Nas mãos das mulheres
Entre Lola Álvarez Bravo, Tina Modotti e Mariela Sancari, um percurso pelo que de mais relevante aconteceu na fotografia latino-americana.
Se se quisesse fazer um percurso só pelo trabalho das mulheres fotógrafas na América Latina que chegaram até este festival, a viagem não teria apenas valido a pena – seria suficiente para percebermos boa parte do que de mais relevante se passou ao longo dos últimos cem anos na fotografia daquele território. Podíamos começar do fim para o princípio com o trabalho Moises (2015), da argentina Mariela Sancari (sobre a ausência do pai), ou por um dos princípios possíveis para o fim, com a italianaTina Modotti (1896-1942) e as suas imagens gráficas, captadas a partir de meados dos anos 20.
Este vai-e-vem não só é possível neste PHotoEspaña como ainda pode ser cruzado com nomes clássicos, como o da mexicana Lola Álvarez Bravo (1903-1993), ou com olhares contemporâneos, como o de Ana Casas Broda, que por acaso (ou talvez não) estão em pisos diferentes da mesma casa, o Círculo de Bellas Artes. E quantas vezes se tem a oportunidade de admirar no raio de um quilómetro conjuntos significativos de obras de Tina e de Lola, duas das mais emblemáticas e marcantes fotógrafas da primeira metade do século passado? A oportunidade de se estabelecer um diálogo entre as duas autoras nesta ocasião é tão flagrante que até James Oles, o curador da exposição de Lola, fez questão de orientar a turma de jornalistas da imprensa internacional rumo à calle Serrano, onde numa cave de uma luxuosa loja de roupa se mostra aquela que é a primeira exposição individual de Modotti em Espanha.
Entre as inúmeras ligações (diálogos, comparações, confrontos…) que podem fazer-se entre as duas sobressai a diferença na abordagem ao moderno: enquanto Tina se revela mais experimental e ousada nos temas e nas formas, Lola – que decidiu começar a fotografar depois de ver o trabalho de Tina e do seu amante americano, Edward Weston – mostra-se um pouco mais retraída e convencional. “Nos anos 20 Tina Modotti era uma mulher independente, uma fotógrafa muito política. Lola era mais do tipo 'boa rapariga' e imagino que não se estivesse a ver naquele tipo de carreira. Mas depois de se separar de Manuel Álvarez Bravo [com quem se casou antes de este se tornar fotógrafo] transformou-se numa das artistas mais importantes do México dos anos 30 e 40”, explicou Oles.
Ao contrário de Tina, que fotografa durante cerca de dez anos, a carreira de Lola será muito mais prolífica e diversificada em géneros e em suportes. Os murais, por exemplo, acabaram por ter abordagens diferentes. Enquanto Tina os fotografava pela sua poderosa expressão plástica e à procura de outros intervenientes que dessem dinamismo às suas fotografias, Lola limitou-se a documentá-los. Mas, em contrapartida, inventou um novo tipo de mural fotográfico, que ganhava forma através de complexas fotomontagens, género no qual foi uma das pioneiras na América Latina.
Lola Álvarez Bravo – Colecciones fotográficas de la Fundación Televisa
Círculo de Bellas Artes. Até 30/08
Tina Modotti
Loewe Serrano. Até 30/08
Mariela Sancari. Moisés
Centro de Arte de Alcobendas. Até 27/06