Porque é que não há esperança para Portugal – parte II

Não há esperança porque o país é composto por um povo absolutamente incapaz de autocrítica e de rir-se de si próprio

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Rafael Marchante/Reuters

Não tendo eu estado à espera de um "feedback" tão extenso e positivo a um texto da minha autoria aqui publicado recentemente, decido agora dar-lhe continuidade. Para Portugal não há esperança. Não há esperança porque o português, enquanto unidade de uma cultura nacional, é invejoso. Tem inveja daqueles que, por mérito, partem das mesmas condições em que ele se encontra, mas cujo almejo exige um esforço de desembaraço que ultrapassa o limite da sua inércia. Já inveja não tem dos que o encimam nos estratos hierárquicos sociais por privilégio de nascença ou por corrupção ("chico-espertice", em vernáculo). Porque são como ele, inertes.

Para Portugal não há esperança. Não há esperança porque os partidos de esquerda, os únicos, por mais que o português creia o contrário, imbuídos dos mitos salazaristas, cuja política visa os interesses do povo, são de uma indulgência, compaixão e magnificência terrivelmente malsãs para com um povo de qualidades por eles mesmos idealizadas mas que não existem.

Para Portugal não há esperança. Não há esperança porque o país é composto por um povo absolutamente incapaz de autocrítica e de rir-se de si próprio — duas características essenciais que baseiam uma psicologia voltada para a construção individual e o esforço de alguém pela melhoria contínua enquanto ser humano.

Para Portugal não há esperança. Não há esperança porque os portugueses preferem a apresentação ao conteúdo de quem que intervém publicamente. Preferem o "ethos" ao logos. Este vem complementar um outro ponto que já havia referido na primeira crónica, mas que reforço com a observação de que o essencial para o português é que a pessoa em causa seja mediaticamente reconhecida.

Para Portugal não há esperança. Não há esperança porque o português é irredutivelmente incapaz de admitir que é ignorante. Também, por isso, é que é comum que, enquanto aluno, tenha vergonha de apresentar dúvidas aos professores perante os outros colegas, visto que mais importante do que dispor-se a aprender é fazer-se parecer sabedor, tanto no silêncio e na ignorância, como na prepotência verborreica com que se exprime publicamente sobre qualquer assunto. Algo que é diametralmente oposto à estupidez, com a qual o português confunde a ignorância, preferindo reproduzir o que ouve ou lê ou articular irrefletidamente a primeira coisa que lhe assome à mente. Ao português falta a humildade de um verdadeiro sabedor para dizer: “Não sei”.

E, entre o português, vai-se arrastando pela permissividade e pelos brandos costumes uma doença que ninguém vê, que ninguém muito menos quer curar, por ninguém saber, querer ou ousar diagnosticar: a do ensimesmamento orgulhoso. Doença essa para a qual todos os sinais e sintomas apontados ao longo destes dois textos concorrem e que prostram o português na mais profunda inabilidade para mudar ou para se dispor a aprender e a receber ajuda.

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