momento, o tema regressou e a pergunta que todos fazem é esta: vai a União Europeia renovar as sanções contra a Rússia quando se reunir a 25 de Junho em Bruxelas? O consenso europeu contra é frágil. Não é claro o que vai acontecer.

Nesta fotografia, publicada em jornais de todo o mundo, Merkel conversa com Obama nos jardins do castelo de Elmau depois de uma sessão da cimeira do agora G7, na passada segunda-feira. Da reunião saíram conclusões que fizeram rir os cínicos: até 2050, o mundo vai reduzir em 70% as emissões de gases e chegar a zero até 2100. Em on não se falou em sanções contra Putin, mas nos bastidores não se falou de outra coisa. Correm apostas sobre o que está Merkel a dizer a Obama de forma tão empenhada e com os braços tão abertos nesta imagem. Uma hipótese:
— Pata ti é fácil defenderes sanções à Rússia, tu perdes 16 vezes menos do que eu.
(as contas: as exportações para a Rússia representam 0,06% do PIB americano, 1% do PIB alemão e 0,7% do PIB europeu).

Putin, disse Merkel no início da crise da Ucrânia, “vive num mundo irreal”. Merkel quer ter os pés na terra. Mas enquanto não nos livramos dos combustíveis fósseis, não diversificarmos os tipos de energia, de fornecedores e de rotas, enquanto tantas democracias dependerem 100% do petróleo e do gás da Rússia, Putin vai continuar a usar a energia como arma política.

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