A novela angolana do beijo polémico estreia-se esta noite na RTP

Canal público recebe imagens de uma Angola “modernizada e em crescimento", herdada da anterior direcção de programas, mas não tem prevista mais ficção angolana.

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Joel Kapala é interpretado por Fernando Mailoge enquanto jovem e, já em 2014, por Borges Macula (na foto) DR
<i>Jikulumessu</i> tem 120 episódios
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Jikulumessu tem 120 episódios e Kapala tem como interesse romântico Djamila, interpretada por Sandra Gomes (na foto) e, mais velha, por Heloísa Jorge DR

Três anos, duas novelas angolanas na RTP – mas Jikulumessu, que se estreia esta terça-feira às 22h40, pode não ter sucessor. Não há ainda planos para mais ficção angolana na estação pública, mas entretanto a telenovela vai ocupar um lugar no horário nobre durante 120 episódios – e com a polémica do beijo entre dois homens que levou à suspensão temporária da transmissão da novela em Fevereiro em Angola. Algo inerente às “primeiras vezes”, defende o seu realizador, o português Sérgio Graciano, seja no Brasil, em Portugal ou na Angola “modernizada e em crescimento” que quer devolver aos portugueses.

Jikulumessu, nome na língua kimbundu que significa Abre o Olho, é uma história centrada em dois momentos da vida de um jovem angolano, Joel Kapala (interpretado por Fernando Mailoge e, mais tarde, por Borges Macula), que é vítima de bullying na escola, perde a mãe e, anos mais tarde, regressa de Nova Iorque a Luanda para se vingar dos seus agressores. Jikulumessu é mais uma aproximação entre os dois países, acredita Sérgio Graciano, e foi pensada exactamente para “exportar”. “Ousámos um pouco mais na parte artística”, explica ao telefone ao PÚBLICO, elogiando o elenco que espelha “um produto feito para os angolanos” mas que também mostra uma nova Angola.

“Faz parte da nossa história, mas a imagem que temos de Angola é de há 20, 30 anos”, reflecte Sérgio Graciano, que quis “renovar a imagem de Angola e de Luanda como uma cidade cosmopolita” – “uma responsabilidade muito grande”, ilustrando um país que muitos “não vão reconhecer. Desde que acabou a guerra é um país que está a tentar caminhar para um novo sítio e as diferenças devem ser suficientes para despertar a curiosidade”.

Produzida pela Semba Comunicação, que está ligada à família do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, estreou-se no início do ano na televisão angolana (TPA) - que transmitiu o último capítulo em Abril - e foi também exibida na televisão por subscrição portuguesa através da TPA internacional. A novela, que a RTP estreia esta terça-feira apesar da posição crítica do novo administrador para os conteúdos, Nuno Artur Silva, quanto ao que já chamava no passado a “monocultura da telenovela” e à qual ainda há dias se referiu como "domínio eucaliptal das novelas", é então fruto de um compromisso prévio da antiga direcção da estação pública.

O novo director de programas da RTP, Daniel Deusdado, explica ao PÚBLICO por email que Jikulumessu vai estar no ar até Novembro e reitera que a telenovela “tem imagens e um contexto natural e social angolano que serão novidade para muitos espectadores portugueses. Creio que vai atravessar bem o Verão e fidelizar público que gosta de histórias fora do mainstream existente nos outros canais”, contextualiza. Enquadra a sucessora de Windeck – estreada nas tardes da RTP1 em Abril de 2013 e nomeada para os Emmy - como “um conteúdo alternativo, lusófono e representativo da capacidade de produção nacional e angolana”.

Ainda assim, ainda não há sequência prevista para estes laços africanos. Como explicou ao PÚBLICO o director de conteúdos da estação pública, “neste momento não temos nenhum projecto novo a ser pensado com ficção angolana”.

Sérgio Graciano, realizador da novela Laços de Sangue, pela qual venceu um Emmy, do filme Njinga Rainha de Angola e de várias séries portuguesas de sucesso – Conta-me Como Foi, Liberdade 21 ou Maternidade -, está orgulhoso de um produto que agora chega à RTP num horário que considera ser sinónimo de “reconhecimento de qualidade”. O beijo gay vai passar em Portugal, “claro”, e a suspensão da novela em Angola durou três dias, diz, mas também originou muita “pressão” do público para que voltasse. “A sociedade angolana é conservadora”, reconhece, mas a polémica que levou o criador da novela, Coréon Dú (filho de José Eduardo dos Santos) a falar em “censura” podia ter acontecido em qualquer outro país, acredita. 

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