Oportunidade de uma vida

Os adversários principais de Portugal no apuramento Olímpico serão a França e a Rússia, com a Espanha à espreita

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Luís Seara Cardoso

Os jogadores portugueses de Sevens começam neste sábado e com o início das etapas de apuramento europeu o caminho real - nunca foi credível que pudessem classificar-se através da World Series - de qualificação para os Jogos Olímpicos do Rio de 2016. É o início do caminho da construção do sonho de estar presente, de ser actor, na maior festa desportiva mundial.

 

Por este mundo fora milhões de atletas sonham em estar presentes nos Jogos Olímpicos. Não é fácil e para a grande maioria deles não ultrapassará o sonho. Os portugueses da selecção nacional de sevens têm a possibilidade de depender deles próprios para ter acesso ao sonho que perseguem. É uma vantagem e terão possibilidades reais.

 

Não é fácil atingir os Jogos. De sete cães a um osso - são apenas, no caso do râguebi, onze as equipas que podem apurar-se para o Torneio Olímpico do Rio - as dificuldades das modalidades colectivas são sempre maiores do que nas modalidades individuais: não basta ser bom ou muito bom, é preciso que haja número qualitativamente suficiente para permitir os resultados colectivos necessários numa série de disputas competitivas muito exigentes.

 

Mas têm possibilidades reais, pese embora a estruturação da competição imposta - apesar da contestação da FPR - pela Rugby Europe. Resolveram fazer assim:

 

-    Considerando que o 2015 Sevens Grand Prix é o Campeonato da Europa, toda a equipa europeia classificada, como é normal, o pode disputar. Mas acontece que resolveram que este circuito europeu - três etapas: Moscovo, Lyon e Exeter - apuraria o seu melhor classificado para os Jogos do Rio. Mas se é de apuramento Olímpico não deveria - como aliás está documentalmente estabelecido pela World Rugby - ter equipas já anteriormente apuradas a disputá-lo. Mas tem! Tem a Inglaterra e o País de Gales (a Escócia não se inscreveu) que pertencem à Grã-Bretanha já qualificada por via, como anteriormente estabelecido, do Sevens World Series;

 

-    Como a presença da Inglaterra e de Gales só pode contar para o título europeu e não para classificação de apuramento para os Jogos, a Rugby Europe resolveu criar duas classificações paralelas: a do Campeonato Europeu classificando as 12 equipas presentes e a Classificação do Apuramento Olímpico que ordenará as dez equipas que pretendem aceder aos Jogos Olímpicos. Com este pormenor, embora diferentes, as duas tabelas utilizam os mesmos pontos classificativos conseguidos na etapa - ou seja as equipas que "não contam" podem ter uma importância decisiva no quadro final de apuramento. Porque, intrometendo-se na classificação e retirando pontos a outras equipas, podem abrir intervalos irrecuperáveis na classificação olímpica. O que significa que nestas três etapas não haverá cálculos diferentes do que o máximo esforço para ganhar tudo o que se puder. É luta sem quartel mas dependente de terceiros...;

 

-    Ainda não satisfeita com este arranjo, a Rugby Europa inventou mais: decidiu criar uma repescagem europeia a realizar em Lisboa - nas outras regiões nada existe semelhante. E por quê? Porque assim permitirá a possibilidade de classificação à Irlanda que se encontra a disputar a Divisão C europeia. Como?! Decidindo que o segundo classificado do apuramento Olímpico ficará directamente apurado para a Repescagem Mundial, não tendo assim que se deslocar a Lisboa onde se encontrarão os oito sobrantes do apuramento Olímpico europeu a que se acrescentarão - porque cada prova desta natureza é obrigatoriamente realizada com 12 equipas divididas por três grupos - três equipas da Divisão A e - veja-se! - uma da Divisão B onde esperam que se encontre a Irlanda que, vencendo a Divisão C, poderá disputar este último lugar de acesso;

 

-    A Repescagem de Lisboa, a realizar em Julho, apurará então três equipas para a Repescagem Olímpica Mundial onde se encontrarão, formando 16 equipas divididas por quatro Grupos, com a outra europeia anteriormente apurada, três equipas de África, três da Ásia, duas da América do Norte e Caraíbas, duas da Oceânia e duas da América do Sul - embora o símbolo olímpico tenha cinco anéis representando os cinco continentes, no Rugby estão consideradas seis regiões - para apurar a última presença no Rio 2016.

 

Fácil!?

 

É uma oportunidade de uma vida poder estar presente nos Jogos Olímpicos. Disso terão consciência os jogadores portugueses que, para a garantirem, terão que actuar num nível muito superior ao que fizeram na Escócia e Londres e mostrarem ser capazes de se adaptarem às diversas e diferentes situações com que se irão confrontar.

 

Se a responsabilidade dos jogadores portugueses é grande - representam a comunidade rugbística nacional que se deseja ver como olímpica - superior será ainda a necessidade de uma elevada capacidade de resistência e assertividade, discernimento na adaptação às visões particulares da arbitragem e focagem permanente no melhor resultado - quanto melhor ficar classificado na tabela classificativa resultante do 1.º dia de jogos, mais "fácil" será o primeiro jogo do 2.º dia e mais possibilidades de subida na classificação final existirão. Aqui, na arbitragem e como já testemunhámos, tudo é possível: interpretações próprias de um ou outro árbitro ou mesmo determinações dos directores de arbitragem dos torneios que "decidem" de uma determinada interpretação das Leis do Jogo - sempre que isto sucede, lembro-me da máxima da Juíza do Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos, Sonia Sottomayor: A tarefa de um juiz não é fazer a lei, é aplicar a lei. Conceito que, se presente, retiraria de imediato qualquer pretensão de modificação ou abusiva interpretação e garantiria que o resultado final seria conseguido pela acção dos jogadores e não pelo apito dos árbitros.

 

Neste quadro a Portugal coube - com a vitória conseguida em Tóquio contra a Austrália - ajudar a qualificação directa da Grã-Bretanha e assim retirar um concorrente da porta de entrada dos Jogos. Os adversários principais neste apuramento, para além de todos os outros que aparecerão bem preparados, serão a França e a Rússia - com a Espanha à espreita. Não sendo inacessíveis, permitem que o VII de Portugal tenha um foco ajustado no apuramento. Subindo a escada degrau-a-degrau, sem desfalecimentos, distraões ou julgamentos precipitados. Com confiança, abnegação, espírito de equipa. Uma dura prova, um desafio de campeões. Boa sorte!

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