TAP abre inquérito a piloto que orquestrou greve de Maio

Paulo Lino Rodrigues está a ser alvo de averiguações por ser, em simultâneo, assessor do sindicato.

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Greve de dez dias que ocorreu em Maio Daniel Rocha

A TAP abriu um inquérito ao piloto que orquestrou a greve de dez dias que ocorreu em Maio. O PÚBLICO confirmou a notícia avançada pelo Jornal de Negócios de que Paulo Lino Rodrigues está a ser alvo de averiguações que poderão resultar num processo disciplinar.

Na base deste inquérito está o facto de o comandante ser, em simultâneo, assessor do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) – uma função pela qual a estrutura sindical admitiu que Lino Rodrigues era remunerado. Há, por isso, questões de ética na base do processo, já que a companhia de aviação entende que a actividade que desenvolve enquanto consultor está intimamente relacionada com o cargo que exerce na TAP.

Por outro lado, a transportadora aérea também está a avaliar se a assessoria que presta ao sindicato, e que se tornou mais intensa no período da greve de dez dias, colocou em causa a segurança operacional. Numa das ocasiões, quando a administração da transportadora aérea e os pilotos tentavam um último acordo para travar a paralisação, Paulo Lino Rodrigues terá estado ao serviço do sindicato quando faltavam três horas para levantar voo, quando as regras obrigam a descanso total.

Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial da TAP recusou prestar esclarecimentos sobre este inquérito e as suas consequências. “Não fazemos comentários sobre questões disciplinares”, referiu.

Paulo Lino Rodrigues já tinha assessorado o SPAC no passado, mas essa função foi interrompida quando Jaime Prieto se tornou presidente do sindicato dos pilotos. No final do ano passado, com a eleição de Manuel Santos Cardoso, o piloto-consultor regressou.

Desde então, teve um papel crucial nas decisões do sindicato, desde as negociações com o Governo que resultaram num acordo em Dezembro de 2014 para reforçar as garantias dos trabalhadores num cenário de privatização à convocação da greve entre 1 e 10 de Maio.

No entanto, Paulo Lino Rodrigues sempre permaneceu nos bastidores, tendo aparecido muito poucas vezes em público. Mas era a ele que cabia a liderança nas negociações com o executivo e com a TAP, mesmo que não tivesse estado presente em todas as interacções.

A greve de Maio causou prejuízos de cerca de 35 milhões de euros à companhia de aviação nacional e gerou uma forte onda de contestação, que veio a dar lugar à demissão do presidente do SPAC.

Num comunicado enviado no sábado às redacções, o SPAC veio garantir que "é falso que o comandante Paulo Lino Rodrigues tenha sido o estratega da greve dos pilotos", explicando que a decisão de avançar com a paralisação de dez dias "foi decidida em assembleia" e votada por 434 associados, com 360 votos a favor.

"A manutenção da greve foi da exclusiva responsabilidade da direcção do SPAC, devidamente mandatada pela assembleia de empresa, que decidiu manter a mesma devido à frustração das negociações com a administração da TAP. É falso que o Comandante Paulo Lino Rodrigues tenha participado nessas negociações. É falso que a actividade do comandante Paulo Lino Rodrigues tenha tido qualquer influência nas decisões tomadas pelo SPAC no âmbito da declaração e manutenção da greve", refere o sindicato em comunicado.

O SPAC adianta ainda que "a colaboração da empresa do comandante Paulo Lino Rodrigues incidiu apenas sobre questões financeiras no âmbito das negociações levadas a cabo pela direcção sobre a interpretação do acordo de empresa e a sobrevigência do mesmo", acrescentando que "é falso que a actividade de assessoria desenvolvida (...) tenha colocado em causa, em algum momento, a segurança de voo".

E, por isso, a direcção do SPAC (que irá em breve a eleições para eleger os novos órgãos sociais) "repudia veementemente, porque falsas, as acusações imputadas pela TAP ao comandante Paulo Lino Rodrigues".

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