Vale a pena sair e vale a pena voltar

As novas gerações devem criar o seu próprio futuro, construir as suas próprias empresas, aplicar as suas próprias filosofias, seguir o seu próprio caminho

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Marcelo del Pozo/Reuters

Há quem saia, amuado e revoltado. Há quem fique, resmungão e queixoso. Há quem saia com um projeto. E há quem fique, esperançoso. Mas também há quem saia e volte. Para começar, nós jovens, se assim o decidirmos, devemos sair pelas boas razões. Não porque estamos amuados com o nosso país, porque nada funciona como gostaríamos, porque ninguém nos dá emprego, porque nos pagam mal. Em nenhum momento se inclui nestas razões uma visão pessoal de crescimento ou um sentido de missão para com qualquer comunidade. Para sair, o melhor é sair como deve ser.

Com um projeto construtivo, uma visão para o nosso futuro, vontade de aprender, de ver novos mundos e realidades. E para os mais patriotas que não sucumbam aos prazeres do queixume e da imobilidade, com o objetivo de regressar e tomar em mãos a luta por um país melhor do que aquele que deixaram. Nem que seja nas pequenas coisas, na área de cada um. Muitos se divertem a fazer listas — intermináveis e rancorosas — de todas as razões para abandonar este país e não regressar mais. Em geral, quanto mais revoltados os argumentos, piores as razões. Os jovens não devem estar tão preocupados com o lugar onde vão encontrar o melhor emprego, o melhor salário, as melhores condições. A verdadeira ocupação dos jovens, numa sociedade onde são pouco ouvidos, deve ser a iniciativa.

As novas gerações devem criar o seu próprio futuro, construir as suas próprias empresas, aplicar as suas próprias filosofias, seguir o seu próprio caminho. E o melhor é fazê-lo com os seus valores de abertura, tolerância e modéstia, rejeitando a ganância, os formalismos que desumanizam as dinâmicas e as relações no mundo do trabalho, a ostentação e todas as armadilhas que vimos as gerações anteriores “cair que nem patinhos”. Só sai revoltado quem procura estabilidade. Mas não estamos em tempos disso. Estamos em tempos de reconstrução. E se não houvesse esse tempo, nenhuma estabilidade seria possível mais tarde. Quanto mais acharmos que o nosso país não vale a pena, menos lutamos por ele, menos iniciativas tomamos, e pior o país fica. E neste ciclo vicioso, improdutivo e algo cobarde, abrem-se de novo caminhos psicológicos e mentalidades geradoras de crises. A verdade é que quando se regressa a Portugal, encontra-se um país em mudança, uma economia mais jovem e mais inovadora, com maior ambição de criar forças económicas com impacto internacional. Falta emprego, sim, sem dúvida. Mas não faltam oportunidades para criar esse emprego.

Falta um bom sistema social, sem dúvida. Mas apanhámos o melhor momento para pensar e propor novos modelos. Por mais contraditório que possa parecer, problemas por resolver é, neste momento, a maior fonte de riqueza do nosso país, por ser também a sua maior fonte de oportunidades. Voltar é querer participar de um movimento que não espera, mas faz. Jovens criadores e pró-ativos que se dedicam a construir o futuro. Que volte a Portugal quem quer lutar por algo mais profundo do que um simples emprego garantido e um salário que dê para comer. Voltar é bom porque se saiu, se cresceu, se ganhou estofo para a luta. Se quiserem sair, saiam. Mas não saiam como o menino que amuou porque não teve o brinquedo que esperava. Saiam para aprender a fazer brinquedos, pois por cá encontrarão todas as ferramentas e o material de que precisam. E verão que, no final, aprende-se tanto ao regressar quanto se aprendeu ao partir.

Vale a pena sair. Vale a pena voltar.

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