Austrália suspeita de pagar a traficantes para levarem refugiados de volta

"Se isto se confirmar, se isto for verdade, é muito baixo", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indonésio. Tony Abbott não quis comentar.

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Primeiro-ministro não desmentiu a acusação AFP

O Governo da Indonésia quer saber se é verdade que a Austrália está a pagar aos traficantes de seres humanos para levarem os barcos com refugiados para longe da sua costa. "Se isto se confirmar, se isto for verdade, é muito baixo", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indonésio, Armanatha Nasir, citado pelo jornal The Guardian.

"Foi dito que um capitão de um navio e cinco tripulantes receberam cinco mil dólares cada um, da parte do Governo australiano, para voltarem com o barco para trás em direcção à Indonésia", disse o porta-voz, explicando que está em curso uma investigação e que a revelação foi feita durante interrogatórios a envolvidos no tráfico humano no sudeste asiático.

Nesta região há milhares de refugiados que ninguém quer acolher. São sobretudo bangladeshianos (que tentam mudar de país por razões económicas) e rohingya, a minoria muçulmana perseguida na Birmânia. Desde a guerra do Vietname que não ocorria uma crise humanitária desta dimensão na região, com a agravante de que durante muitos meses os países não quiseram acolher estes migrantes e refugiados, que se fazem ao mar em embarcações clandestinas operadas por traficantes. Andaram a ser empurrados de um país para o outro, ou à deriva no mar. Malásia, Tailândia e Indonésia aceitaram recebê-los temporariamente.

Na semana passada, numa operação contra este tráfico, a polícia indonésia deteve a tripulação de um navio. Segundo as autoridades indonésias, o capitão e membros da tripulação contaram que, numa viagem recente em que levavam 65 pessoas a bordo, foram pagos pelo Governo australiano para se afastarem da costa e rumarem em direcção a outro país.

"Há muito tempo que dizemos que a 'política do empurra' da Austrália poderia resvalar", disse o porta-voz, que falou à margem de um encontro sobre política externa que se realizou em Jacarta. Armanatha Nasir disse que já foram pedidas explicações oficiais a Camberra.

O ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio, Retno Marsudi, abordou o assunto com o embaixador australiano, Paul Grigson, que participou no encontro de Jacarta. "Ele prometeu levar as nossas perguntas a Camberra. Estamos realmente muito preocupados com o que se está a passar", disse o ministro.

Publicamente, o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, recusou comentar o assunto. Ao não desmentir a informação, abriu um debate sobre o que pode acontecer se a informação for mesmo verdadeira. Nos media australianos os especialistas em Direito disseram que a Austrália pode ser acusada de tráfico de seres humanos ao pagar a traficantes para levarem pessoas de um lado para outro — a definição de tráfico humano segundo o Direito Internacional.

Numa entrevista a uma estação de rádio na sexta-feira à noite, o primeiro-ministro australiano disse que pagar a traficantes para levarem os refugiados e migrantes para outro lado seria uma solução "incrivelmente criativa". "O que nós fizemos foi parar o tráfico e continuaremos a fazer o que for preciso para mantê-lo assim", disse Abbott. O jornalista perguntou-lhe mais do que uma vez se o Governo pagou para afastar os refugiados e migrantes, mas Abbott não respondeu "sim" nem "não".

"O primeiro-ministro limitou-se a ser fiel à sua postura de não alimentar comentários sobre matérias importantes", dise à Sky News o ministro das Finanças, Mathias Cormann. "Ele não confirmou nem desmentiu. Não fez comentários. Não disse que foram feitos pagamentos."

A oposição já exigiu um esclarecimento por parte do Governo, argumentando que os cidadãos têm o direito de saber se está a ser usado dinheiro dos contribuintes para pagar a traficantes de seres humanos.
 

   


 

   





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