O silêncio de Suu Kyi sobre os rohingya é uma decisão eleitoral

Nobel da Paz birmanesa é criticada pelo seu silêncio sobre a perseguição dos rohingya. O consenso é o de que Suu Kyi não quer perder votos.

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A Nobel da Paz já foi criticada no passado por não se ter pronunciado sobre os confrontos étnicos de 2012 Pornchai Kittwongsakul / AFP

A crise da migração no Sudeste asiático voltou de novo a atenção da comunidade internacional para a opressão dos rohingya na Birmânia, “os refugiados mais perseguidos do mundo”, nas palavras das Nações Unidas. Mas há um silêncio estridente por entre os apelos para o fim da violência étnica sobre esta minoria muçulmana: Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991 e histórica defensora dos direitos humanos e políticos na Birmânia.

Suu Kyi foi já criticada no passado pelo seu silêncio no tema da perseguição dos rohingya. Em 2012, quando explodiram na Birmânia violentos confrontos étnicos entre a maioria budista e os rohingya, Suu Kyi disse que não iria prestar declarações porque receava alimentar a violência. Porém, o seu silêncio de então, como o seu silêncio agora, está a ser interpretado como uma jogada eleitoral.

A Nobel da Paz é também líder da oposição e candidata presidencial às eleições de 2016. E na Birmânia, em que cerca de 90% da população é budista, a causa rohingya é consensualmente impopular. Mesmo não se pronunciando sobre a minoria muçulmana, há sectores nacionalistas que apelidaram Suu Kyi como a “amante dos muçulmanos”.

As únicas declarações sobre o êxodo dos rohingya da Liga Nacional para a Democracia, o partido de Suu Kyi, foram feitas pelo seu porta-voz. “Vejo-os apenas como humanos que têm direito a direitos civis”, disse Nyan Win. Mas nada vindo de Suu Kyi.

“Num genocídio, o silêncio é cumplicidade, e também o é com Aung San Suu Kyi”, escreveu Penny Green no diário britânico Telegraph.

Na segunda-feira, o jornalista britânico Mehdi Hasan escrevia no site da Al-Jazira que era preciso encarar a Nobel da Paz pelo que ela é: "Uma antiga prisioneira de consciência, sim, mas agora uma política cínica que está disposta a pôr votos à frente de princípios; avanço partidário à frente de vidas rohingya inocentes.” 

 

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