Há quase um século que o Benfica não sabia o que era perder um treinador para o Sporting

Antes de Jorge Jesus, só o inglês Arthur John se mudou directamente da Luz para Alvalade. Há outros casos de treinadores que fizeram o mesmo caminho — todos sem sucesso.

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Jorge Jesus diz adeus ao Benfica após seis temporadas e três títulos de campeão nacional na Luz AFP/CARLOS COSTA

É preciso recuar quase um século, mais precisamente aos anos de 1930 do século passado, para encontrar o único caso de um treinador que se mudou directamente do Benfica para o Sporting, um passo que Jorge Jesus estará na iminência de repetir.

O seu nome era Arthur John e poucos se lembrarão dele, mas a sua história tem algumas semelhanças com a do actual técnico de 60 anos. O treinador inglês chegou ao Benfica em 1929 e saiu directamente para o Sporting em 1931 após conquistar dois títulos consecutivos no antigo Campeonato de Portugal, dando assim aos “encarnados” os primeiros troféus nacionais da sua história. É também na condição de bicampeão que Jorge Jesus ruma a Alvalade, naquele que é o mais recente capítulo na longa novela de “traições” entre os eternos rivais da capital. Uma curiosidade história: Arthur John saiu para o Sporting a troco de 16 contos, muito longe dos milhões que se diz que Jesus irá receber por três épocas ao serviço dos “leões”.

Na longa história de rivalidade entre os dois clubes há mais casos de antigos treinadores do Benfica que mais tarde vieram a orientar o Sporting, mas todos com passagens por outros emblemas pelo meio — e todos sem sucesso no clube de Alvalade.

O primeiro foi o brasileiro Otto Glória, que orientou os “leões” nas épocas de 1960/61, 1961/62 e 1965/66, depois de ter estado cinco anos no Benfica (entre 1954 e 1959, para depois regressar entre 1968 e 1970). Ao serviço dos “encarnados”, Glória venceu três campeonatos nacionais e seis Taças de Portugal, um histórico que não conseguiu repetir no rival da 2.ª Circular (apenas uma Taça de Portugal).

Seguiu-se Fernando Riera, campeão pela primeira vez no Benfica em 1962/63 e bicampeão em 1966/67 e 1967/68. O chileno passou depois pelo FC Porto e chegou ao Sporting na época de 1974/75, onde viria a perdeu o título de campeão nacional precisamente para os rivais da Luz.

Ainda na década de 1970, também o britânico Jimmy Hagan orientou os dois clubes, primeiro o Benfica (a quem deu três campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal) e depois, também sem sucesso, o Sporting. Seguiu-se o jugoslavo Milorad Pavic, campeão nacional pelo Benfica em 1974/75 e terceiro classificado no Sporting, que treinou quatro anos mais tarde e durante apenas uma época.

É preciso dar um longo salto na história para encontrar mais dois casos de treinadores, ambos portugueses, que habitaram os dois lados da 2.ª Circular.

Jesualdo Ferreira treinou o Benfica em 2001/02, ano em que Sporting foi campeão. No FC Porto tornou-se depois no primeiro treinador português a celebrar três títulos nacionais consecutivos e chegaria ao Sporting em 2012/13, numa época para esquecer — o Sporting foi 7.º, a pior classificação da sua história — em que foi um dos quatro técnicos a passar nessa temporada pelos “leões”.

O actual seleccionador nacional, Fernando Santos, fez o percurso inverso, tendo primeiro orientado o Sporting em 2003/04 e chegado ao Benfica em 2006/07. O treinador que fez história no FC Porto ao sagrar-se pentacampeão nacional não teve, contudo, grande sucesso aos comandos dos dois clubes de Lisboa.

Mas nem só de transferências de treinadores se faz a história de “traições” entre os dois clubes. No célebre “Verão quente” de 1993, era Sousa Cintra presidente dos “leões” e com o Benfica mergulhado numa das maiores crises da sua história, o Sporting desviou Paulo Sousa e Pacheco do Benfica e por pouco não conseguiu o mesmo com João Vieira Pinto. Nessa época, contudo, e com Toni a treinador, seria o Benfica a sagrar-se campeão nacional. 

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