Um movimento duplo no Museu Rainha Sofia

Ciclo associa cinema, dança e artes plásticas no Museu Rainha Sofia, em Madrid. Até 2 de Julho.

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Martha Graham (Jocasta), Bertram Ross (Édipo) e Robert Cohan (Tirésias) em Night Journey, de 1947 Cortesia: Martha Graham Collection, Music Division, Library of Congress

O que o Museu Rainha Sofia se propõe mostrar no ciclo que apresenta até 2 de Julho não é apenas a dança no cinema numa perspectiva cronológica, começando nas primeiras experiências com uma anafada bailarina espanhola, Carmencita de seu nome, filmada em 1894, até ao extraordinário Fase, de Anne Teresa de Keersmaeker, década de 80, passando por ensaios radicais com artistas plásticos e coreógrafos-reinventores nos anos 60 e 70. Estão todos lá, é certo, mas o que Cuerpos Desplazados oferece é a matéria-prima para uma reflexão antiga – a que parte do confronto entre a dança e a performance ao vivo, presencial, e os seus registos filmados, que não se limitam a documentar determinada peça para memória futura mas são, em si mesmos, actos de criação.

Deste ciclo comissariado por Gabriel Villota, artista, escritor e professor de Comunicação Audiovisual na Universidade do País Basco, fazem parte filmes históricos de pioneiros como Maya Deren, a norte-americana nascida na Ucrânia que fez carreira como realizadora, bailarina, fotógrafa e teórica do cinema nos anos 1940 e 50 (A Study in Choreography for the Camera, de 1945), e Martha Graham, a coreógrafa e bailarina que ficará para sempre ligada à dança moderna (Night Journey, de 1947).

Mas há também filmes que imortalizam coreografias de Pina Bausch e Maurice Béjart (duas versões de A Sagração da Primavera, tão incontornáveis quanto diferentes), de Merce Cunningham (Blue Studio: Five Segments, entre outras) e Anna Halprin (Hangar, 1957), e de trios revolucionários da nova dança americana, à época cada vez mais minimal e próxima dos gestos do quotidiano, como Trisha Brown (Watermotor, 1978), Yvonne Rainer (Tio A – The Mind is a Muscle, Part I, 1966-1978) e o sempre inquietante Steve Paxton (Fall after Newton, 1983). Mas há também artistas vindos das artes plásticas que se habituaram ao universo da dança e da performance, nalguns casos por causa do trabalho com coreógrafos já citados, como Robert Rauschenberg e Robert Morris, e até uma revisitação do célebre Ballet Triádico (1922), do alemão da Bauhaus Oskar Schlemmer.

Diz Gabriel Villota, na apresentação do ciclo, que a ideia é mostrar como esta relação entre a dança/performance e o filme criou uma “terceira” criação – que já não é só cinema nem é só movimento (como se isso, fosse já de si, pouco).

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