CP reduz prejuízos no serviço internacional

Junção do Sud Expresso e Lusitânia Expresso num comboio único até Espanha e retirada das carruagens restaurante permitiram ganhos de 2,8 milhões de euros em dois anos.

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Comboio internacional Lusitânia é operado pela CP e pela espanhola Renfe Fábio Teixeira

Os comboios Sud Expresso (Lisboa-Hendaya) e Lusitânia Expresso (Lisboa-Madrid), que davam em 2012 um prejuízo de 7,2 milhões de euros à CP, chegaram ao fim de 2014 com perdas de 4,4 milhões de euros, no que se traduziu numa melhoria dos resultados de 2,8 milhões.

Dois actos de gestão explicam esta trajectória positiva. O primeiro foi a junção dos dois comboios, em Outubro de 2012, numa só composição no troço entre Lisboa e Medina del Campo. Antes, cada comboio seguia por um caminho diferente, mas desde que o Lusitânia passou a efectuar-se pela Beira Alta (em vez de seguir pela linha do Leste e ramal de Cáceres), foi possível acoplá-lo ao Sud Expresso, poupando-se na tracção (uma só locomotiva basta para rebocar as duas composições), na taxa de uso (portagem ferroviária) e na tripulação.

A outra medida foi a retirada da carruagem-restaurante de cada uma das composições, o que, segundo a CP, se traduz num ganho de 759 mil euros por ano. Os dois comboios perderam, assim, parte do glamour que tinham as viagens internacionais, mas o serviço de restauração ficou assegurado pela carruagem-bar onde são servidas refeições ligeiras.

Em 2014, o Lusitânia Expresso custou à CP 2,9 milhões de euros e proporcionou-lhe receitas de 2 milhões, o que representou um prejuízo de 900 mil euros (há quatro anos era de 2,2 milhões). Na realidade, estes valores devem ser multiplicados por dois, visto que CP e a sua congénere espanhola Renfe exploram o comboio com igual partilha de receitas e despesas, sendo estes os valores da parte portuguesa do negócio.

Já o Sud Expresso é inteiramente explorado pela CP e custou-lhe no ano passado 7,2 milhões de euros para receitas de 3,7 milhões. Este resultado negativo de 3,5 milhões de euros mostra, porém, uma tendência decrescente, pois era de 5,1 milhões de euros em 2011. Há dez anos, os prejuízos chegavam a oito milhões.

As melhorias também se explicam do lado da receita, tendo em conta o aumento do número de passageiros. O Sud subiu ligeiramente a procura entre 2011 e 2014, de 77 mil para 78 mil clientes. Já o Lusitânia saltou, no mesmo período, dos 62 mil para os 78 mil.

Celta com perdas de 764 mil euros
O Celta, comboio que liga o Porto a Vigo duas vezes por dia, deu em 2014 um prejuízo de 764 mil euros. Esta ligação resultou de uma decisão ministerial dos governos de Portugal e de Espanha e consistiu inicialmente num comboio sem paragens entre as duas cidades. Mais tarde, e como havia paragens técnicas no seu percurso (para cruzamentos), foram implementadas paragens comerciais em algumas estações.

O serviço sempre foi deficitário, mas a CP nunca quis revelar quanto, nem mesmo quando, após queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativas, em Maio de 2014, esta deu razão ao PÚBLICO. Instada a via judicial, o Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa proferiu sentença, em Novembro do ano passado, que obrigava a CP a revelar o número de passageiros e os resultados operacionais deste comboio. Mas a empresa recorreu, vindo a perder em segunda instância há um mês.

Os dados agora revelados – um ano e um mês depois do pedido inicial - dizem que o Celta teve para a CP gastos de 1,8 milhões de euros e receitas de 1,1 milhões. O seu prejuízo coincide, curiosamente, com a factura do aluguer do material circulante: 740 mil euros que a CP paga à Renfe, parceira da transportadora ferroviária nacional nesta ligação, para usar as automotoras que fazem este serviço.

O pagamento da taxa de uso à Refer cifrou-se em 297 mil euros, os custos com pessoal afecto ao Celta foram de 424 mil euros. Já a factura com combustível atingiu 324 mil euros. No total, os três comboios internacionais (Sud, Lusitânia e Celta) deram à CP um prejuízo de 6,1 milhões de euros. 

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