Violência no Burundi já levou mais de 72 mil a fugirem para países vizinhos

A maior parte dos refugiados são mulheres e crianças, segundo a Unicef. Manifestações contra a recandidatura do Presidente Nkurunziza são diárias. Mais de 30 mortos no último mês.

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Mais uma manifestação, esta sexta-feira, contra um terceiro mandato de Nkurunziza Goran Tomasevic/ REUTERS

O medo e violência que se instalaram nas últimas semanas no Burundi, com a contestação de rua ao Presidente Pierre Nkurunziza e a resposta policial, estão a criar uma crise de refugiados na região dos Grandes Lagos. O número dos que, desde o início de Abril, procuraram asilo na República Democrática do Congo, no Ruanda, na Tanzânia e no Uganda, ultrapassa os 72 mil, alertou a Unicef.

A maior parte desses refugiados são mulheres e crianças, segundo o ponto de situação feito pela agência das Nações Unidas para a infância. A organização alerta também para os problemas humanitários na capital, Bujumbura, especialmente nos bairros onde a contestação e os confrontos mais se têm feito sentir.

A Unicef está particularmente preocupada com as violações dos direitos das crianças, sistematicamente presentes em manifestações – cinco foram já mortas a tiro e outras sofreram ferimentos por balas ou gás lacrimogéneo. Muitas escolas da capital estão encerradas.

As manifestações diárias contra a recandidatura de Nkurunziza e a resposta policial, que provocaram a morte de mais de 30 pessoas no último mês, criaram um clima de medo e incerteza que levou 72.681 pessoas – números contabilizados até quarta-feira pela Unicef – a fugirem do país.

Nesta sexta-feira, após uma noite pontuada por rajadas de armas automáticas, segundo a AFP, os protestos e os disparos da polícia, para o ar e por vezes na direcção dos manifestantes, voltaram a vários bairros da capital.  

A crise política no Burundi acentuou-se a 26 de Abril, depois de Nkurunziza, Presidente desde 2005, ter anunciado a intenção de concorrer a um terceiro mandato, o que é considerado inconstitucional pelos adversários políticos.

Para 5 de Junho estão marcadas eleições legislativas e comunais, já adiadas por dez dias devido à pressão internacional. As presidenciais estão previstas para 26 de Junho. A oposição considera “impossível” realizar eleições devido à “desordem” e à insegurança e fala numa “previsível guerra civil”.

A Igreja Católica, influente no país, pôs-se esta semana à margem do processo eleitoral e a União Europeia suspendeu a sua missão de observação, por considerar que não estão criadas condições para eleições credíveis.

No domingo realiza-se uma cimeira regional sobre a crise no Burundi, em Dar es Salaam. Na altura em que decorreu um primeiro encontro entre países vizinhos para discutir o problema, a 13 de Maio, também na capital da Tanzânia, ocorreu uma fracassada tentativa de golpe de Estado para derrubar Pierre Nkurunziza.

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