Aqui e agora

Depois há aquela coisa portuguesa de não saber a quantas ando. Mas, quando me queixo, respondem-me portuguesmente "mas quem é que sabe?".

É aqui em Almoçageme que tenho recebido consolações eficazes pela morte da minha mãe. Todas elas são, ao mesmo tempo, de compaixão e de comunidade. Os meus amigos de Lisboa desconfiam da linguagem terra-a-terra, sem saberem que é terra-a-terra que nascemos e vivemos.

Os meus vizinhos mais crentes acolheram a notícia com alegria. Como quem diz: "ainda bem que a sua mãe já se despachou do calvário desta vida (então nos últimos dois anos de quem ia fazer 93 anos em Setembro) e já está no paraíso, ao pé de (ou bem colocada para receber) todos os amigos, amantes e familiares de quem gostou enquanto ainda estava viva."

Fica no Largo de Almoçageme a linda igreja onde a minha mãe foi, na quarta-feira à tarde, devolvida a Deus. Ontem, Domingo, no mesmo lugar sagrado, foi a missa do Sétimo Dia.

Em Almoçageme vive-se mais, enquanto estamos vivos, por saber-se viver com a morte.

Tudo o que me disseram me consolou e juntou a toda a gente: "estamos preparados para isso"; "lá foi a sua mãe..."; "é a vida..."; "a seguir vamos nós..."

Aqui em Almoçageme todas as nossas graças e desgraças são sentidas e partilhadas por toda a gente. Tenho muita pena que, quando o meu pai morreu, há vinte anos, eu não vivesse aqui, onde a morte é tão celebrada e agradecida como a vida.

Mas vivo - vivemos, eu e o meu amor - aqui agora.

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