Igreja recorre a crowdfunding para restaurar tela do século XVII

A pintura esteve desaparecida durante décadas. Agora foi encontrada atrás do altar-mor, onde estava fixada desde a construção da igreja, no século XVII.

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A paróquia de São Cristóvão, monumento nacional classificado como Imóvel de Interesse Público, na Mouraria, lançou uma campanha de crowdfunding, em Abril, para angariar fundos para restaurar uma tela do século XVII da autoria de Bento Coelho da Silveira. Além deste meio de financiamento, está a promover a iniciativa “Vem viver São Cristóvão no coração da Mouraria” para dar a conhecer a igreja, que esteve fechada ao público, e o seu acervo artístico e assim reunir apoios para o restauro do espaço.

A tela pertence a um conjunto de 35 obras da autoria do pintor régio Bento Coelho da Silveira (1617-1708) e irá ser “a primeira a ser restaurada”, uma tarefa que durará durante três meses, afirma o pároco Edgar Clara. Representa a Última Ceia de Jesus e é “uma peça central do programa iconográfico” de Coelho da Silveira, explica em comunicado a Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Segundo a CML, foi atrás do Altar-mor da paróquia, onde a tela esteve fixada desde a construção da igreja, que a encontraram “bastante danificada”. Com uma dimensão original de aproximadamente 2.60 por 4.75 metros, a pintura perdeu cerca de 1 metro na zona inferior.

Ana Ferreira, técnica de conservação e restauro, explica que estão a decorrer estudos e diagnósticos ao estado da tela, frisando que “os tratamentos seguintes” que visam, por exemplo, a “limpeza e o tratamento dos rasgões”, só serão possíveis com “o sucesso da angariação de verbas que a paróquia de São Cristóvão está a levar a cabo”.

A mesma ideia é defendida por Edgar Clara, que pretende angariar mais de um milhão de euros destinados às obras de reparação da paróquia. Para isso, é necessário “atrair as atenções” para o monumento, afirma, e assim consguir “diferentes vias de financiamento”. Para tal, até 2016, estão previstos workshops, visitas guiadas, uma exposição, a cargo do curador Paulo Pires do Vale, bem como concertos de música clássica, arraiais e espectáculos de fado, conduzidos por artistas locais. A saber: Jaime Dias, Conceição Ribeira, Rui Simões e Toni Proença, com Ribeiro Cardoso, na viola, e Sérgio Costa, na guitarra.

O padre da paróquia São Cristóvão entende que, através deste projecto, a arte torna-se mais acessível a todos e não apenas uma “coisa de iluminados”. Acrescenta ainda que “tudo o que se tem vindo a fazer” é para ter “continuidade” no futuro e que o público poderá acompanhar a realização dos trabalhos na paróquia. 

O projecto “Arte Por São Cristóvão” foi um dos vencedores da edição de 2014 do Orçamento Participativo de Lisboa e constitui o ponto de partida desta iniciativa. O pontapé de saída foi dado, assim, pela CML que atribuiu 75 mil euros para promover e divulgar o património da igreja.

Para já, a iniciativa continua a decorrer no website PPL Crowfunding Portugal, com o apoio e a participação da Câmara Municipal de Lisboa, da Junta de Freguesia de Santa Maior, da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural e do Patriarcado de Lisboa. Segundo se explica nesta plataforma, o valor total da obra para a recuperação da igreja é de um milhão e 200 mil euros. O restauro das telas está orçamentado entre os 300 e os 350 mil euros.

Texto editado por Ana Fernandes

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