Passos Coelho critica caminho "ilusório" do PS

Primeiro-ministro visitou a Madeira e Porto Santo, com uma agenda que teve um cheirinho a campanha eleitoral.

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Passos Coelho: a liquidação “é sempre a pior solução e foi evitada” daniel rocha

Na véspera da apresentação das linhas programáticas da coligação PSD/CDS, Passos Coelho antevê que haja “diferenças assinaláveis” entre as propostas da maioria marcadas pela prudência e estabilidade e as do PS que considerou ser um caminho "ilusório".

“Muito me surpreenderia que não houvesse diferenças assinaláveis”, começou por dizer aos jornalistas o primeiro-ministro, no final de uma visita oficial de dois dias à Madeira, num hotel em Porto Santo. A linha do programa dos partidos da maioria não se baseia na “antecipação de rendimentos”, mas sim na “atracção de investimento e melhoria do desemprego para resultar em maiores rendimentos das famílias”. Passos Coelho assinalou as propostas do PS como um caminho "ilusório" em contraste com o da maioria que é de recuperação económica “prudente e segura”. Foi o recado deixado por Passos Coelho no final de um dia preenchido em que visitou uma empresa tecnológica, uma instituição social, uma exploração agrícola e até andou num autocarro descapotável.

À chegada a Porto Santo, sempre com o chefe do Governo Regional Miguel Albuquerque como anfitrião, o primeiro-ministro cumprimentou populares na rua, falou com crianças e foi até ao encontro de alguns manifestantes que exibiam uma faixa com “isolamento não” e repetiram estas palavras de ordem. Francisco Oliveira, do Movimento Somos Porto Santo, reivindicou que os apoios anunciados na segunda-feira para os madeirenses fossem estendidos a Porto Santo e pediu que as passagens aéreas para Lisboa fossem em “bilhete corrido” para isentar os porto-santenses de pagar a viagem para o Funchal, ficando apenas com a taxa aeroportuária. Passos Coelho deu, pelo menos, a garantia de que os apoios também são válidos para o Porto Santo e deixou o compromisso de acompanhar as ofertas das companhias aéreas. Foi uma troca de palavras em clima ameno. No final do protesto, uma das manifestantes dirigiu-se a um dos polícias que estava por perto,  de mão estendida: “Senhor guarda, somos amigos”. O interlocutor respondeu: “Tudo bem. Não me posso é manifestar”.

A jornada de pré-campanha começou cedo numa empresa de gestão de plataformas on-line, que tem 62 mil clientes e está improvavelmente situada na pequena localidade de Ribeira Brava. Depois de visitar as futuras instalações da Acin, ainda em construção, a inaugurar em Setembro próximo, Passos Coelho dirigiu-se aos trabalhadores. E foi convidado a regressar para a inauguração. “Nessa altura há campanha eleitoral, mas se isto atrasar pode ser que venha”, respondeu, ouvindo de seguida uma espécie de prognóstico do resultado eleitoral. “O senhor veio para ficar”, disse o encarregado da obra. “Esperemos que sim”, retorquiu, com um sorriso. O primeiro-ministro fez questão de saudar populares, que de uma maneira geral sorriram e alguns até pediram para tirar uma fotografia. Momentos antes, Passos Coelho assistiu à apresentação da empresa de sucesso, construído à base reinvestimento do capital. O curioso é que tanto o primeiro-ministro como o ministro da Economia, Pires de Lima, sugeriram que a empresa recorresse a financiamento para começar a sério a internacionalização. Para quando voltar a visitar a empresa, “tudo estar diferente”, argumentou. “Oxalá que não, senhor primeiro-ministro”, respondeu o director da Acin, surpreendendo a comitiva. Sem bandeiras ou cantigas da jota, a comitiva seguiu depois para uma das maiores explorações agrícolas da Madeira, em Santana, em que mais uma vez o primeiro-ministro aproveitou para falar da importância de olhar para os mercados externos.

Medidas anunciadas souberam a pouco
A visita de Passos Coelho à Madeira "soube a pouco", tanto para o PS como para o Juntos Pelo Povo (JPP).

Os socialistas acusam o primeiro-ministro ter transformado uma visita institucional, em campanha eleitoral, desvalorizando as medidas anunciadas. “É oportunismo eleitoral do Governo apresentar como manifestação de solidariedade a transferência dos 43 milhões de euros do Fundo de Coesão, quando estas verbas já estão previstas na Lei de Finanças Regionais, mas tinham sido congeladas por Lisboa”, apontou o líder do PS-Madeira, Carlos Pereira.

Também o JPP olha para a visita como uma “campanha eleitoral”, lamentando que “tudo tenha ficado na mesma” em relação aos impostos. “O Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) foi prorrogado, nas costas dos madeirenses”, lamenta Élvio Sousa, lembrando que a Madeira tem os impostos mais elevados do país.

Já o CDS faz um balanço “claramente positivo”, mas vai esperar pelos “resultados práticos” das medidas anunciadas.

“O que foi dito em termos de transportes aéreos vai ao encontro daquilo que defendemos desde 2008”, afirma José Manuel Rodrigues, referindo-se ao preço máximo fixado para as ligações aéreas entre Funchal e o continente.

Em relação à abertura de um concurso internacional para uma ligação marítima entre a Madeira e um porto continental, Rodrigues aplaude. “Vai contribuir para aliviar os preços praticados na Madeira.” O mesmo irá acontecer, na opinião do CDS, com a transferência dos 43 milhões de euros, que devem ser derramados na economia real, para criar emprego.

Sobre o novo hospital, um compromisso de todos os partidos na Madeira, e a redução dos juros da dívida, o CDS compreende o adiamento para a próxima legislatura. “Os valores envolvidos são elevados, e não fazia sentido este Governo assumir esse compromisso.”

Os socialistas não concordam, e fazem o contraponto com a TAP. “O governo está empenhado em privatizar a TAP antes do mandato terminar mas no que respeita ao novo hospital, sacode a água do capote para o próximo governo”, conclui Carlos Pereira. com Márcio Berenguer

 

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